“A sociedade já olha de forma natural para a deficiência”
Helena Valente vive em Samora Correia e é um dos rostos da Cercipóvoa onde é assistente social e já foi directora técnica. O que mais a encanta é ajudar a fazer a diferença na vida das famílias e dos utentes. Não tem dúvidas em dizer que o estigma para com a deficiência está a desaparecer cada vez mais.
A sociedade olha cada vez mais de forma natural para a questão da deficiência e os tabus que em tempos existiam estão a cair. A convicção é de Helena Valente, 56 anos, assistente social na Cercipóvoa, Cooperativa de Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados da Póvoa de Santa Iria.
Ligada à instituição há mais de uma década Helena Valente considera que são instituições como a Cercipóvoa que diariamente fazem a diferença pela positiva nos utentes e familiares num trabalho muitas vezes invisível a quem está fora dos portões da colectividade. “É uma casa que tem uma importância muito necessária. Temos tentado dar uma boa resposta aos nossos utentes. A Cercipóvoa é muito importante, não apenas no concelho de Vila Franca de Xira mas também na região, incluindo o vizinho concelho de Loures, de onde recebemos muitos utentes”, considera a O MIRANTE.
O facto de cada vez se falar mais de inclusão e igualdade é também um factor positivo no entender da profissional. “Há uma nova abertura para a problemática da infância. Estamos a ir por um caminho positivo, ainda não está perfeito mas está melhor. Já caiu o estigma que existia e a sociedade já olha de forma natural para a deficiência. É muito raro termos conhecimento de uma pessoa com deficiência a viver escondida. Há uma década cheguei a fazer domicílios em que o adulto vivia escondido. Foi preciso os pais morrerem para se saber que vivia em casa uma pessoa com trissomia 21”, lamenta.
Natural de Lisboa, Helena Valente foi criada na zona da Portela de Sacavém e há 24 anos que vive em Samora Correia, concelho de Benavente. Quando procurou casa com o marido acabou da outra margem do rio Tejo por causa da tranquilidade e qualidade de vida. “Não tem nada a ver com esta zona mais urbana”, considera.
Helena Valente integrou a equipa de intervenção precoce na infância da qual a Cercipóvoa tem protocolo com a Segurança Social para desenvolver essa resposta no concelho. De 2019 a 2022 foi directora técnica da instituição e teve de lidar com todo o período pandémico. “Foi um desafio muito complicado. O ano de 2020, sobretudo, foi assustador. Ficámos todos sozinhos, entrámos em pânico, como o resto do mundo. Apesar de tudo toda a equipa conseguiu superar a situação”, recorda.
O seu primeiro emprego foi a trabalhar numa loja de roupas do Centro Comercial da Portela, ainda antes dos 20 anos. Decidiu seguir a actual profissão quando começou a contactar com outros assistentes sociais. “É um trabalho de que gosto muito numa área abrangente, que me dá muito prazer. Sinto-me realizada e não me vejo a fazer outra coisa”, refere. Quando era criança sonhava ser ama embora nunca tenha sentido aptidão para ser educadora de infância.
Confessa-se viciada em trabalho e leva sempre trabalho para casa. Por vezes acorda de noite a pensar como haverá de resolver várias situações. “Consigo separar as águas e tento o mais possível ajudar em determinadas situações sem me envolver emocionalmente”, confessa. Promover a compaixão pelos outros é o seu principal valor. Ir ao cinema, estar com a família e viajar são as suas principais ocupações nos tempos livres para esquecer o trabalho.