Quando começou a ter visibilidade política a empresa de que era sócio começou a desmoronar-se. Como lidou com a situação? Foi um momento muito difícil. Fomos apanhados pela crise de 2009 que abalou todas as empresas ligadas à construção civil. Estávamos a trabalhar na área da electricidade e segurança de instalações. Trabalhávamos muito para o grupo Obriverca do ex-presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira. Éramos um comboio em grande velocidade e alguém accionou o travão de emergência e o comboio descarrilou. A empresa foi para falência e o juiz considerou que não havia culpa da parte dos sócios da Fogotejo.
E como é que reorganizou a sua vida? Tive de dar um passo atrás numa vida construída ao longo de 18 anos. Fui fazer uma pós-graduação em Higiene e Segurança no Trabalho, mas não cheguei a exercer essa actividade. O então presidente da junta, Joaquim Sampaio, ficou a meio tempo na junta de freguesia e convidou-me para ficar os últimos dois anos do seu mandato com o outro meio tempo.
De que forma a falência da empresa afectou a sua vida sobretudo a imagem pública? Teria sido fácil pedir a insolvência pessoal. Podia ter seguido esse o caminho, mas optei por arregaçar as mangas e pagar uns significativos milhares de euros de dívidas às Finanças e Segurança Social e aos bancos. Foi um caminho penoso que me marcou muito.
A eleição como presidente da junta acabou por ser uma tábua de salvação. Na altura, em 2013, estava a trabalhar com a minha esposa no centro de estudos dela. Surgiu a oportunidade de ser candidato à junta, a convite do presidente da câmara, Pedro Ribeiro. É um prazer enorme estar no terceiro mandato e só tenho a agradecer à população.
Antes de ser presidente passou cinco mandatos na sombra do presidente. Sentia-se bem nesse papel ou pensava que tinha capacidades para mais? Naquela altura sentia-me bem e confortável porque tinha a minha vida profissional organizada e não tinha grandes ambições políticas. Dava ao presidente Joaquim Sampaio o apoio que podia e também era confortável para ele porque era uma grande ajuda na parte da gestão. Quando acabar este mandato tenho 32 anos dedicados à Junta de Almeirim, é uma vida!
O ex-presidente quando saiu da junta foi para vereador. Vai seguir-lhe as pisadas? Em 2009 o presidente da câmara José Sousa Gomes já falecido convidou-me para ser o responsável financeiro da campanha eleitoral do PS. Depois chegou a haver uma votação para ver quem é que ia para a lista em lugar de eleição. Estava a passar férias no Algarve e vim a Almeirim porque ele queria que o meu nome fosse incluído na votação, mas acabou por ficar o José Carlos Silva no quarto lugar. Fiquei na dúvida se o PS elegia o quinto elemento e já não quis ir à votação para esse lugar e a Fátima Pina acabou por ser eleita vereadora. Dois mandatos antes já tinha tido uma conversa com Sousa Gomes sobre a possibilidade de ser vereador, mas nessa altura estava muito ligado à Fogotejo e preferia continuar com o meu amigo Joaquim Sampaio na junta de freguesia.
Mas já está a movimentar-se para algum lugar nas listas? A pedido da família, com uma grande influência da minha esposa, a minha carreira política acaba em 2025. Já não quero mais continuar na política activa. Acabo o mandato com 61 anos, não tenho intenções de continuar como autarca e vou para o sector privado. Ela esteve dois anos no ensino em Timor e gostava de fazer o que ela andou a fazer. O meu filho casou agora e certamente vêm os netos. Está na hora de me dedicar mais à família.
Já definiu o que vai querer fazer? Já me estou a preparar para a saída. Tenho andado a fazer muita formação a nível de contratação pública. Fui aceite numa pós-graduação em Gestão de Projectos no Instituto Superior de Gestão em Lisboa, que vai começar em Outubro.
