“Cada vez mais pessoas deixam o seu funeral pago e planeado”
Joaquim Pinto trabalhou como moleiro, foi funcionário público, vendedor de produtos veterinários até abrir a Agência Funerária Pinto&Rosário, em 1979, em Rio Maior, sua terra natal. O seu sócio entretanto saiu e o empresário garante o funcionamento do negócio com um dos seus filhos e mais dois funcionários. O número de cremações tem aumentado todos os meses e a tendência é continuar.
Assim que concluiu a escola primária Joaquim Pinto foi trabalhar como moleiro em Rio Maior, terra onde nasceu e ainda vive. Ainda passou pela escola comercial de Rio Maior mas foi moleiro até ser chamado para a tropa, tendo passado por Castelo Branco, Tancos e Lisboa. Confessa ter sido uma grande experiência onde ganhou ainda mais sentido de responsabilidade e respeito pelo outro. Quando saiu da tropa foi trabalhar para a Câmara de Rio Maior: primeiro na cobrança de água, tendo depois passado para a secretaria do município até 1974 quando decidiu sair. “Na altura ganhava-se muito pouco como funcionário público e saímos vários no mesmo ano”, recorda a O MIRANTE.
Tornou-se vendedor de produtos veterinários numa empresa espanhola onde ficou até 1989. A ideia de criar a sua própria agência funerária surgiu em 1968 quando ainda estava na Câmara de Rio Maior. Na década de 60 do século passado existiam muitos acidentes na zona de Rio Maior e era rara a semana ou o mês, explica Joaquim Pinto, em que não havia dois ou três mortos. Naquela altura não existiam muitas agências funerárias e por isso surgiu-lhe a ideia de criar negócio naquele ramo. Falou com um amigo para abrirem a agência e telefonaram para uma empresa no norte do país a perguntar quanto custava um carro funerário. “Custava 300 contos. Era um balúrdio e não avançámos nessa altura mas nunca esqueci a ideia”, refere o empresário de 81 anos.
Em 1979 concretizou o sonho e abriu a Agência Funerária Pinto&Rosário em sociedade com o amigo. O mais difícil foi lidar com o cheiro dos corpos mortos. Joaquim Pinto admite que esteve para desistir mas um senhor que era médico, já falecido, incentivou-o e quase o obrigou a não ceder. “Segui o seu conselho. Uma vez levou-me à morgue onde assisti a algumas autópsias e habituei-me. Não me arrependo de ter continuado. Foi a melhor decisão que tomei”, garante.
O empresário recorda que naquele tempo era tudo muito dispendioso. Chegou a levar um corpo de Rio Maior até Miranda do Corvo [distrito de Coimbra] que demorou sete horas de viagem por caminhos por alcatroar e sem muitas condições. Hoje, defende, é tudo muito mais rápido e prático. Actualmente trabalham na zona de Rio Maior e concelhos limítrofes. “Há cerca de duas semanas fui buscar um corpo a Lisboa porque não havia funcionários disponíveis. Estou quase sempre na loja mas quando é preciso ajudo noutras coisas”, garante, acrescentando que sempre que lhes pedem também vão buscar ou levar corpos ao estrangeiro.
Joaquim Pinto explica que o número de cremações tem aumentado e a tendência é para continuar a subir. Actualmente, há quem já deixe o funeral planeado e pago por querer que seja à sua maneira e não à maneira da família. Também Joaquim Pinto já tem o seu funeral planeado e já decidiu como quer tudo quando chegar o momento, que espera que ainda esteja longe. Entretanto, o seu sócio mudou de vida e o empresário ficou sozinho com o negócio. São quatro funcionários e o seu filho, Luís Pinto, que trabalha consigo e por isso a continuidade da empresa está assegurada.
Joaquim Pinto confessa que os funerais de crianças e jovens são sempre os mais difíceis de realizar. Os funerais mais difíceis foram os dos seus pais. “Tratei de tudo mas veio um colega de Santarém que fez questão de tratar do funeral dos meus pais. O carro funerário era da minha empresa mas ele é que fez tudo com a sua equipa. Fiquei-lhe muito grato. Consigo ter amizades com colegas deste ramo”, garante.
O empresário vai todos os dias para a loja, no centro da cidade, e enquanto puder vai continuar a trabalhar. Garante que o segredo do sucesso é a simpatia, serviço de qualidade, sensibilidade ao falar com a família enlutada e também não exagerar nos preços. “Um amigo médico ensinou-me que sejam as pessoas pobres ou ricas devem ser tratadas por igual, com respeito”, conclui.