Susana Magalhães: “a morte sempre me despertou curiosidade”
Susana Magalhães deixou a estética a tempo inteiro e abriu com um novo conceito a Funerária de Vialonga. Na sua opinião a morte não é um tabu, mas uma oportunidade de trazer conforto, compaixão e uma visão única àqueles que enfrentam a inevitabilidade.
Transmitir respeito e dignidade aos falecidos e apoio emocional aos que enfrentam a dor do luto é a marca que quer deixar.
A morte é um mistério que tem intrigado a curiosidade humana ao longo da história e Susana Magalhães, de 36 anos, sempre se interessou pelo tema. Em criança assistiu às cerimónias fúnebres de três avós que foram velados em casa, um hábito que era comum no norte do país. Mais tarde, aos 20 anos, perdeu o pai, mas nunca teve medo de viver com a perda de um pilar; sempre acreditou que quem morre vai para um sítio melhor independentemente da sua crença.
Após 17 anos dedicados à área da estética, dos quais 12 anos a trabalhar de forma independente, Susana Magalhães aventurou-se há três anos e comprou a Funerária de Vialonga. Sem ter conhecimentos na área, uma conversa ocasional com uma cliente acabou por definir o seu rumo profissional. “Conheci a esposa do senhor a quem comprei a funerária. Foi um acaso. Surgiu numa conversa a atender a cliente e perguntei, por curiosidade, se era difícil abrir uma funerária. Os meus amigos já sabiam que tinha esta vontade, mas ainda acreditam que é tudo muito sobrenatural e não tem nada a ver”, conta.
Fez formações em gestão de agências funerárias, psicologia do luto e como tratar dos corpos. O marido também se lançou na aventura e fez formação que lhe permite ser hoje em dia o director técnico. Curiosamente Susana Magalhães diz que se sente mais sobrecarregada após um dia de trabalho na estética do que um dia de funerária a preparar corpos. “Lembro-me da primeira vez que toquei num falecido. Era Inverno e o corpo estava gelado. Não fiquei impressionada de olhar para o corpo, mas sim do frio que senti no toque”, relembra. Outro dos momentos que não esquece foi a morte de uma criança quatro dias mais nova que a sua filha. Emocionou-se com os pais, mas não com o pequeno corpo que transmitia paz como se estivesse a dormir.
Em Vialonga já fez funerais de várias nacionalidades. Em alguns cantam e levam instrumentos musicais. Mas o que as famílias mais pedem na hora da morte é que o ente querido leve um terço nas mãos, um santo específico, cachecóis dos clubes e faixas nos mais jovens. Também entregam a Susana o perfume do familiar para ser colocado no momento da despedida. “As causas da morte que me fazem pensar são os suicídios. Mesmo quando os estou a vestir e a prepará-los questiono o que os terá levado a fazer isso. Através do corpo consigo perceber se foi ou não uma morte tranquila. O posicionamento dos pés, mãos, a boca serrada, nota-se que algumas pessoas sofrem antes de morrer”, lamenta.
Tornar leve a despedida
Susana Magalhães assume-se como uma mulher trabalhadora e que luta por aquilo que quer. Relembra que na altura da pandemia trabalhou sábados, domingos e dedicou horas à funerária. O objectivo a curto prazo é remodelar o espaço para tornar o momento de despedida mais leve. No final de Setembro vai mudar a imagem e acabar com os tons de preto. A aposta será no branco e azul. “Quero que os clientes se sintam como se estivessem numa casa e bem acolhidos. Acredito em Deus, mas tirei as cruzes todas para acolher todas as crenças. Já alterei o logotipo que foi todo pensado por mim. Umas mãos a confortar o coração da pessoa e uma estrela porque acredito que todos que partem se tornam estrelinhas”, diz sorridente.
A Agência de Vialonga vai também apostar nas redes sociais como um espaço de partilha de mensagens positivas que ajudem a tornar o luto mais leve e não apenas um meio para publicar óbitos. Neste momento Susana Magalhães diz que as pessoas estão a optar mais pela cremação, principalmente as mais novas, porque têm menos tempo. O cemitério traz mais sofrimento e o custo de uma campa básica vai depois igualar o custo de uma cremação.
Desfaz o mito de que as crianças não devem assistir a funerais e defende que não se devem criar barreiras em relação à morte. “Aconselham a partir dos seis anos, mas depende. É bonito entrar numa capela e ver as crianças que fizeram parte da vida daquela pessoa a brincar. Já me aconteceu uma cliente perguntar se a neta de nove anos podia assistir ao funeral do avô. Respondi que sim, desde que a cerimónia seja explicada aos mais pequenos”, vinca.