Antibióticos não tratam gripes e constipações e é importante avaliar os sintomas das crianças e jovens
Com a chegada do frio chegam as constipações, gripes e outras infecções virais das vias aéreas superiores, normalmente benignas e passageiras. Mas é importante avaliar os sintomas para se perceber a gravidade da situação e agir atempadamente, sobretudo nos mais vulneráveis, como as crianças e idosos. A coordenadora de Pediatria do Hospital CUF Santarém, Teresa Gil Martins, explica o que fazer e a que se deve dar atenção, falando da importância da alimentação bem como de cuidados a ter para se tentar evitar o contágio e propagação.
Nesta época em que o clima está mais frio, as crianças são das mais afectadas e é necessária vigilância e atenção aos sinais, até porque o facto de se estar mais tempo em espaços fechados favorece a propagação de vírus. É fundamental que os pais e familiares reconheçam os sinais de alerta e os critérios de gravidade da febre e da tosse. Para avaliar estes tipos de sintomas e situações agudas que podem, ou não, ser motivo de preocupação, o Hospital CUF Santarém disponibiliza a Consulta do Dia de Pediatria, que permite a observação do bebé, criança ou adolescente, por um especialista, no próprio dia. A febre e a tosse são os sintomas mais frequentes e funcionam como mecanismos de defesa do organismo, perante uma infecção, mas é importante avaliar o comportamento das crianças, o seu estado geral, a temperatura corporal e a idade para se perceber a gravidade da situação.
Por que razões as gripes e constipações são mais comuns nesta altura do ano entre as crianças? As gripes e as constipações são provocadas por vírus que afectam as vias respiratórias. Estes propagam-se de indivíduo para indivíduo através do contacto com as secreções da pessoa infectada. No Inverno, as crianças permanecem mais tempo em recintos fechados e mal ventilados. A proximidade facilita o contágio e, consequentemente, a contaminação de mais pessoas.
Quais são os sintomas mais comuns das infecções das vias aéreas superiores? Os sintomas mais frequentes são a tosse, febre, congestão e corrimento nasal, espirros, olhos lacrimejantes, comichão e nariz avermelhado. Mas também se verifica a diminuição do paladar e do olfato, dor de cabeça e/ou de garganta.
Em que casos sintomas como a febre e a tosse devem ser avaliados por um médico? Quais são os critérios de gravidade? Os principais critérios de gravidade são as situações de febre que cursam com manchas na pele, calafrios, prostração, irritabilidade, convulsões, vómitos persistentes ou fraqueza, assim como os casos de tosse associada a falta de ar, cansaço, respiração débil ou irregular (especialmente nas crianças mais pequenas), e pele ou lábios arroxeados. Devem ainda ser observadas por um médico as crianças que apresentam recusa alimentar, diminuição do volume de urina, febre com duração superior a três dias, tosse irritativa, secreções nasais espessas/amareladas, ou queixas respiratórias que persistem ou se agravam.
Há alguma forma de prevenir as constipações? Como o contágio destas doenças se processa através das gotículas de saliva das pessoas doentes, a melhor forma de prevenção consiste no cumprimento das regras de etiqueta respiratória, amplamente divulgadas durante a pandemia. Essas regras são: lavar frequentemente as mãos com água e sabão, tossir ou espirrar para um lenço de papel ou para o antebraço e, no caso dos adultos, utilizar máscara na presença de outras pessoas quando se encontram doentes. Por outro lado, nunca é demais reforçar que a manutenção de hábitos de vida saudável reforça a imunidade, dos mais pequenos aos mais velhos, concorrendo para a prevenção da doença.
Em que medida a alimentação tem influência na prevenção e também na cura? De uma forma transversal, é consensual que uma alimentação saudável previne doenças e promove a saúde. De uma forma particular, durante uma gripe ou constipação, a ingestão reforçada de líquidos (água, sumos naturais, infusões e chás) atenua os sintomas e previne complicações. Para uma recuperação mais rápida, é fundamental garantir um aporte nutricional adequado à condição clínica e à idade da criança.
