Bruno Violante apaixonou-se pela arte de transformar o velho em novo
Com apenas 16 anos, Bruno Violante viu-se obrigado a trocar a escola pelo trabalho. Fez-se estofador e há quase duas décadas teve a audácia de fundar a sua própria empresa em Torres Novas. Exigente com o seu trabalho, já passaram pelas suas mãos relíquias automóveis como um Rolls-Royce antigo e peças bizarras como uma cadeira de execução trazida duma guerra.
Nascido na aldeia de Arneiro das Milhariças, concelho de Santarém, Bruno Violante, o mais velho de quatro irmãos, teve de largar os livros antes de tempo para ajudar às despesas da casa. Foi assim que, aos 16 anos, aprendeu a arte que viria a ditar o seu percurso profissional: ser estofador. Primeiro como trabalhador por conta de outrem numa empresa onde esteve cerca de 14 anos, depois na que o próprio fundou a 1 de Março de 2007, a oficina do Estofador O Violante, em Torres Novas.
A vontade de iniciar o seu próprio negócio começou a desenvolver-se cedo e assim passou a ser estofador de primeira categoria. “Trata-se de um trabalho muito moroso e minucioso no qual é preciso sujar as mãos até a peça ficar perfeita”. Apesar de se destacar no sector, oferecendo soluções para todo o tipo de estofamento em mobiliário, nomeadamente sofás, cadeiras, cabeceiras de cama e, sobretudo, na vertente automóvel, estofando deste tectos, a bancos, foles, volantes, forras de porta e alcatifamentos, Bruno Violante não se intitula de empresário. “Esses são aqueles que se sentam a analisar números. Fiz desta empresa o meu cavalo de guerra para tentar sair de uma família pobre e pouco remediada para ter algo mais na vida”, conta a O MIRANTE no escritório da oficina onde existem centenas de amostras de tecido para estofar.
Apesar da exigência que é gerir uma empresa da qual dependem mais três profissionais, e dos “pesados” impostos a que está sujeito, Bruno Violante considera que trabalhar por conta própria traz maior realização pessoal e profissional e “uma liberdade” que aprecia. O seu pai, Miguel Violante, foi o seu primeiro funcionário na altura em que abriu a oficina numa loja a 200 metros da actual em Torres Novas. “Actualmente trabalha cá o meu irmão e já cá trabalhou outro. Mas nem sempre é fácil trabalhar com a família”, reconhece.
No Estofador O Violante a especialidade e a principal actividade são os trabalhos de restauro interior de automóveis. É também o mais rentável e um dos que mais gosto lhe dá fazer sobretudo se se tratar de um carro antigo como o Rolls-Royce com valor estimado em meio milhão de euros que restaurou na sua oficina ou o mini de 1979. Actualmente está a trabalhar no restauro interior de Datsun 1.600 dos anos 60. Se ainda há muita gente a reaproveitar? Bruno Violante responde afirmativamente sublinhando que nalguns casos fazem-no pelo valor sentimental da peça tendo em conta que “existe grande oferta no mercado com a qual este tipo de empresas não consegue concorrer”.
Em 17 anos de actividade, na oficina situada na Rua de Santo António, além das relíquias automóveis já apareceu todo o tipo de peças, desde as mais banais às mais bizarras. “Um dia, logo no início da actividade, um senhor trouxe uma cadeira eléctrica utilizada em execução de pena de morte ou tortura durante um período de guerra. Quem a trouxe dizia que lhe fazia lembrar desses tempos. Acolchoamo-la, pusemos-lhe uns braços novos e nem quisemos saber das histórias que já se tinham passado naquela cadeira”, recorda o estofador, de 44 anos, que após mais de 25 anos de actividade não se imagina noutra. “Sou exigente, perfeccionista e gosto daquilo que faço. Desta oficina não sai um trabalho mal feito e sou eu mesmo quem se certifica disso”, remata.