Tem uma postura de passar despercebido. Isso é uma forma de ser ou uma estratégia para não ter problemas políticos? Fui sempre assim. Estive vários anos nos bombeiros, fui ajudante de comando, e tive sempre a postura de não impor a minha presença. Assim como fiz na junta com o presidente Joaquim Sampaio.
Está preocupado com quem o vai suceder na junta? No Partido Socialista existem pessoas mais capazes para me substituírem. A Teresa Aranha (actual secretária da junta) será uma boa candidata, mas terá de ser o partido a decidir. O João Caetano, que também faz parte do meu executivo, está em condições também de dar um bom presidente. É a minha opinião, mas nessa altura já estarei muito afastado do PS em Almeirim e a minha opinião pouco contará.
Também é fácil, seja qual for o candidato o PS tem ganho sempre em Almeirim… Não é bem assim. Em Alcanena também se pensava que o PS ia ganhar e houve uma surpresa. O candidato tem que trabalhar. Quando somos eleitos temos que começar a trabalhar para as próximas eleições. Nada é garantido .
Árvores nas ruas são um problema que a câmara tem de resolver
As actividades mais visíveis da junta são a manutenção dos espaços verdes e a gestão do crematório e do cemitério, que foram delegadas pela câmara. Quem é que ganha mais com o negócio? É a população de Almeirim. Há coisas que a junta faz melhor. E há algumas coisas que a câmara faz melhor. Por exemplo, ao nível dos espaços verdes somos melhores porque a junta foi criando condições para ter recursos humanos e existe uma política de proximidade maior e é mais fácil perceber se as coisas estão a correr bem. Em 2013 a junta tinha três funcionários nos quadros e os restantes eram pessoal que estava através do centro de emprego. Dessas pessoas dos programas do centro de emprego fomos recrutando os melhores e neste momento temos 16 pessoas no quadro.
A junta é como uma instituição de inserção. As pessoas que entraram ou estavam no desemprego ou que estavam a receber Rendimento Social de Inserção são pessoas que demonstraram que eram dedicadas. Conseguimos criar uma equipa motivada e competente. A junta já é uma pequena empresa e a minha formação acaba por ajudar na gestão. Temos vindo a dar formação em várias áreas.
Nas assembleias municipais está sempre calado, não há nada para falar da freguesia ou dos fregueses? A minha postura é de falar e resolver as coisas com o presidente da câmara em privado. Não tenho tido necessidade de vir a público falar sobre os assuntos. Muitas das vezes não é nas assembleias que se resolvem as situações, é em privado.
Qual é a área que acha que fazia melhor que a câmara? Já coloquei essa situação ao presidente da câmara, a junta pode fazer melhor a higiene e limpeza da cidade. É uma área complementar aos espaços verdes. Mas é necessário que a transferência dessa competência seja acompanhada de meios financeiros, materiais e humanos. Tenho consciência que faria melhor que a câmara.
Quantas vezes já ligou ao presidente da câmara a reclamar de algumas coisas que estão mal na cidade? Quando vão ser feitos os arranjos das ruas o presidente da câmara pergunta-me sempre sobre quais é que são as ruas que acho que devem ser alcatroadas. Há uma que toda a gente reclama e que eu também dei a indicação, que é a rua junto à adega cooperativa e o que ele disse é que a zona vai ser intervencionada e não faz sentido estar a gastar dinheiro neste momento. Há outra zona que acho que deve ter uma intervenção que é a zona da biblioteca, onde os passeios estão levantados por causa das árvores. Há coisas que se fosse com a junta já estavam resolvidas.
O que faria diferente do presidente da câmara? Como presidente da junta tenho uma visão micro e o presidente da câmara tem uma visão macro. Tenho uma preocupação com os passeios, as árvores que estão em locais onde não deviam ter sido colocadas e estão a dar problemas. As árvores no espaço público é um problema que tem de ser enfrentado neste mandato ou com o próximo presidente da câmara. Tem de haver a coragem de se cortarem algumas árvores e explicar às pessoas. Se fosse presidente da câmara já teria resolvido a questão das árvores, mas isso é a minha visão micro.
