Identidade Profissional | 14-11-2023 07:00

“Temos de ser bons naquilo que fazemos seja em que área for”

“Temos de ser bons naquilo que fazemos seja em que área for”
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Sérgio Jorge nasceu em Vale do Paraíso, freguesia do concelho de Azambuja, onde vive e trabalha

Sérgio Jorge pensou seguir um percurso ligado à agricultura, mas foi na oficina fundada pelo seu pai, em 1990, que construiu a sua carreira como pintor automóvel. Ao longo dos anos foi acompanhando a evolução do sector e a crescente falta de mão-de-obra.

Sérgio Jorge não sabia, aos 21 anos, o que queria fazer profissionalmente. Depois da passagem pela tropa, ainda obrigatória à época, e de ter desistido dos estudos numa escola agrícola, acabou por se convencer a experimentar o labor na oficina que o seu pai acabava de fundar, na Rua da Paz, em Vale do Paraíso, concelho de Azambuja. “Comecei a passar umas horas a observar, em silêncio, o bate-chapas, o pintor e o mecânico. Acabei por ganhar gosto pela repintura automóvel”, conta, vincando que é uma profissão interessante, mas infelizmente pouco valorizada.
“A pintura sempre foi o parente pobre das oficinas e continua a ser”, prossegue, explicando que quando começou na profissão os pintores tinham que trabalhar mais horas que os mecânicos e bate-chapas. Como se o trabalho que faziam não fosse meritório ou exigisse pouca técnica e conhecimento. A mesma desvalorização chegava - e continua a chegar - da parte das seguradoras que tentam pagar valores que considera insuficientes quando se trata de repintura.
Talvez seja também por causa dessa desvalorização que a profissão atrai cada vez menos interessados. Mas sobre este tema, Sérgio Jorge tem uma visão muito própria: “acho que esta geração mais nova tem muita falta de ambição, responsabilidade e tem até um certo desmazelo pela própria personalidade. Depois criamos uma cultura das novas tecnologias e os jovens gostam é de estar num trabalho onde podem estar com uma mão no telemóvel. A repintura é exigente, não podemos estar a olhar para o lado”. Actualmente, acrescenta, dá-se por contente por ter um jovem de 25 anos a quem está a ensinar a profissão. “É interessado e gosto de ensinar. Já tive mais dois miúdos a aprender mas que foram embora ao fim de uma semana porque [diziam] isto não era vida para eles”.
Durante o seu percurso profissional na Jorge & Filhos, onde trabalha com o pai, José Jorge e o irmão e mecânico bate-chapas, Nuno Jorge, o pintor de 55 anos foi sempre actualizando os seus conhecimentos e melhorando as técnicas em formações, algumas feitas no estrangeiro, até porque a repintura automóvel é uma profissão tecnologicamente evoluída. “Temos de ser bons naquilo que fazemos seja em que área for, isso é que nos distingue dos outros”, afirma, defendendo que nem todos têm que tirar cursos superiores pois o mais importante é que independentemente do que façam se destaquem pela positiva.
“O nosso doente é o automóvel. Temos que fazer um bom diagnóstico, se não o fizermos nunca podemos fazer o tratamento correcto. Temos que conhecer os produtos que vamos aplicar e saber como o vamos fazer”, explica, vincando que não basta abrir uma lata de tinta e carregar no gatilho da pistola de pintura. E um trabalho bem feito, além de deixar o cliente satisfeito vai valorizar o aspecto visual e valor do automóvel, e, simultaneamente, criar uma espécie de camada protectora que preserva a viatura de possíveis agressões.
Pela sua importância e falta de mão-de-obra cada vez mais gritante há marcas que já estão a enviar para as oficinas peças, como pára-choques ou capas de espelhos retrovisores, pintadas de origem. Por outro lado, acrescenta, também há da parte das companhias de seguros menos interesse em enviar carros acidentados para as oficinas. “Mandam-nos para a sucata e indemnizam o cliente. Repare-se que há cada vez menos oficinas”, diz o pintor natural de Vale do Paraíso, que entende como fundamental cumprir os prazos dados ao cliente.

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