Entrevista | 07-12-2025 12:00

Joaquim Catalão: o presidente que quer liderar com outro estilo a Câmara de Almeirim

Joaquim Catalão: o presidente que quer liderar com outro estilo a Câmara de Almeirim
Joaquim Catalão, autarca de Almeirim, falou sobre prioridades, métodos de trabalho e desafios para os próximos anos - foto O MIRANTE

Joaquim Catalão é o terceiro presidente da Câmara de Almeirim desde as eleições livres, quando estava para abandonar a vida política após três mandatos na Junta de Freguesia de Almeirim. Já tinha tudo programado com a mulher para irem para Timor Leste executar um projecto de formação, mas a notícia de que estava a caminho uma neta mudou tudo. Ele já não tinha um motivo para dizer não ao seu antecessor, Pedro Ribeiro, que queria aquele que é um dos mais antigos militantes do PS como candidato e seu sucessor. O seu projecto é a 12 anos. Há coisas que diz que não teria feito e revela que o seu estilo de gestão é de partilha e de menos concentração de poder em si próprio, avisando que não irá a todas as iniciativas.

António Palmeiro

Ainda está a organizar a casa à sua maneira, a adaptar o funcionamento ao seu estilo de gestão, mas já se percebe que tem uma política mais virada para a partilha, para a delegação de funções de forma mais autónoma sem concentrar tudo na sua pessoa. Prova disso é o facto de o município já ter os seus canais próprios de comunicação institucional e pela primeira vez vai ter um gabinete de comunicação. Só lá para Janeiro devem começar a ser aplicadas algumas ideias no terreno, mas o estilo de Joaquim Catalão é de não sobrecarregar o pessoal da autarquia com obras que são feitas mais rapidamente pelos privados e concentrar a mão-de-obra interna na resolução atempada dos problemas que afectam os munícipes. Porque um buraco pode parecer uma coisa menor, mas pode irritar e incomodar muita gente.
Joaquim Catalão revela nesta entrevista que as suas maiores prioridades são a habitação e a economia, criando um gabinete de apoio ao investidor, que quer atrair visitantes que não venham à capital da Sopa da Pedra só pela gastronomia e que tem um novo modelo para as festas da cidade a começar por arrasar os canteiros elevados do jardim da biblioteca. O novo presidente de cerca de 22 mil habitantes quer já em Janeiro começar a marcar uma nova imagem tratando do mau aspecto dos edifícios dos paços do concelho e da zona industrial e avançando para a requalificação do mercado municipal para não estar à espera de concretizar o projecto de uma loja do cidadão prevista para um primeiro andar a construir, para o qual a câmara não tem dinheiro.

