Imagem turística do Ribatejo já não passa só pelo campino; vamos apoiar o primeiro congresso José Saramago na Azinhaga

José Manuel Santos está a meio do primeiro mandato à frente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo e já se nota uma dinâmica turística diferente na área da Lezíria do Tejo, com os números a comprovarem a aposta na promoção e na criação de produtos específicos. Desde que tomou posse houve mais 50 mil turistas a dormirem nos 11 municípios da Lezíria do Tejo. Numa visão mais modernista está-se a apostar numa nova imagem desta sub-região mais virada para a natureza e menos no campino, no toiro e no cavalo, que já não cativam tanto o interesse e ideais dos turistas modernos.
Os desafios que o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERTAR) vai ter que enfrentar nos próximos anos passam por estruturar melhor os produtos, atrair investidores, apostar em hotéis com características superiores numa região onde não há um hotel de cinco estrelas. Há uma aposta ganha no enoturismo, que já é uma grande porta de entrada de estrangeiros na região e o turismo literário é um potencial que vai trazer mais turistas e de outro tipo. Mas é preciso ainda dar um passo na afirmação do Ribatejo como o próximo destino turístico de Portugal. E para isso é preciso que as entidades privadas acompanhem à mesma velocidade o caminho que está a ser feito na promoção deste território, que se está a autonomizar em relação ao Alentejo. O que não acontece em relação à divulgação internacional porque a Agência Nacional de Promoção Turística não tem por exemplo um único restaurante ou enoturismo, associados. Uma situação de alheamento que José Manuel Santos quer inverter, porque se organizar uma visita de jornalistas estrangeiros ao Ribatejo não os vai alojar noutra zona nem levá-los a restaurantes no Alentejo ou em Lisboa.
O que é que mudou em relação à gestão anterior? A primeira mudança foi a autonomização do marketing do turismo no Ribatejo, uma vez que os dois destinos não estavam diferenciados, apesar de haver pontos de contacto entre a oferta das duas regiões. Estas têm produtos comuns, mas têm diferenças. Estamos a meio do mandato. Quando começámos a promover o Ribatejo de uma forma autónoma, com campanhas promocionais, na Bolsa de Turismo de Lisboa, o Ribatejo teve uma área própria e este ano foi o destino convidado.
Na prática, no terreno, há alguma diferença? Quais são os ganhos dessa estratégia? Não gosto muito de associar o desempenho turístico e estatístico dos destinos ao trabalho das entidades públicas. Não gosto muito de embandeirar em arco com os dados estatísticos, mas nestes últimos dois anos houve um aumento de 50 mil dormidas na Lezíria do Tejo, que chegaram ao total de 280 mil. Entendo que esta situação é fruto do desenvolvimento gradual da região em que a acção da entidade regional de turismo acabou por ter alguma influência. Quando temos uma campanha durante 15 dias em Lisboa e colocamos em nove pontos centenas e centenas de visualizações de filmes do Ribatejo, ou quando na Bolsa de Turismo de Lisboa passamos a ter uma área só para o Ribatejo, isso deve ter algum impacto. Afirmámos o Ribatejo, procurando colocá-lo em pé de igualdade com o Alentejo. É notório que o Ribatejo tem capacidade para muito mais.
Há muito que se fala em falta de camas na região do Ribatejo. Portanto a região pode deixar de ter capacidade para acompanhar a promoção. A oferta hoteleira dos 11 concelhos da Lezíria faz-se ainda muito com hotéis de duas e três estrelas e depois no alojamento local e no turismo rural, que têm uma qualidade muito apreciável. Temos no Ribatejo excelentes projectos de alojamento local e de turismo rural, que são responsáveis por uma imagem mais moderna e mais dinâmica deste destino. Mas precisamos, de facto, de hotéis. Temos quatro hotéis de quatro estrelas. Não temos um hotel de cinco estrelas. As coisas são o que são.
O que é que é preciso para melhorar essa realidade e qual é o papel da entidade de turismo nesse sentido? Tem sido importante afirmar que há uma estratégia de desenvolvimento turístico para o Ribatejo, que a região tem uma marca. Quando se promove o Ribatejo autonomamente, passa-se uma mensagem do destino e do seu potencial para os investidores. Temos que lhe dar coerência, temos que lhe dar notoriedade e é isso que estamos a fazer. No ano passado desenvolvemos os roteiros do investimento com os municípios, sobretudo em Alpiarça e Santarém. Esse trabalho foi particularmente relevante em Santarém. Elaborámos dossiers de investimento fornecendo consultadoria gratuita e a Câmara de Santarém ficou apta a receber os investidores e a dar aos promotores hoteleiros uma estimativa de valor de investimento.
