Identidade Profissional | 09-04-2023 21:00

Maria Potes Barbas: “precisamos de refrescar o ensino superior com jovens talentosos”

Maria Potes Barbas: “precisamos de refrescar o ensino superior com jovens talentosos”
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Maria Potes Barbas é coordenadora e própresidente da inovação no IPS de Santarém e coordenadora do mestrado de Recursos Digitais e do pólo de educação em literacia digital e inclusão

Considera insuportável a carga burocrática na docência e garante que o ensino superior não evolui se não houver investigação.

Maria Potes Barbas, professora coordenadora principal no Instituto Politécnico de Santarém, está à frente da Unidade de Investigação e transformou o conceito do Escape Room numa forma de ajudar alunos com dificuldades intelectuais a capacitarem-se para a empregabilidade. Diz que para se ter resultados é preciso acreditar nas ideias e a próxima que vai trabalhar é a inteligência artificial na metodologia de ensino.

À frente da Unidade de Investigação do Instituto Politécnico de Santarém (IPS), Maria Potes Barbas começou o seu percurso na docência a dar aulas a alunos do ensino secundário em Salvaterra de Magos e acabou por dar o salto para o ensino superior onde, garante, se sente realizada. Pensar ideias novas que possam fazer a diferença no ensino, acreditar nelas, desenvolvê-las e obter resultados está no seu ADN enquanto docente e investigadora. “Não se evolui se não se é investigador de base, se não se está a par do que é desenvolvido, e o próprio ensino superior não evolui se não houver investigação”, começa por referir a O MIRANTE a professora de 58 anos.
“Creio que qualquer partido político percebe a importância da investigação num país que não tem, a nível económico, os meios necessários para que seja um verdadeiro país de sucesso. A Fundação para a Ciência e Tecnologia tem feito o melhor que sabe com aquilo que tem para nos ajudar, mas há ainda muito que se pode fazer”, diz. A começar pelas burocracias e procedimentos, duas palavras que a fazem ficar “arrepiada” e que “inibem o tempo que os professores têm para investigar e inovar”.
Organizada e metódica, Maria Potes Barbas habituou-se a fazer uma gestão rigorosa do tempo para conseguir conciliar o ensino com os projectos que lhe “fortalecem o currículo” e contribuem para um ensino mais inovador. Há dois anos recebeu uma menção honrosa internacional por causa do projecto “Escape Room”, que à semelhança do conceito original que se tornou popular na Europa consiste em entrar em salas e encontrar uma saída, mas neste caso, ligada à empregabilidade e ao empreendedorismo.
“Conheci o conceito num hotel em Lisboa e lembrei-me que podia ser útil criar salas de jogos no IPS - neste momento existem três - para a introdução sobre o que existe ao nível da empregabilidade, criar um currículo, ver o que existe ao nível das ofertas de emprego e por último criar uma entrevista para o mercado de trabalho”, explica. Maria Potes Barbas acrescenta que este projecto destina-se sobretudo a estudantes com dificuldades intelectuais com grau de incapacidade superior a 60%. Tal como o curso, no qual está envolvida desde o primeiro momento, de Literacia Digital para o Mercado de Trabalho, que embora não confira grau representa uma mais-valia para estes estudantes. Dos 11 que frequentaram o curso, salienta, 10 estão a trabalhar.

“Fazemos coisas boas mas temos pouca visibilidade”
Também a pandemia, com o ensino à distância, lhe trouxe a oportunidade de investir na melhoria das plataformas digitais utilizadas no ensino superior. Neste campo, o desafio é dirigido aos professores e passa por cada um desenvolver um vídeo curto com a matéria mas que por ser interactivo permite aos alunos clicarem nas palavras que vão aparecendo para aprenderem mais sobre os temas; além de haver no final uma apresentação power point e uma infografia de resumo.
“O ensino superior em Portugal é de muita qualidade. Fazemos coisas muito boas por cá mas temos muito pouca visibilidade porque se esconde tudo na gaveta. Falta perceber que no mostrar está o ganho”, diz, salientando a importância da sociedade perceber que os professores trabalham para os estudantes mas também para o desenvolvimento do país. Como próximo desafio, revela, está a trabalhar num projecto que alia a inteligência artificial, através do ChatGPT, à melhoria dos conteúdos para as várias licenciaturas, mestrados e curso de Literacia Digital. “Muitos colegas estão assustados mas acho que temos que aproveitar o que a inteligência artificial nos dá”, defende.
Maria Potes Barbas não vive preocupada com o nome que se dá a um estabelecimento de ensino superior mas com o que nele se desenvolve. Diz que a diferença entre uma universidade e um politécnico está hoje mais esbatida, não só pela conquista da entrada dos doutoramentos nos institutos e da designação em inglês “Polytechnic University”, mas também por terem ultrapassado o seu propósito inicial de responder às necessidades de uma região. “O ensino politécnico conseguiu responder aos desafios e criar uma nova identidade. No IPS temos 4.500 estudantes de todo país e os desafios são regionais, nacionais e internacionais”.
Sobre a profissão diz ter que precisa de uma reforma ao nível dos concursos públicos que são “assustadores” pelo tempo que demoram e pelos procedimentos a que obrigam. “Um professor que concorra, seis meses depois é que tem alguma resposta. Nesse tempo dá para arranjar três empregos”, lamenta, defendendo que é preciso “simplificar” e cativar jovens para o ensino. “Precisamos de refrescar o ensino superior com jovens talentosos que nos ajudem a inovar”, conclui.

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