Identidade Profissional | 28-11-2023 07:00

Paulo Cunha: carreira de enfermeiro não é valorizada

Paulo Cunha: carreira de enfermeiro não é valorizada
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Paulo Cunha é enfermeiro especialista em reabilitação e tem a porta aberta em Samora Correia

Com uma carreira de enfermeiro com mais de duas décadas Paulo Cunha está empenhado em fazer crescer a Habisaúde & Orto, em Samora Correia. Especialista em reabilitação, o profissional de saúde deixou o Serviço Nacional de Saúde e passou a dedicar-se aos serviços ao domicílio. Considera que a carreira de enfermeiro precisa ser valorizada.

Uma fractura no fémur levou Paulo Cunha, 46 anos, a ter o primeiro contacto com a enfermagem. Andava no ensino secundário e por ter partido a perna a jogar à bola teve de ser internado no Hospital Curry Cabral, em Lisboa. Durante a estadia observou o trabalho dos enfermeiros e quando terminou o 12º ano escolheu como primeira opção o curso de enfermagem. O vizinho, um ano mais velho, também ingressou na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, o que o motivou ainda mais.
Nunca deu valor ao facto de serem mais mulheres do que homens nesta área. Nos três anos em que fez o bacharelato a turma era composta por 30 mulheres e cinco rapazes. Em 1998, quando terminou o curso, viu-se como enfermeiro generalista para poder trabalhar em qualquer lado. Mas por influência de um grupo de enfermeiras começou a trabalhar no Instituto Português de Oncologia (IPO), em cirurgia geral, com quatro colegas. “Foi uma experiência riquíssima. Um miúdo de 21 anos a lidar com o sofrimento e a morte obrigou a um crescimento muito rápido”, relata.
Foram seis anos no IPO, período que guarda na memória. O mais marcante, mas que na altura não se apercebeu, tem a ver com o fim de vida dos doentes. A pressa dos afazeres diários não dava espaço para proporcionar aos pacientes e famílias um final de vida resguardado e tranquilo. “Não existia um local para as pessoas passarem os últimos momentos em família e isso hoje faz-me confusão. Ainda acontece em muitos sítios e a humanização dos cuidados falha bastante”, diz.

Emigrar nunca esteve nos planos
Fazer turnos no IPO não ajudava a vida familiar e como ia ser pai decidiu começar a trabalhar na Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) de Sacavém, no concelho de Loures, onde residia à época. Depois foi enfermeiro durante dois anos e meio na Unidade de Saúde Familiar de Vialonga e posteriormente ingressou na UCC de Vila Franca de Xira. Na altura já estava a morar no concelho de Benavente.
Como fazia domicílios foi estudar novamente e especializou-se em reabilitação. Queria fazer a diferença na vida dos utentes. “Sorte ou azar, o coordenador da UCC saiu e eu era o único enfermeiro especialista e que reunia condições para coordenar a unidade. Assumi a responsabilidade de 2013 a 2019. Era muito exigente mas guardo com carinho o que fizemos em equipa naquela unidade”, recorda.
Para o profissional de saúde a carreira de enfermagem está mal há 30 anos. Paulo Cunha deixou de trabalhar para o Estado porque quando saiu das funções de coordenador da UCC de Vila Franca de Xira a lei obrigava-o a andar com a carreira para trás e voltar a ser enfermeiro do primeiro escalão. “A minha carreira está tão bem feita que eu era enfermeiro especialista e pagavam-me como tal e quando quis sair do cargo de chefia uma lacuna na lei remeteu-me para o primeiro escalão, ao fim de mais de 20 anos de enfermagem e com responsabilidade acrescida. Foi uma revolta enorme e psicologicamente devastador. Senti-me desvalorizado”, conta.
Emigrar nunca esteve nos planos. Talvez cobardia, afirma, mas sobretudo um apego às suas raízes e à família. Tem dois filhos, um com 13 e outro com 19 anos. Felizmente, diz, não foram para a área da saúde como o pai e a mãe, também enfermeira.

Dedicação aos doentes
Quando deixou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) começou a trabalhar em Samora Correia, no Lar Padre Tobias. Pouco depois começou a pandemia. “Foi uma época extremamente difícil para mim porque um dos locais mais visados eram os lares. Um dia fizemos testes e alguns utentes e profissionais estavam infectados com Covid-19. Lidar com o risco foi complicado”.
A experiência levou a que Paulo Cunha prestasse cuidados de saúde em lares. A juntar aos domicílios que já fazia resolveu ter o próprio negócio. Assim nasceu em Samora Correia a Habisaúde & Orto, que não é só uma loja de produtos médicos e ortopédicos mas engloba um conjunto de serviços. Uma funcionária abre a porta da loja e é possível adquirir equipamentos de saúde em segunda mão como, por exemplo, cadeiras de roda e camas articuladas.
Paulo Cunha presta serviços de enfermagem a muitas pessoas que não têm resposta nos cuidados de saúde primários, mas também reabilitação ao domicílio de doentes que precisam recuperar de um Acidente Vascular Cerebral ou que estiveram muito tempo sem se mexer. Pedicure medical, osteopatia e nutricionismo são outras vertentes do negócio. A curto prazo Paulo Cunha quer melhorar a divulgação dos serviços de saúde e continuar a dedicar-se de corpo e alma aos doentes que acompanha e aos quais dedica a maior parte do seu tempo.

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