Os municípios já trabalham todos em termos turísticos com o mesmo ritmo, interesse e dinâmica? Devíamos ter, de facto, um crescimento mais significativo da oferta. Mas olho para isso com alguma naturalidade. Creio que neste momento há dinâmicas de investimento neste território. A entidade de turismo tem procurado promover o Ribatejo como o próximo destino turístico de Portugal, porque os investidores funcionam muito por modas, do tipo qual é o destino que agora está a dar? Onde é que está a crescer? Onde é que tenho a novidade? Que os mercados são cada vez mais competitivos? Ainda este ano, em Novembro, vamos ter uma grande acção de promoção do Ribatejo na Área Metropolitana Lisboa, para promover a região, quer junto do cliente final, quer junto dos operadores turísticos.
O desenvolvimento turístico da região passa por apostar sobretudo em mais produtos específicos? Temos uma estratégia de desenvolvimento do enoturismo no Ribatejo e o projecto da Nacional 118 é prioritário, implicando um primeiro financiamento de 85 mil euros, sobretudo para que se possa melhorar a capacidade de promoção desse produto. São 150 quilómetros de uma rota que começa no Médio Tejo e que reúne cerca de 14 produtores. Outro projecto, ainda que seja transversal ao Alentejo, que está a ser desenvolvido com a Câmara de Coruche, é a criação de experiências turísticas à volta do montado. Também iremos assumir a promoção turística do destino Serra de Aire e Candeeiros, um projecto que vai ser candidatado ao Turismo de Portugal. Queremos diversificar a oferta do turismo industrial, que é um produto que aqui no Ribatejo tem oito entidades, diversificando a ideia para o arroz em Benavente, e a cortiça, em Coruche. Temos um objectivo de, a médio prazo, conseguirmos fazer aqui um festival de percursos pedestres, como fazemos no Alentejo.
A imagem do Ribatejo vai continuar a ser o cavalo, o campino, o toiro? Temos um desafio para os próximos dois anos. À medida que vamos tendo mais produtos estruturados, produzimos novos materiais de divulgação e de promoção do Ribatejo. De facto, há uma lacuna grande que é o banco de imagens. Precisamos de renovar o catálogo de imagens do Ribatejo. O cavalo, o campino, o toiro são elementos importantes da oferta, mas já não são os centrais. Na bolsa de turismo deste ano isso foi visível ao apresentarmos uma imagem muito ligada à natureza, à sustentabilidade.
O aproveitamento turístico do Tejo que não depende só da entidade regional e o potencial do turismo literário
O Tejo é que continua a ser um parente pobre do turismo… Nesta segunda parte do mandato vamos atacar esse problema. Mas isso depende muito também das autarquias e de outros organismos que têm que intervir. Gerimos o destino, mas praticamente não decidimos nada. Não decidimos no ordenamento do território, não decidimos no licenciamento, não decidimos nas infra-estruturas, não decidimos na mobilidade. É um papel muito ingrato. O nosso trabalho é muito de voluntarismo, mas é preciso liderança e é preciso afirmar aquilo que entendemos que é melhor para o destino.
O projecto de turismo literário está a avançar? Estamos a criar uma rede de hotéis literários no Ribatejo e no Alentejo. É um projecto pioneiro em Portugal. Em Novembro vamos apoiar o primeiro congresso de José Saramago na Azinhaga, numa iniciativa de universidades brasileiras e portuguesas. O Ribatejo tem um potencial para o turismo literário que ainda não está minimamente explorado.
A promoção internacional desta região já funciona melhor? Desde Abril sou também presidente da Agência Nacional de Promoção Turística e deparei-me com uma situação que não me surpreendeu totalmente. A agência é uma associação empresarial, uma associação privada, e neste território não tem um restaurante associado, não tem um enoturismo associado, que hoje é um vector determinante para a entrada de turistas estrangeiros na Lezíria.
Mas isso é impeditivo de fazer a promoção internacional? Não é impeditivo, mas limita muito. A última visita com operadores turísticos ou imprensa que foi feita neste território foi em 2023. Há operadores desta região que têm participado em iniciativas comerciais lá fora, mas de uma forma que não é integrada. A agência tem que vir ao Ribatejo e tem de ser capaz de explicar às empresas as vantagens de serem associadas. Temos de explicar aos projectos de enoturismo, aos hotéis da Lezíria, que têm apoio público para poderem desenvolver campanhas e promoção. Se a agência quiser organizar uma visita de jornalistas internacionais a este território não tenho um restaurante associado. Onde é que as pessoas vão comer? Não vos vou levar a comer no Alentejo, nem em Lisboa. Têm que comer aqui na região que se pretende promover. Tenho que trabalhar com os associados e só tenho três alojamentos locais e um hotel rural associados.
Quais são os grandes desafios que quer enfrentar nos próximos tempos? Temos que alargar o produto, temos que organizá-lo melhor. Os portugueses têm uma afinidade grande com o Ribatejo e este é um destino que tem uma entidade muito forte. Começámos a estruturar o produto e a criar condições para que os empresários invistam. Em Novembro vamos levar os nossos empresários, a nossa oferta, aos operadores de Lisboa para se criarem programas no Ribatejo.