Paula Bento Gonçalves quer abrir a escola à comunidade e empresas da Castanheira do Ribatejo

Paula Bento Gonçalves é a nova directora do Agrupamento de Escolas Dom António de Ataíde de Castanheira do Ribatejo, responsável por mais de mil alunos. Professora de Inglês e curiosa por natureza, assume a direcção com o objectivo de abrir a escola à comunidade, comunicar melhor e fomentar parcerias com empresas da região.
Pela terceira vez consecutiva, o Agrupamento de Escolas Dom António de Ataíde de Castanheira do Ribatejo vai ser liderado por uma mulher. Paula Bento Gonçalves tomou posse no final de Julho como directora do agrupamento, sucedendo a Carla Ferro e Helena Pereira. Confessa-se uma mulher directa, honesta e com opinião, não tendo medo de a defender. Exemplo disso é o que pensa sobre a intenção do Governo de proibir o uso do telemóvel nas aulas já a partir do próximo ano lectivo. No seu entender, de nada vale uma revolução tecnológica que exclua as escolas. “Se temos uma ferramenta ao nosso dispor, é um contrassenso proibi-la”, critica. Para a responsável, a solução é estabelecer regras. “O telefone é para trabalhar, não é para enviar mensagens no Whatsapp durante a aula, mas não acredito que seja proibindo ou escondendo os telefones que as coisas vão mudar nas escolas”, opina. Para Paula Gonçalves, o importante é criar estratégias e novas actividades para desafiar os alunos, de forma a que eles não queiram estar a olhar para os ecrãs.
Para a professora de inglês, a integridade, empatia, respeito pelo próximo e honestidade são valores fundamentais de vida. Não acredita que as mulheres façam diferente dos homens naquele cargo, mas admite que podem ser mais interventivas e lutadoras. “Talvez sejamos mais operacionais, temos uma determinada ideia e metemos mãos na massa para andar para a frente”, conta com um sorriso a O MIRANTE. Paula Gonçalves lidera agora um agrupamento com alunos do pré-escolar ao 9º ano, totalizando 1.030 alunos. Entre os principais objectivos para os próximos quatro anos está abrir as portas da escola à comunidade e concretizar parcerias com empresas e entidades da zona que possam vir a permitir aos alunos ter um maior contacto com o tecido social e económico do concelho. “A pandemia fechou tudo e a escola fechou-se dentro de si. Queremos voltar atrás. Quero abrir a escola à comunidade e trazê-la para cá”, refere a responsável.
Nascida em Lisboa, viveu a maior parte da vida em Alverca do Ribatejo, até se casar e mudar para Alhandra. Começou a dar aulas em 1996 e ingressou no quadro do agrupamento de Castanheira em 2018. Ao longo da sua carreira trabalhou em 14 escolas e esteve durante muitos anos ligada ao júri nacional de exames, experiência da qual só se afastou este ano para abraçar o desafio de dirigir a escola.
Receber alunos que não sabem ler nem escrever
O agrupamento, explica, tem recebido um número crescente de alunos estrangeiros, especialmente de países africanos de língua portuguesa como São Tomé e Príncipe e Angola, além de alunos oriundos do Irão e de outras regiões do Médio Oriente, cujas famílias se instalaram na zona para trabalhar na logística e na agricultura. “Temos mais de 30 alunos com português como língua não materna”, revela, lembrando que a maior dificuldade é lidar com alunos que nem sequer sabem ler nem escrever. Para dar resposta a este desafio, o agrupamento criou o projecto “All-In”, que visa alfabetizar estes alunos e criar rotinas de estudo e trabalho, apesar da responsável reconhecer que há “limitações de trabalho e integração” destes menores.
Paula Gonçalves revela que quando era jovem não planeava ser professora. “A minha mãe era professora do primeiro ciclo e o meu pai trabalhava na TAP. Eu queria ser hospedeira, cheguei a ir aos testes e a um concurso mas não fiquei”, recorda. Acabou por seguir Línguas e Humanidades, estudando Inglês e Alemão. Nas salas de aula acabou por encontrar a sua verdadeira vocação. Ser professor, diz, exige muita curiosidade e adaptação. “Ser professor hoje não é a mesma coisa que quando eu era aluna. Hoje os jovens aprendem melhor fazendo. A ideia de um professor estar a dar uma aula para uma plateia não resulta nos dias de hoje. Ao fim de cinco minutos os alunos já não nos estão a ouvir. Se os envolvermos na aprendizagem, estimulando a curiosidade, aprendendo fazendo, conseguimos a sua atenção”, defende.
Irrita-se profundamente com a desonestidade e considera-se uma pessoa de soluções. Sobre o futuro da profissão mostra-se preocupada, vendo o futuro da profissão muito tremido. “Percebo o que estão a tentar fazer para tornar a profissão mais aliciante, mas é algo que vai demorar muito tempo. Não somos meros veículos de comunicação de conhecimento. A parte pedagógica é essencial. Um bom professor pode mudar para sempre a vida de um aluno”, defende.
Por fim, a directora fala da sua ligação a Alhandra, terra onde gosta de viver. Considera que o concelho de Vila Franca de Xira tem boa qualidade de vida. “Há sempre quem não concorde, mas temos boas escolas, apoio social, alguma qualidade de vida e espaços verdes com parques desportivos. Temos formas de, estando na cidade, ocupar os tempos livres. A maior dificuldade é a mesma de qualquer zona urbana: não temos os centros de saúde a funcionar bem e temos o trânsito muito complicado, mas é um concelho agradável para viver”, conclui.
Escola precisa de reparações
A O MIRANTE a responsável admite que a escola precisa de pequenas reparações e de um reforço da rede de internet. O edifício, de 2001, precisa com urgência de uma nova pintura e reparações nas caleiras que acabem com algumas infiltrações. Reconhece que ainda há alunos sem computador e que a infraestrutura tecnológica da escola não aguenta o funcionamento de uma turma inteira com acesso à internet. “É um caminho que temos de melhorar”, admite.
Necessita também de uma nova sala para o centro de apoio à aprendizagem, uma unidade multideficiência que ali existe. E também faltam mais recursos humanos. “Temos excelentes assistentes operacionais que dão 110% de si, mas precisávamos de mais”, lamenta.