Identidade Profissional | 09-08-2023 18:00

“Aflige-me saber que há quem vá para casa sem ter nada para comer”

“Aflige-me saber que há quem vá para casa sem ter nada para comer”
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Andreia Calçada é responsável pelo balcão de atendimento da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira

Andreia Calçada é um rosto conhecido na Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira, onde é responsável pelo atendimento. Um trabalho mais exigente do que a maioria das pessoas pensa e que por vezes ainda é desvalorizado. Mulher de várias profissões é na costura que encontra um escape para os desafios do dia-a-dia.

A cidade de Vila Franca de Xira não está morta mas a proximidade com Lisboa não ajuda e isso só se resolve com a promoção de mais eventos de proximidade. A convicção é de Andreia Calçada, 39 anos, responsável pelo balcão de atendimento da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira.
“Há um esforço grande para inverter essa situação mas cada vez mais as pessoas agarram no carro porque estão a 20 minutos de Lisboa. Isso não ajuda. Devíamos fazer mais coisas em VFX, que tragam as pessoas para a rua, nem que seja feiras de artesanato. Se houver esses eventos as pessoas aparecem e não vão a outros sítios”, defende. Andreia Calçada é de Alhandra, terra onde vive, e diz ter um carinho especial pela Igreja de Alcamé, situada na lezíria de Vila Franca de Xira. “Para mim é uma das igrejas mais bonitas de VFX”, defende.
O percurso profissional de Andreia Calçada começou depois da faculdade, primeiro num estágio na empresa Salvador Caetano e depois numa empresa de informática que tinha a PSP como cliente. Sempre como administrativa. “A aventura nessa empresa de informática durou cinco meses, a sede era no Porto e quando me convidaram para ir para lá acabei por recusar”, conta a O MIRANTE. Pouco tempo depois, em 2004, viu um anúncio para uma vaga de emprego na junta de freguesia e arriscou. Acabou por ficar até hoje.
Na junta passou por vários serviços para conhecer a orgânica daquela entidade, passando pelo atendimento, contabilidade, tesouraria e pelas delegações. “Fiz um bocadinho de tudo”, conta. Acabou por se fixar no atendimento, onde se inclui o Espaço Cidadão que ali funciona, protocolado com a Agência para a Modernização Administrativa (AMA).
Além de todos os serviços que podem ser tratados na junta de freguesia, o Espaço Cidadão também permite, entre outros serviços, tratar da documentação de renovação da carta de condução, averbar a categoria de pesados, tirar um registo criminal, entregar despesas da ADSE ou até obter ajuda na Segurança Social Directa. “Apesar dessa valência não estar incluída, todos os anos também ajudamos as pessoas a colocar o IRS, sobretudo quem não tem quem ajude”, conta Andreia Calçada.

Falta de educação tira-a do sério
Para Andreia Calçada a falta de educação é o que mais a revolta. “Muitas pessoas chegam aqui aborrecidas e chateadas sem termos nenhuma culpa. Tentamos sempre ter uma abordagem calma para que acabem por mudar a sua postura”, conta a responsável, admitindo que o atendimento ao público é um trabalho exigente e desgastante nalguns dias. “Há pessoas a chegar aqui com muitos problemas, sobretudo a nível social, isso é assustador. Já tive muita gente a pedir ajuda para comer. Essa parte toca-me bastante, saber que são pessoas que vão para casa e poderão não ter nada que comer. Isso aflige-me”, confessa. Muitas dessas situações são passadas para os serviços de acompanhamento social.
Andreia Calçada defende que mais pessoas deviam conhecer a junta de freguesia, os seus serviços e a importância que tem na comunidade. “A maior parte das pessoas não sabe que a junta de freguesia existe até ao dia em que precisam de vir resolver um problema”, lamenta a funcionária que se confessa também como uma perfeccionista que gosta do trabalho bem feito.
Não gosta de ver notícias na televisão mas gosta de ler. Ver séries é o seu vício. Estar com a família é a sua maior paixão. Diz que na junta de freguesia é fácil conciliar o papel de mãe com o de profissional. Sempre gostou de costura e usa esse gosto como escape depois dos desafios do dia a dia. Criou um pequeno negócio (“Cor de Rosa by Andreia”) onde produz e vende pequenos acessórios que a própria costura. “É um mecanismo que arranjei para não estar só a lidar com papéis e computadores. Faz muito bem as pessoas terem um hobbie. Gostava de ter um negócio só meu um dia. Não podemos desistir da ideia, o sonho comanda a vida”, refere.

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