“Carga fiscal é uma injustiça para as empresas que querem inovar”
Vítor Boto gere a empresa Ajovimasil, em Samora Correia, que herdou do pai. Um negócio que enfrenta dificuldades na contratação de mão de obra especializada e que se vale da formação e experiência dos funcionários mais antigos.
É difícil contratar mão de obra qualificada desde que acabaram os cursos industriais. Este é um dos desafios sentido por Vítor Boto na gestão da Ajovimasil, empresa de Samora Correia especialista na captação e furos de água e bombas de água. Nascido e criado em Samora Correia, herdou a empresa do pai há 30 anos. Um negócio com 62 anos e que continua a ser o único no concelho de Benavente.
Quando a empresa surgiu havia falta de água e o pai inventou uma bomba de eixo vertical para fazer furos de captação. Na altura chegou a registar a patente. Hoje a invenção está desactualizada e com as bombas que são feitas na China deixou-se de fabricar em Portugal. Vítor Boto cresceu na empresa que hoje comanda. Com nove anos já ajudava o pai sem nunca ter deixado de estudar. Terminou o 12º ano e fez o ensino complementar em Alverca. Ingressou na faculdade para tirar o curso de engenharia mecânica no horário pós-laboral, mas não chegou a concluir. “Evoluí o negócio ao longo dos anos. O meu pai usava máquinas rudimentares e eu fui aos Estados Unidos da América comprar uma máquina rotativa americana. Hoje temos cinco a perfurar”, explica.
Acorda todos os dias às 06h30, incluindo fins-de-semana e feriados. Dorme pouco e não se consegue deitar antes das uma da manhã. Por isso sempre dedicou muitas horas à empresa. “Eu sou como os carros. O que conta não é a idade mas os quilómetros. E eu tenho muitas horas de trabalho”, revela.
Novas instalações
A Ajovimasil emprega 14 funcionários, alguns com mais de 20 anos de casa. 60% dos clientes são do Ribatejo e 40% do Alentejo. A empresa não tem vendedores a trabalhar na rua porque não precisa, refere, acrescentando que os clientes ainda se conseguem por recomendação apesar da ajuda das redes sociais. Os funcionários dão formação todos os anos a novos trabalhadores. Mas é difícil convencê-los que o trabalho não tem horários, lamenta.
Vítor Boto tem cinco filhos, três rapazes e duas raparigas. Só um vai garantir a continuidade do negócio. Terminou recentemente o curso superior de engenharia mecânica e está a aprender com o pai. A empresa vai ter novas instalações na Zona Industrial de Samora Correia. São 1.800 metros quadrados de área coberta onde vão ficar os escritórios, além das máquinas que já lá estão. A empresa continua a apostar na inovação. Vítor Boto fez uma broca nova para furar pedra em que o custo de fabricação ronda os três mil euros e a mais parecida custa oito mil euros e só existe nos Estados Unidos.
O empresário vê com bons olhos a construção do novo aeroporto no Campo de Tiro mas diz que têm de ser criados melhores acessos. “Sempre me dei bem com todos os nossos presidentes de câmara, mas acho que não têm feito muito pelo concelho. Temos maus acessos, a Ribatejana presta um mau serviço e temos falta de estacionamento. O município não projectou o futuro, mas vai ser ultrapassado pela própria evolução da vida”, refere.
A carga fiscal em Portugal é uma injustiça para as empresas que querem inovar. Vítor Boto considera que existe um desincentivo para não se fazer nada uma vez que quem factura mais do que 500 mil euros é ainda mais penalizado. Quando o filho assumir a empresa, Vítor Boto vai abrandar o ritmo para ter tempo de almoçar com os amigos e dedicar-se à caça, o seu passatempo favorito.