E o que fazia com as ruas de seixo? Isso é um grande problema, porque substituir essas ruas por alcatrão é incomportável a nível financeiro. As ruas são típicas, mas se perguntarmos aos moradores vão dizer que querem as ruas alcatroadas. Vivo numa rua dessas e não me faz grande diferença. Há uma vantagem, que é quando chove a água infiltra-se e se as ruas estiverem asfaltadas a estrada fica com água.
A junta já mudou de sede cinco vezes. Já não vai mudar mais? Há um compromisso da câmara de fazer uma sede nova para a junta, mas duvido que seja neste mandato. O que está previsto é que seja feita nos antigos viveiros da câmara, junto à GNR, e que nos permite estar perto do cemitério e do crematório. Temos que criar outras condições para os trabalhadores, que não têm balneários, cantina…
O centro de estudos da sua mulher fez iniciativas em que participou a junta e a câmara. Não havia aqui um conflito de interesses? As actividades que ela fez foi o presépio vivo. Ela teve a ideia mas estavam envolvidas várias instituições e a junta não deu qualquer ajuda financeira, apenas fez a limpeza do mercado municipal, e faríamos sempre isso fosse com quem fosse. Não vejo qualquer problema.
O que deixou de lhe falar por ser do PS e os camaradas que vestem outra camisola
A única pessoa que deixou de falar com Joaquim Catalão por causa da política foi o antigo presidente da Assembleia-Geral dos Bombeiros Voluntários de Almeirim, Manuel Constantino, já falecido. Aconteceu na altura em que entrou na lista do PS à junta de freguesia, encabeçada pelo ex-presidente Joaquim Sampaio, e estava também nos órgãos sociais dos bombeiros. Manuel Constantino era militante do PSD e deixou de o cumprimentar, presume, por causa de ter entrado numa lista do PS. Foi uma mágoa porque gostava da pessoa, tinha admiração, e era uma pessoa com quem gostava de conversar.
Outra pessoa que lhe causou mágoa foi o ex-presidente da câmara, o socialista José Sousa Gomes, já falecido, quando resolveu encabeçar um movimento independente pelo qual foi candidato à assembleia municipal uma vez que já não podia fazer mais mandatos na câmara. “Tinha admiração por ele, sempre o tive como um exemplo político, era um autarca que as pessoas e os outros autarcas respeitavam por isso fiquei desiludido e magoado”, confessa. Joaquim Catalão ficou triste com a forma como Sousa Gomes acabou a carreira política. “Foi mau porque a candidatura independente não o levou a lado algum”, salienta.
Já é difícil arranjar pessoas capazes para a política
Como é que vê o actual estado da política? Já começa a ser raro arranjar pessoas competentes e capazes para a política. Os que saem das universidades e são bons na sua área facilmente arranjam emprego mais bem pago no sector privado.
De que forma é que isso está a afectar o poder local? As autarquias são cada vez mais dirigidas por reformados, funcionários públicos ou professores.
O que é que os jovens trazem para a política? Preocupa-me ver na Assembleia da República cada vez mais jovens deputados que nunca fizeram nada e que estão a decidir a nossa vida. E às vezes questiono-me sobre que conhecimentos esses jovens têm para estarem a decidir coisas que nos afectam.
Mas está-se sempre a dizer que é importante a entrada de jovens na política. Sim, mas não devia ser para se agarrar à política com a perspectiva de fazer uma carreira. Haver pessoas dependentes da política é perigoso e enfraquece a política. Quando se está dependente disso e dos partidos faz-se tudo para agradar às pessoas e faz-se o que é contrário ao que o país precisa.
Concorda com a limitação de mandatos? Não concordo que seja só para os autarcas e para o Presidente da República. Deve haver limitação de mandatos para o primeiro-ministro, para ministros, para deputados, para todos.