“A satisfação de um cliente é o melhor cartão-de-visita de uma empresa”
Carlos Vieira começou a trabalhar com mármore aos 16 anos e foi o seu único ofício durante toda a vida. A morte do seu pai, quando tinha 12 anos, obrigou-o a crescer mais rápido, assim como aos seus dois irmãos, para ajudar a mãe a pagar contas. Em 2008 criou a própria empresa e trabalha o mármore para cemitérios, obras e cozinhas. Aos 62 anos continua a abrir a porta da oficina antes das oito da manhã e não tem hora para sair. Precisava de mais funcionários mas tem dificuldades em encontrar quem queira trabalhar. Os poucos tempos livres são passados com os filhos e os dois netos, que são a luz dos seus olhos.
Carlos Pimentel Vieira, de 62 anos, estudou na Escola Profissional da RARET e tem as melhores recordações desses tempos. A RARET – Rádio Europa Livre foi uma rádio norte-americana com instalações na Glória do Ribatejo, concelho de Salvaterra de Magos, cuja missão era retransmitir programas para o Bloco de Leste, como parte da estratégia de propaganda contra o comunismo durante a Guerra Fria. “Era um espaço mais evoluído do que as escolas portuguesas. Aprendemos a trabalhar com electricidade, por exemplo, o que não acontecia noutras escolas. Convivemos com os americanos e tínhamos acesso a espaços a que só quem lá estudava podia entrar. Foram anos muito bons”, recorda a O MIRANTE.
Carlos Vieira é o segundo de três irmãos e quando perdeu o pai, aos 12 anos, teve que crescer mais depressa, juntamente, com o irmão e a irmã, para ajudar a mãe a pagar as contas. Aprendeu a trabalhar o mármore com o seu irmão mais velho, que trabalhava numa empresa em Almeirim. Carlos Vieira trabalhou na mesma empresa durante quatro anos. Entretanto, em 1982 o seu irmão criou a sua própria empresa. Carlos Vieira cumpriu o serviço militar obrigatório e quando terminou foi trabalhar com o irmão, que sediou a empresa em Marinhais, de onde são naturais.
Quando o seu irmão faleceu, em 1995, a empresa passou para a sua esposa e filho, que em 2008 decidiram encerrar a firma. Foi quando Carlos Vieira se tornou empresário em nome individual, embora faça questão de dizer que continua a ser funcionário. A Carlos Pimentel Vieira – Mármores Unipessoal, Lda trabalha mármore para campas, obras e cozinhas. “Hoje em dia é tudo mais fácil porque as máquinas fazem quase tudo, mas aprendi a trabalhar a pedra à mão. Aprendi a fazer imagens e flores na pedra. Era muito mais trabalhoso”, afirma.
Garante que não tem falta de material uma vez que, explica, não há falta de pedra em Portugal, onde estão os seus fornecedores. O facto de não trabalhar com o estrangeiro ajuda a não ter falta de matéria-prima. Sente é falta de mão-de-obra. Tem três funcionários mas precisa de mais e não consegue encontrar. “Vamos à procura mas quando ficam a saber que têm que trabalhar com água, sobretudo no Inverno, não gostam e preferem não trabalhar. Temos dificuldades em encontrar pessoas para trabalhar. Acredito que existem profissões que vão deixar de existir como marceneiro, por exemplo, ou canteiro ornamentista, como é o meu caso”, considera.
Carlos Vieira explica que ainda existe grande procura por campas mas a tendência, com o passar do tempo, é essa procura diminuir. A cremação tem aumentado e os cemitérios estão a ficar com pouco espaço. Uma campa demora a fabricar e montar, pelo menos, entre dois a três dias. “Tem que ser um trabalho bem feito e cuidadoso. Temos que ouvir as pessoas, darmos a nossa opinião, sempre com calma. São pequenos pormenores que fazem a diferença porque são pessoas que estão a viver um momento doloroso da perda de um ente querido”, sublinha.
O empresário conta que trabalhou sempre durante a pandemia e não houve um caso de Covid-19 a não ser o dele próprio, há cerca de três meses. Mas mal deu pela doença. Carlos Vieira costuma dizer que quer um cliente para sempre por isso trata-os bem porque sabe que a melhor publicidade é o boca-a-boca. “A satisfação de um cliente é o melhor cartão-de-visita de qualquer empresa”, adianta.
Antes das oito da manhã já está na empresa e não tem hora para sair. Tem dificuldade em desligar do trabalho. O facto da sua casa ser contígua à oficina faz com que ao fim-de-semana aproveite para despachar trabalho. Tem dois filhos que trabalham na área das telecomunicações e seguros e não faz tenções que dêem continuidade à empresa. Os dois netos, um de um ano e outra de cinco anos, são a luz dos seus olhos e com quem passa os tempos livres.