Joe Berardo fez de idiota útil a quem assaltou o BCP

Joe Berardo terá sido o principal protagonista da segunda CPI às CGD ( : ) sobretudo pela singularidade do seu desempenho na audição que marcou aqueles meses de investigação(:) Curiosamente, ou não, os dois Administradores da Caixa que lhe deram esse empréstimo, a ele e a outros cúmplices do mesmo assalto, foram depois nomeados Administradores do BCP, Armando Vara e Carlos Santos Ferreira que viriam também a provocar um desastre financeiro na gestão deste banco.

Joe Berardo terá sido o principal protagonista da segunda CPI às CGD, não pela sua responsabilidade nos tremendos prejuízos no banco público, mas sobretudo pela singularidade do seu desempenho na audição que marcou aqueles meses de investigação.

De recordar que o empresário madeirense que fez fortuna na África do Sul aparece neste processo como titular de um empréstimo de cerca de 440 milhões de euros para adquirir ações do BCP numa operação entretanto apelidada como “assalto ao BCP”. Com a depreciação do valor deste banco que atravessou uma grande crise, as ações baixaram de valor e Berardo procurou, por todas as vias, não pagar a sua dívida à CGD. Curiosamente, ou não, os dois Administradores da Caixa que lhe deram esse empréstimo, a ele e a outros cúmplices do mesmo assalto, foram depois nomeados Administradores do BCP, Armando Vara e Carlos Santos Ferreira que viriam também a provocar um desastre financeiro na gestão deste banco.

Feito o intróito foquemo-nos na audição. Berardo chegou acompanhado do seu advogado, André Luiz Gomes. Simpático, desbocado e divertido como se tornou conhecido dos portugueses, espalhou charme assim que entrou na sala, não diria que era estratégia mas sim algo que lhe é natural. As coisas começaram a correr pior quando o seu advogado se dirige ao Presidente da Comissão de Inquérito e revela que pretende ser ele a responder às perguntas em nome do seu “constituinte/cliente”. Essa vontade foi-lhe negada peremptoriamente.

O semblante de ambos mudou. Do sorriso fácil ao espanto gelado foram décimas de segundo. Como se viria a verificar, ambos terão preparado a audição na perspectiva do Advogado responder às perguntas permitindo a Joe Berardo fazer apenas os seus habituais comentários de circunstância. Teatro ou ignorância a verdade é que a inquirição veio a revelar que o “Comendador” não conhecia assim tão em detalhe o emaranhado de empresas e outras entidades que construiu como um novelo com o objectivo de se furtar às suas responsabilidades pessoais sem deixar de usufruir de todo esse património.

Como verdadeiro símbolo de xico-espertismo, Joe Berardo acabou por cair em contradição e a revelar todas as suas intenções quando confessou que não pretendia pagar as suas dívidas nem entregar a sua coleção ao Estado.

Curiosamente ao não, novamente, ficou claro que esta aprovação do empréstimo a Berardo para entrar no BCP ocorreu quase em simultâneo com a renovação de mais um acordo “manhoso” de comodato da sua coleção no CCB. Tendo sido tornado público que o assalto ao BCP foi uma estratégia coordenada entre determinados empresários e o Ex Primeiro Ministro José Sócrates, ficou a sensação que houve aqui uma verdadeira troca de favores: Berardo fazia o papel de idiota útil para dar a cara pela contestação à administração do BPC, tinha património e notoriedade para poder almejar um empréstimo daquela monta e ao mesmo tempo garantia o seu jackpot com o Estado a pagar-lhe mais uns anos para ter a exposição em permanência no CCB público.

O impacto das declarações na CPI foi tal que a generalidade dos portugueses ter-se-ão revoltado com o desplante de Joe Berardo. Acredito que o próprio não mediu bem o nível de indignação dos portugueses com os prejuízos da banca, e com a necessidade de meter lá dinheiro. O comendador não mediu o impacto que a sua habitual forma de estar poderia ter nos portugueses. Passou de uma figura simpática e divertida para um homem boçal, desrespeitador e imoral num par de horas.

A saída dessa audição foi mais um momento hilariante. Face às dificuldades recentes da justiça notificar José Berardo, alguém terá enviado um oficial de justiça a notificar o empresário à saída do Parlamento. Como este hesitou perante a presença da comunicação social deu-se uma inusitada perseguição pela ruas estreitas de São Bento e da Calçada da Estrela com os Berardo à frente com André Luiz, mais atrás o dito oficial de justiça e cá mais atrás o pelotão de jornalistas a dar tudo para não perder o momento. Creio que se Berardo procurava fugir à notificação, o oficial pretendia fugir dos jornalistas para notificar o seu alvo sem a companhia da imprensa. Tudo terminou quando o comendador, habitué daquelas vielas, simplesmente desapareceu.

Este dia da Comissão de Inquérito jamais sairá da memória dos portugueses.………….

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