Identidade Profissional | 23-08-2023 07:00

O contabilista de Abrantes que abriu o primeiro escritório numa garagem

O contabilista de Abrantes que abriu o primeiro escritório numa garagem
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Américo Alves criou a empresa Abranconta, em Abrantes, com o seu sócio, em 1985

Américo Alves viu-se forçado a deixar a escola para agarrar uma oportunidade de emprego e assim contribuir para as contas de casa.

Apaixonado por Matemática, voltou aos livros e aos 29 anos abriu o seu escritório de contabilidade numa garagem em Abrantes. A Abranconta já mudou várias vezes de instalações ao longo dos seus 38 anos, sempre nas mãos de Américo Alves e do seu sócio.

Américo Alves estreou-se em tenra idade no mundo do trabalho. Tinha 11 anos quando, assim que concluiu a escola primária, agarrou uma vaga num armazém de malhas instalado no centro de Abrantes. “A mãe precisava de ajuda financeira e não pensei duas vezes”, conta. Começou por ser moço de recados até que o seu profissionalismo o levou ao escritório da empresa. Já nessa altura se destacava pela agilidade com que conseguia fazer contas. Voltou à escola aos 14 anos, fez o curso industrial e trabalhou noutras duas empresas, nas quais se aventurou no sector da contabilidade, até que se tornou oficialmente contabilista. Agora, aos 67 anos, continua de volta dos números na Abranconta, escritório de contabilidade em Abrantes que fundou com o sócio em 1985.
“Tudo começou numa garagem depois de o meu sócio, que hoje tem 95 anos, me ter desafiado a abrirmos juntos um escritório de contabilidade. Na verdade, queria que eu fosse trabalhar para ele, mas dessa forma não aceitei e foi assim que nos tornámos sócios”, diz, recordando com entusiasmo os tempos em que por aquelas bandas “as pessoas se admiravam” por ter uma empresa aos 29 anos. Os tempos eram outros e os meios para se fazer contabilidade também. “Tudo era feito manualmente, não havia computadores” naquela garagem, nem na seguinte, para onde os dois sócios se mudaram algum tempo depois. “Fiz muitas noitadas, cheguei a passar noites sem dormir para não falhar nenhum prazo”, diz a O MIRANTE, sublinhando que ser contabilista exige muito “rigor e responsabilidade”, pois está a mexer-se com o coração de uma empresa.
Algumas das empresas que elegeram a Abranconta mantêm os serviços há mais de três décadas. A maioria é do concelho de Abrantes, mas outras são de Coimbra, Nisa, Évora e Vila Nova de Foz Côa. Se o serviço é de qualidade, Américo Alves acredita que a fidelização acaba por acontecer naturalmente, mas não esconde alguma revolta por haver profissionais de contabilidade que querem “agarrar o cliente” praticando preços abaixo da média. “Isto não valoriza a profissão. Houve um tempo em que a Ordem dos Contabilistas fixou uma tabela de preços a que todos tínhamos que obedecer, tal como têm os advogados, por exemplo. Era mais justo”, entende, salientando que a qualidade de um escritório de contabilidade não se mede pelo número ascendente de clientes mas por se fazer um bom trabalho, que implica não falhar prazos, com os que se tem.
Apesar das novas tecnologias e dos programas informáticos estarem a facilitar o trabalho dos contabilistas, na Abranconta ainda são visíveis largas dezenas de dossiês que Américo Alves gosta de guardar pelo menos durante dois anos por uma questão de organização. E de hábito, talvez. Mas o caminho, afiança, é para o digital. “Vai chegar o dia em que já não queremos saber dos papéis para nada”, vaticina o contabilista que regressou da Austrália, onde tem uma filha e dois netos, depois de lá ter estado meio ano, sempre a trabalhar remotamente para os clientes da Abranconta.
Américo Alves não se imagina parado. Embora já se tenha reformado e deixado de ser gerente da empresa continua nas funções de contabilista. “Gosto do que faço, sempre gostei e continuo a gostar”. Confessa, no entanto, que gostava de ter mais tempo para se dedicar à vinha que plantou em Rossio ao Sul do Tejo, onde vive com a esposa. “Qualquer dia eu e o meu sócio temos que vender a empresa, estamos velhos”, atira entre risos. Além disso, conclui, temos os nossos funcionários e os nossos clientes que gostávamos que continuassem a ter os nossos bons serviços”.

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