A CGD emprestava quando mais ninguém o fazia e incomodava pouco os credores

Duarte Marques*

Administração Vara / Santos Ferreira fazia o oposto do que recomendavam os serviços da CGD. Instituição foi usada para financiar o “assalto” ao BCP que um grupo de políticos e gestores decidiram fazer. Facturas altamente desastrosas estão hoje a ser pagas pelos portugueses.

Foi esta terceira Comissão de Inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD) que mais se focou nos problemas que deram origem às necessidades de recapitalização feita pelo Estado e que de alguma forma surpreendeu os portugueses pelo montante envolvido (3,9 mil milhões de euros). Toda a gestão da CGD desde o ano 2000 foi altamente escrutinada pelos Deputados e o acesso ao famoso Relatório da EY que não chegou a tempo da CPI anterior foi crucial para pedir explicações a quem tomou as decisões sobre os créditos que acarretaram graves prejuízos para a CGD ao longo dos últimos quase 20 anos.

Duas conclusões são óbvias: 1) Sócrates montou uma administração da CGD que ele pudesse controlar e utilizar como instrumento de controlo do poder económico e político do país independentemente da razoabilidade das decisões; 2) A CGD foi usada para financiar o “assalto” ao BCP que um grupo de políticos e gestores decidiram fazer. Ambas estas facturas, altamente desastrosas estão hoje a ser pagas pelos portugueses.

Depois de tanta tinta que correu nos jornais esta Comissão parecia ser também uma oportunidade para alguns dizerem no local próprio o que há muito acusavam nos jornais, como o ex Ministro das Finanças de Sócrates, Luís Campos e Cunha que ao fim de alguns meses bateu com a porta porque, disse ele na CPI “Sócrates me quis impor a escolha de Armando Vara para a Administração da CGD”, mas também para outros terem oportunidade de se defender ou justificar as opções que tomaram ou não em determinado momento em que foram Administradores da CGD.

Nestes casos em concreto de dezenas de créditos “de favor” atribuídos a várias empresas que deixaram tremendas dívidas na CGD fomos surpreendidos pelos constantes pareceres negativos que os Departamentos de risco e outros da CGD tinham feito previamente a pedidos de crédito que posteriormente a Administração aprovava e que mais tarde se tornaram problemáticos. No negócio da banca risco e incerteza há sempre, mas para isso há regras e garantias. Nestes casos analisados em concreto, como é o exemplo do investimento da La Seda entre outros, tudo indicava que não existia racional económico no investimento mas mesmo assim o Conselho de Crédito da CGD aprovava na mesma. Curiosamente ou não, só quando determinadas pessoas estavam nessas reuniões, por silêncio ou cumplicidade é que essas decisões contrárias aos pareceres técnicos das equipas da CGD ocorriam.

Outro fator preocupante, é que no caso dos créditos que se tornavam problemáticos, a CGD parecia ser sempre a última entidade bancária a agir. Ou seja, era bastante conivente com os infractores e, ao contrário de outros bancos privados, pediam reforço de garantias muito tarde ou quando pretendiam executar qualquer bem já outros o tinham feito. Era um sinal que algumas Administrações da CGD emprestavam quando mais ninguém o fazia e que em caso problemático não incomodavam muito.

A este respeito devo dizer que os diferentes “funcionários” da CGD que prestaram depoimento o fizeram com grande brio profissional, defendendo a casa e a sua integridade. Na verdade, o problema não tinha sido a “CGD” mas sim alguns administradores que sobrepunham o seu poder de decisão às recomendações e experiência dos diferentes departamentos.

Ficou também bastante claro para todos, e isso foi evidenciado no Relatório Final que a Administração liderada por Santos Ferreira e Armando Vara foi claramente a mais danosa dos últimos 20 anos e que está na origem de todos estes problemas.

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