Disse que iria abandonar a vida política com tanta certeza que é caso para perguntar quem é que o obrigou a mudar de ideias? Não estava mesmo à espera desta reviravolta. O meu antecessor, Pedro Ribeiro, lançou o desafio e eu já tinha dito à minha mulher que não queria mais continuar na vida política. Tínhamos um projecto e até fui fazer uma pós-graduação a pensar nisso. O objectivo era irmos para Timor Leste onde ela integrava um programa de formação de professores e eu ia como gestor do projecto. Mas houve um desencadear de acontecimentos. Primeiro soubemos que a nossa nora estava grávida e pensámos que íamos para o outro lado do mundo e não víamos o crescimento da miúda. Por outro lado, tinha poucas possibilidades de dizer que não ao Pedro Ribeiro, até pelo facto de ser dos militantes mais antigos neste momento.
Teve que prometer alguma coisa de especial à sua esposa? O que eu prometi foi que ela nos fins-de-semana me iria acompanhar. Ou seja, há um envolvimento da que faço questão. Quando andamos os dois, acho que que é mais fácil.
Vai seguir o modelo do ex-presidente de ir a todos os acontecimentos? Tenho uma obrigação com a câmara, mas também tenho para com a minha família. Em primeiro lugar está a família. Se for algo muito importante que exija a minha presença posso abdicar de algum tempo com a família para estar presente. Quero dizer com isto que não vou fazer aquilo que o Pedro Ribeiro fez. A ideia é envolver também os vereadores. É preferível distribuir a representação do município pelos vereadores para não andarmos a correr de um lado para o outro e acabarmos por nem estar num lado nem noutro.
Qual é a diferença deste novo ciclo político? Tenho uma forma de gerir que passa por envolver todos nas decisões, ouvindo as suas opiniões. Também há questões que falarei com as vereadoras da oposição. Porque temos de ter a noção de que não foi só o Partido Socialista que ganhou. Ganhou com maioria, mas também há muita gente que votou nos outros dois partidos.
De repente começaram a aparecer publicações da Câmara de Almeirim nas redes sociais. Há uma nova forma de comunicar? Essa é uma comunicação institucional. O presidente pode, eventualmente, fazer uma ou outra partilha, mas a câmara deve ter uma comunicação própria. Estamos a criar. Estamos a criar um gabinete de comunicação que vai trabalhar toda a comunicação da autarquia.
Candidatou-se com a perspectiva de quatro, oito ou a 12 anos? O meu projecto é a 12 anos, mas depende dos eleitores. No decorrer deste tempo é muito natural que algumas ideias sofram alterações, que apareçam outras oportunidades.
Há uma prioridade para os três mandatos que pretende fazer? Uma das prioridades é a habitação. Quero ver se consigo resolver este problema, que é transversal a todo o país. Foi deixado um terreno e um projecto, agora só falta o dinheiro, que é o mais importante. Vamos ver como conseguimos implementar esta ideia, se através de uma cooperativa, de linhas de crédito com o Governo, ou outras soluções que estamos a estudar.
Ao fim de 12 anos como espera deixar o concelho? Gostava de ter conseguido trazer pessoas para o concelho, de trazer visitantes, turistas. Isto entronca noutro projecto que é um museu municipal, um centro interpretativo da história de Almeirim, porque ao longo dos anos aquilo que havia de História foi desaparecendo. Não houve o cuidado de a preservar e Almeirim é uma terra muito rica em termos históricos. Um dos desafios que na comunidade intermunicipal lancei aos meus colegas foi deixarmos de olhar só para o nosso quintal e termos produtos conjuntos para oferecer.
Na zona dos restaurantes da Sopa da Pedra as pessoas vão continuar a esperar em passeios pequenos, no meio de carros estacionados e de trânsito? A minha ideia passa pelo corte do trânsito nessa zona, criando condições para o desenvolvimento dos restaurantes. Há um projecto com valores muito elevados para aquela zona, para o qual não há dinheiro. É extremamente importante para quem nos visita que existam condições.

As falhas na transição para o novo executivo

Sei que na transição para o seu mandato houve muitas pastas e processos que ficaram esquecidos. Como a câmara tem uma dimensão tão grande houve coisas que possivelmente o Pedro Ribeiro não deu. Não foi por maldade. Foi mesmo porque não houve oportunidade. Mas ele tem estado sempre disponível para qualquer esclarecimento e ainda hoje, se for preciso, está disponível.
O que é que pretende fazer primeiro em 2026? É prioritário intervir nas instalações municipais, como o edifício dos paços do concelho e o estaleiro da zona industrial. Vamos trabalhar para que os edifícios estejam sempre em condições com bom aspecto e reorganizar os espaços. Actualmente qualquer pessoa circula por dentro do edifício da câmara e tem acesso a todo o lado. Também queremos criar aqui condições de que esse tipo de circulação seja condicionado ao que é necessário.
Nas obras, a sua ideia é continuar a fazer algumas por administração directa em vez de entregar as empreitadas a privados? Há determinadas obras que facilmente poderão ser feitas pelo pessoal da câmara, como a requalificação de passeios e outras obras de manutenção, mas há outras que não vale a pena. Por exemplo, a circular urbana. Não vale a pena estar a fazer metade dos trabalhos com o pessoal da câmara e outra metade com privados. Isso não se justifica. Não há necessidade disso, até porque depois o tempo que o nosso pessoal anda aí a fazer esse tipo de trabalhos não fazem outros mais urgentes que afectam os munícipes. Se há um buraco num determinado sítio a situação tem de ser resolvida rapidamente porque quem tem um buraco à porta de casa quer que ele seja reparado em pouco tempo.

