Foto Galeria | 27-01-2023

Voluntários apoiam doentes com cancro em Santarém

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Voluntários apoiam doentes com cancro em Santarém

No Hospital de Dia de Santarém entram e saem todos os dias cerca de 40 doentes oncológicos.

Os tratamentos marcam-lhes as horas e os dias. O tempo custa a passar. Mas há um grupo de voluntários da Liga Portuguesa Contra o Cancro que faz a diferença com pequenos gestos.

Sentiu o chão fugir-lhe dos pés quando soube que algo maligno se tinha instalado no seu estômago, desgastado por uma gastrite crónica. Engoliu as lágrimas ao ver as da neta escorrerem-lhe pelo rosto quando, em Maio de 2022, ouviu pela primeira vez a frase que ninguém quer ouvir: “Tem cancro”. Seguiram-se quatro sessões de quimioterapia. O tumor, “teimoso, não mirrou”. Há três meses veio a operação de remoção total do estômago que lhe deixou o “esófago ligado ao intestino”. Agora, Quitéria Simões vai na segunda de mais quatro sessões de quimioterapia devido à disseminação de células do tumor inicial, mas não se deixa intimidar pela segunda ronda do tratamento que a “faz ir à cama três dias”. Aos 73 anos tem paciência com fartura e muita a vontade de se curar.
Saiu de Salvaterra de Magos à boleia de uma ambulância e ainda não eram 08h30 quando deu entrada no Hospital de Dia do Hospital Distrital de Santarém (HDS) para fazer o tratamento endovenoso. Antes das 16h30 não estará despachada. “Fico aqui o dia todo, sentada nesta cadeira. Levantar só para ir à casa-de-banho e isto vai atrás”, diz enquanto levanta os olhos para a solução branca que lentamente lhe vai entrando nas veias. Enquanto dura vai avançando no nível de dificuldade das palavras cruzadas da revista Sopa de Letras.
É assim, concentrada e de caneta na mão que a voluntária Alexandrina Santos a encontra. Traz-lhe num tabuleiro uma sandes e um copo de café com leite - a bebida que dá nome à iniciativa do Núcleo Regional Sul da Liga Portuguesa Contra o Cancro que começou a dar os primeiros passos naquela unidade há três semanas. “É mais um local onde prestamos um apoio muito benéfico para os doentes que muitas vezes saem cedo de casa e que têm de estar em jejum”, introduz António Rosa, director do voluntariado do núcleo. Mas a refeição, explica logo de seguida, é também “uma porta de entrada para uma conversa agradável, às vezes libertadora da tensão” típica nos doentes em tratamento.
A abordagem é feita com pinças. A palavra ‘cancro’, ainda indizível para muitos dos que ali estão, é evitada tal como conversas sobre a doença. “Não fazemos perguntas. Se estão aqui é porque estão doentes. Falamos de outras coisas, nem que seja sobre o estado do tempo. Política, religião e futebol só se o doente abordar e frases como ‘coitado, tenha paciência’ não saem da nossa boca”, adverte Alexandrina Santos, de Almeirim, que soma seis anos de experiência como voluntária hospitalar da Liga, começados no IPO de Lisboa. A conversa só dura o tempo que o doente quiser e às vezes nem acontece. Mas caso se proporcione os 15 voluntários, que estão neste Hospital de Dia para já às segundas e terças-feiras, dão a conhecer ao doente quais os serviços de apoio disponibilizados pela Liga de forma gratuita, como o apoio jurídico, social, a linha cancro e apoio psico-oncológico para doentes e seus familiares.
Às vezes os familiares precisam mais de apoio psicológico do que os próprios doentes com cancro. Quitéria Simões confirma a teoria: “Primeiro foi a minha neta a entrar em depressão. Depois fui eu”. Em Salvaterra de Magos, onde mora, o cancro já foi motivo de conversa mas isso não a incomodava, a não ser que lhe dissessem que “era uma coitadinha” na altura em que o cabelo começou a cair e o rapou. “Já cresceu, se calhar vai cair outra vez”, diz com despreocupação.

Voluntários são sujeitos a avaliação física e emocional
Prazeres André, hoje voluntária e coordenadora do Grupo de Apoio de Santarém, já esteve do outro lado. Há cinco anos teve cancro da mama e foi a partir daí, depois de ter conhecido a iniciativa Café com Leite no Hospital de Vila Franca de Xira, que decidiu que tipo de voluntariado fazer. “Na altura não estava muito aberta a falar, só queria que o tratamento acabasse, mas havia uma senhora que ia sempre ter comigo oferecer chá ou café e houve um dia em que aceitei”. A sua vontade de permanecer num quase silêncio profundo durante as sessões foi respeitado. Agora cabe a Prazeres, no papel de voluntária, “respeitar o silêncio - se for o caso - da pessoa” com cancro.
Apesar da experiência vivida na primeira pessoa a coordenadora do grupo não relata durante o serviço o seu caso de sobrevivência. Não é aconselhável. “Muitas vezes os doentes procuram testemunhos para tirar, por osmose, a sua situação clínica, mas cada caso é um caso e isso pode ser produtivo de confusão mental”, explica António Rosa, reconhecendo que numa pessoa que terminou os tratamentos há pouco tempo “há uma vontade instintiva, quase desesperada, de contar a sua experiência”.
O Grupo de Apoio de Santarém tem, além dos 15 voluntários seniores, mais 18 em formação sendo que o mais novo tem 18 anos. “Há uns anos tínhamos carência de pessoas mais velhas, agora estamos a presenciar um fenómeno de pessoas mais novas a entrar”, diz António Rosa com um misto de entusiasmo e preocupação, justificado pela “falta de disponibilidade e compromisso” daqueles que ainda estão a estudar ou no início da sua actividade profissional “apesar de quererem muito dedicar-se a esta parte do voluntariado”.

Palavra cancro ainda é vista como uma sentença

Para Sandra Bento, directora do serviço de oncologia médica do HDS, o trabalho desenvolvido pelos voluntários na iniciativa Café com Leite é um bom exemplo do que acontece quando um hospital se abre à sua comunidade e a novos projectos. Além de benéfico para a população de doentes, “geralmente fragilizada do ponto de vista emocional e físico”, defende que pode ajudar a “desmistificar” a palavra cancro. “A palavra cancro é vista como uma sentença. É inevitável e não vejo que esse paradigma mude”, diz, ressalvando que hoje se fala mais abertamente sobre a doença que em tempos “era uma vergonha social”. Em parte, esse medo sentenciado deve-se à incerteza. “Fazem os tratamentos e sabemos que muitos irão ficar curados, só não sabemos quais. É sempre difícil para o doente”. Porque apesar de “um bom prognóstico” numa fase de tratamentos a cura nunca está garantida.

Média de 35 a 40 doentes em tratamento por dia

O Hospital de Dia do HDS tem cada vez mais doentes em tratamento, por um lado porque “a incidência de cancro está a aumentar”, por outro porque os tratamentos são mais activos e fazem com que o doente permaneça mais tempo nessa fase. Em média passam pelas salas desta ala de ambulatório entre 35 a 40 doentes por dia. Fazem quimioterapia, imunoterapia e terapia com anticorpos mono-clonais. Os cancros mais comuns nestes doentes são o da mama (na mulher), da próstata (no homem) e os cancros colorretal e do estômago.

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