O consumo de alimentos ricos em vitamina C, como os citrinos, pode evitar a doença? O consumo de vitamina C pode ajudar, na medida em que contribui para fortalecer o sistema imunitário, mas não dispensa o cumprimento das regras de etiqueta respiratória. A medida mais eficaz para prevenir as formas mais graves de gripe consiste na administração anual da vacina da gripe, que é recomendada a todas as crianças com idade compreendida entre os seis meses e os cinco anos, sendo particularmente importante nos dois primeiros anos de vida. Além destas, é também recomendada a todas aquelas que sofrem de doença crónica (cardíaca, renal, pulmonar, neuromuscular ou metabólica) e às que fazem tratamentos imunossupressores, independentemente da idade.
Há alguma faixa etária em que as constipações e gripes sejam mais agressivas e porquê? As faixas etárias extremas da vida, isto é, os bebés e os idosos, têm um maior risco de desenvolver doença grave. A imaturidade e a diminuição da imunidade, que são características das crianças mais pequenas, particularmente das prematuras, aumentam a susceptibilidade às infecções e o risco de complicações. Além disso, em qualquer idade, a existência de doenças crónicas e a toma de medicamentos imunossupressores - que baixam a imunidade - são factores adicionais de vulnerabilidade, que podem comprometer a evolução de gripes e constipações.
Qual das duas, a gripe ou a constipação, exige mais cuidados e atenção e porquê? Normalmente, a gripe exige mais cuidados, porque provoca sintomas respiratórios mais exuberantes e sintomas gerais mais limitativos, como febre alta, dores musculares e articulares, falta de apetite, prostração e mal-estar de início repentino. Em crianças, a febre alta e a recusa alimentar aumentam o risco de desidratação e desnutrição, pelo que o foco principal deve incidir no reforço da ingestão de líquidos, no aporte nutricional adequado, no controlo da temperatura e dos restantes sintomas, enquanto se monitorizam permanentemente os já referidos critérios de gravidade.
Quais são os benefícios, para as famílias da região, da existência da consulta do dia de pediatria, no Hospital CUF Santarém? A consulta do dia do Hospital CUF Santarém, tal como o nome indica, não precisa de ser marcada com antecedência e destina-se a crianças com doença menos urgente, sem critérios de gravidade. Constitui uma resposta muito diferenciada ao atendimento de crianças doentes que não necessitam de intervenção imediata.
Como funciona esta consulta? Esta consulta funciona de segunda a sexta-feira e pode ser marcada no próprio dia. No Hospital CUF Santarém, existe uma equipa de pediatras com uma vasta experiência, que conta com o apoio do Laboratório de Patologia Clínica, para a realização de análises clínicas, das equipas de radiologia e imagiologia, para a rápida realização de radiografias ou outros exames de diagnóstico necessários, e de uma equipa de enfermagem que presta um apoio vocacionado e sensibilizado para os cuidados indispensáveis a esta faixa etária. Nos casos em que as crianças requerem observação urgente, apresentam complicações ou necessitam de tratamentos mais complexos, trabalhamos em estreita articulação com o Hospital CUF Descobertas, que disponibiliza o serviço de Atendimento Permanente pediátrico. A totalidade de cuidados prestados, de forma articulada, permite um atendimento seguro e de qualidade.
Em que tipo de situações as famílias podem recorrer a esta consulta? As famílias podem solicitar uma consulta sempre que surja alguma preocupação aguda relativa ao estado de saúde da sua criança, mas não se aplica a situações de emergência médica.
Que recomendações gostaria de dar aos pais e familiares de crianças e jovens para enfrentarem os problemas da gripe e constipação? As gripes e as constipações não têm tratamento específico, mas requerem alívio da sintomatologia, assim como a detecção e orientação precoce de eventuais complicações. O paracetamol continua a ser o medicamento de eleição para tratar a febre e aliviar os sintomas provocados por estes vírus. O repouso, o reforço da hidratação e um aporte nutricional adequado proporcionam uma evolução mais favorável.
O que dizer aos pais em relação aos antibióticos? É importante relembrar que os antibióticos não têm qualquer benefício no tratamento das doenças provocadas por vírus, como é o caso das gripes e das constipações. Além disso, quando são usados indevidamente, aumentam a resistência das bactérias, característica que as torna muito poderosas e intratáveis com os antibióticos disponíveis. Assim, em suma, o conhecimento dos sinais de alerta das infecções das vias aéreas superiores será determinante na procura oportuna de ajuda médica, já que o médico é o único profissional capacitado para diagnosticar, orientar e tratar criteriosamente situações de maior complexidade ou que suscitem dúvidas aos pais e familiares.