Joaquim Catalão detalhou mudanças em curso na autarquia e apontou caminhos para a renovação dos serviços municipais - foto O MIRANTE

O jardim que não teria feito, a nova zona industrial e uma nova dinâmica para o IVV e festas

Teria feito o arranjo da zona dos antigos celeiros da EPAC como foi feito? Aquele jardim podia ter sido feito de uma forma diferente. Se calhar criando uma ligação à zona desportiva. O espaço que existe devia estar mais voltado para o desporto.
O concelho está preparado para o crescimento económico? Temos de fazer já uma projecção para daqui a 20 anos, com uma nova zona de actividades económicas. Um dos objectivos mais imediatos é criar o Gabinete de Apoio ao Empresário e Empreendedor. O gabinete será constituído por funcionários do quadro do município. Se queremos desenvolvimento da nossa economia, temos que pensar como é que o vamos fazer e estar preparados para receber grandes investimentos como aconteceu com a base logística da Mercadona.
O que é que pretende fazer com o novo multiusos IVV? A minha ideia é que temos de atrair eventos de dimensão nacional com a câmara a criar uma dinâmica anual que tenha também influência na economia nacional. O município tem de promover eventos com alguma dimensão que possam atrair as pessoas da região. É claro que os preços dos bilhetes não podem ser a cinco euros como agora. Por exemplo, queremos dinamizar feiras relacionadas com o vinho.
As festas da cidade vão continuar nos mesmos moldes, com uma animação da prata da casa? Há queixas sobre a duração das festas e sobre as condições do espaço. As festas de 2026 serão muito daquilo que as associações quiserem. Podemos reduzir o número de dias e assim investir mais em animação, com artistas mais conhecidos. Tem de haver também uma intervenção no espaço e acabar com aqueles canteiros elevados do jardim da biblioteca, criando um espaço plano. A perspectiva é fazer isso já para as próximas festas.
O que é que vai fazer com o mercado municipal que tem um projecto enrolado há anos para um primeiro andar com uma loja do cidadão? A criação da loja do cidadão é um projecto com um valor significativo e não existindo apoios financeiros não temos capacidade para o fazer. Por isso vamos recuperar o espaço, até porque há procura para as lojas. Temos de dar vida ao espaço e criar também zonas que podem ser utilizadas para outras actividades. Fazer algo parecido com o que foi feito no mercado de Alpiarça.

Mudança na CIMLT é culpa do PS que não soube gerir situação de Salvaterra de Magos

Ficou desanimado com o facto de pela primeira vez, a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT) deixar de ser do domínio do Partido Socialista e quebrar a hegemonia de ser presidida pelo presidente da Câmara de Almeirim? É o resultado das eleições e da situação de Salvaterra de Magos que foi mal conduzida. O único culpado foi o Partido Socialista na escolha do candidato à câmara. É claro que após a campanha as partes ficaram tão extremadas e toda a gente já sabia que não havia hipótese de entendimento. A nova presidente, que saiu do PS para concorrer como independente, está a ser apoiada na câmara pelo PSD e isso reflectiu-se na escolha do presidente da Câmara de Santarém do PSD para presidir à comunidade. O João Leite tem uma forma diferente de trabalhar, mas temos de ter consciência que só trabalhando em conjunto é que podemos obter ganhos para todos.
Esta mudança acontece numa altura em que a criação da empresa intermunicipal de transportes ainda não conseguiu começar a funcionar, ultrapassando todos os prazos definidos. A Câmara de Almeirim está disposta para investir milhões numa empresa de transportes? É um investimento pesado. Eu não tinha conhecimento do processo. Aquilo que me foi comunicado nessa reunião é que a criação desta empresa teve também muito a ver com a falta de resposta dos privados. Aquilo que eu sei é que tem havido da parte dos operadores privados uma obstrução àquilo que é a vontade da comunidade de constituir essa empresa. Com uma empresa a comunidade também pode controlar melhor as carreiras, as rotas e as necessidades das populações.

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