Identidade Profissional | 14-02-2024 07:00

A jovem que concretizou o sonho de abrir uma mercearia à moda antiga

A jovem que concretizou o sonho de abrir uma mercearia à moda antiga
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Joana Sequeira é natural de Aveiras de Cima e abriu o seu negócio no Cartaxo

Num tempo em que as mercearias tradicionais fecham e o comércio local vai tendo cada vez menos expressão, Joana Sequeira resolveu abrir uma mercearia à antiga no coração do Cartaxo. A Quertuda é o projecto idealizado por uma jovem de 26 anos que estudou arquitectura e trabalhou nas obras com o seu pai.

A loja onde nasceu a Quertuda estava fechada há algum tempo depois de ter sido um ginásio, uma chocolataria e uma agência bancária. Situada no centro da cidade do Cartaxo pareceu a Joana Sequeira um espaço onde cabia o seu sonho: abrir uma mercearia de antigamente, daquelas com móveis antigos onde o grão se vende a granel e o café é moído num moinho. Tal e qual como aquela que a avó Bazaliza frequentava nos seus tempos de juventude em Aveiras de Cima, concelho de Azambuja, e que Joana observava, encantada, através de uma fotografia. “Sempre tive um fascínio por restauro e essa fotografia foi o gatilho” para começar o projecto da Quertuda, que abriu portas no primeiro dia de Dezembro de 2022.
Com a ajuda do pai, com o qual trabalhou durante algum tempo nas obras - “sim, a acartar baldes de cimento e entulho”, enquanto era olhada com espanto por outros trabalhadores do sector - Joana Sequeira construiu de raiz todo o mobiliário que recheia a loja, inspirado nos típicos móveis em madeira das mercearias antigas. Demoraram dois anos a concluí-los mas, realça, ficaram tal e qual como idealizaram. “Aprendi muito com o meu pai e no tempo em que trabalhei com ele. Sou perfeccionista como ele”, afirma a jovem de 26 anos que estudou Arquitectura em Évora e estagiou num escritório de construção civil. Um percurso que nada teve a ver com as suas aspirações de infância quando se imaginava como veterinária.
Os produtos que agora preenchem esses móveis de madeira envidraçados são os típicos mas de outros tempos: a pasta de dentes Couto; o Presto e Omo para lavar a roupa à mão; a farinhas Predileta, Amparo e Pensar; o Olex para deixar o cabelo platinado; e claro, o grão, o feijão, as massas e frutos secos vendidos a granel, tal como o café que é moído na hora num dos moinhos restaurados por Joana Sequeira. “Alguns dos produtos ainda são fáceis de encontrar, outros não”. Quanto às frutas e legumes Joana tenta ter na loja “o mais local possível”. Não é por isso estranho que as laranjas “sejam feias por fora e doces por dentro”, já que vêm directamente do pomar da família, assim como as clementinas, a salsa e as abóboras.

Conversar com os clientes e chamá-los pelo nome
Antes de abrir a Quertuda - nome que presta homenagem ao seu avô Adalberto, apelidado de Quertudo - Joana Sequeira quis ganhar experiência atrás de um balcão. Esteve na cafetaria de uma área de serviço e, garante, não é um sítio fácil para se começar a vida laboral, mas ensina a lidar com todo o tipo de clientes. Os que chegam felizes e os que estão zangados e descarregam em quem os está a atender. “Para se estar atrás de um balcão é preciso muito estômago. Porque muitas vezes nós é que levamos com tudo”, explica.
Para quem observa a relação de Joana Sequeira com os clientes da Quertuda não parece difícil: ela ajuda a escolher a folha de bacalhau, a pôr a quantidade certa de detergente da roupa que se quer levar para casa e ainda convida a desfrutarem de uns minutos à conversa numa das cadeiras dispostas do lado de dentro, junto à montra do estabelecimento. A maior parte dos clientes é constituída por pessoas idosas que ali procuram sabores e memórias antigas, mas também um momento de convívio. E Joana não se importa nada com isso, pelo contrário. “Já em miúda nunca me dava com as crianças, preferia ficar com as pessoas mais velhas. Por isso gosto de estar a conversar. É fundamental para quem tem um negócio conhecer os clientes, tratá-los pelo nome e ser-se bom ouvinte. Ajuda a criar vínculo entre cliente e vendedor”, defende.
Esta jovem que gosta de ser independente e foi ensinada a não ter medo de arriscar não se arrepende de ter aberto uma mercearia num tempo em que o comércio local já teve mais fama e viu melhores dias. No entanto, lamenta, há factores que pesam e que podiam ser atenuados precisamente para incentivar o comércio. Exemplo disso, especifica, é a carga de impostos e a falta de estacionamento. Mas, o maior desafio, conclui, é mesmo o consumidor porque “se este não tiver dinheiro para gastar não faz compras”.

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