Identidade Profissional | 31-05-2023 07:00

“O mais importante no trabalho é gostar do que se faz”

“O mais importante no trabalho é gostar do que se faz”
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Dora Amaral Pinto foi viver com os pais para Alhandra aos seis anos e apaixonou-se pelo Ribatejo

Dora Amaral Pinto é uma mulher incapaz de ficar parada e para quem a honestidade e confiança são os valores principais de vida. Autarca, administrativa na APATI de Castanheira do Ribatejo e soprano em três coros do concelho, diz não ter tempo para ficar no sofá a ver a vida passar. Quando era pequena tinha o sonho de ser hospedeira.

O mercado de trabalho está a mudar e apesar de não existirem tantas ofertas como antigamente os jovens de hoje procuram uma qualidade de vida superior à das gerações anteriores. A convicção é de Dora Amaral Pinto, administrativa, coralista e um rosto conhecido em Castanheira do Ribatejo, onde actualmente integra também o executivo da junta de freguesia.
“Os jovens esperam uma coisa diferente do que nós esperávamos com a idade deles. Trabalhar fora de horas sem ser recompensado não é correcto. Estar a roubar o seu tempo de descanso sem poder fazer outras coisas. Os jovens não têm de estar só a trabalhar. Também têm o direito de poderem viver a sua vida”, defende.
O seu primeiro emprego foi com crianças numa instituição de Alhandra e nunca mais parou. “Nunca virei as costas ao trabalho e nunca estive desempregada. Mal acabava um contrato procurava logo outro emprego. Chegava a ser chamada para duas e três entrevistas e tinha de escolher onde queria ficar. Hoje, infelizmente, já nem sempre é assim”, nota.
Dora Pinto tem 54 anos, nasceu em Mora, distrito de Évora, mas mudou-se com os pais para Alhandra quando o pai, militar, ingressou na Escola da Armada que na altura funcionava em Vila Franca de Xira. Quando era pequena a sua profissão de sonho era ser hospedeira. “Gostava de conhecer outros países, pessoas e culturas. Sentia em mim uma vontade de ir ao encontro do desconhecido”, partilha com O MIRANTE. Mais tarde, o gosto por cantar e representar intensificou-se e nunca mais deixou de perseguir esse objectivo.
Actualmente é administrativa na Associação Promotora de Apoio à Terceira Idade (APATI) de Castanheira do Ribatejo, onde trata de tudo o que é preciso a nível administrativo, da facturação aos utentes e mensalidades. Chegou a dar catequese e diz que no trabalho o mais importante é gostar do que se faz. A honestidade, confiança e capacidade para trabalhar em equipa são os seus valores fundamentais. “Tira-me do sério a injustiça e a mentira; uma mentira que prejudica a vida da pessoa no seu local de trabalho e na vida pessoal e familiar. Isso é revoltante”, critica.
Soprano em três coros
Dora Amaral Pinto é actualmente coralista em três coros do concelho de Vila Franca de Xira: no coro do Ateneu Artístico Vilafranquense, no vocal Allegro de VFX e está agora num novo coro chamado Vox Nostra, de cariz gospel e mais comercial. Diz não ter dúvidas que quem canta seus males espanta e assume que cantar é para si uma terapia. “Não tenho tempo para estar triste, chorar ou ter depressões. Nunca tive uma depressão na minha vida e já passei por situações muito complicadas. Tudo porque não tenho tempo. Ando sempre tão ocupada que quando termino o meu dia de trabalho ainda tenho os coros onde ensaio em três dias da semana”, conta.
A melhor forma de combatermos os nossos demónios é manter-nos ocupados, defende Dora Amaral Pinto. “Aconselho a toda a gente que se sinta triste, aborrecida ou deprimida, que encontre uma motivação que a cative. Temos de descobrir algo que gostemos de fazer, seja pintura, fotografia ou cinema”, explica.
Em casa apenas canta quando está triste. O Vox Nostra, por se tratar de um coro focado na corrente gospel, permite melodias mais animadas e movimento corporal que causa uma sensação de bem-estar e alegria. “Aquele bocadinho em que estamos a ensaiar não pensamos em mais nada”, diz a coralista, para quem o grupo já é quase uma família.
A falta de um auditório cultural em Castanheira do Ribatejo é que é para Dora Amaral Pinto um factor de tristeza. “É um bocadinho revoltante vermos que ao fim de tantos anos as coisas continuam sem acontecer. Sei que o presidente da câmara é muito sensível a estas situações e acredito que tenha muita vontade de colaborar na resolução”, afirma.

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