“Maior parte da água de rega é mal gasta”
Miguel Agostinho seguiu as pisadas do pai e formou-se em arquitectura paisagista. Casado e pai de quatro filhas, mudou-se de Vila Franca de Xira para Samora Correia e abriu a Hortus eco design e Hortus eco irrigation no Porto Alto.
Com 18 anos de carreira, o que mais gosta no seu trabalho é de ver um jardim a ser projectado de raiz e é bastante critico em relação à gestão pública da água.
Miguel Agostinho cresceu no meio dos jardins e máquinas de cortar relva. Quando nasceu o pai já tinha uma empresa de construção e manutenção de espaços verdes, em Vila Franca de Xira. Saía da escola e ia para os viveiros de plantas trabalhar e no primeiro dia de férias escolares, em vez de ir divertir-se, agarrava na mochila com o almoço e entrava na carrinha com os funcionários do pai para ir aprender.
Quando chegou altura de decidir o curso a seguir, naturalmente optou pela licenciatura em arquitectura paisagista. Estudou cinco anos na Universidade do Algarve e foi aí que viveu não só a aventura do conhecimento científico mas também a de viver sozinho e gerir o dinheiro. “Foi uma aprendizagem fantástica”, recorda. Estagiou num conceituado gabinete de arquitectura paisagista, em Lisboa, mas quando foi convidado para ficar decidiu entrar no mundo da construção de jardins e projectos. “O que mais me motiva é ver a obra crescer, a evolução. Quando construímos uma casa ela é imutável, podemos mudar a cor, colocar mais janelas, mas não muda. Um jardim está sempre em mutação”, conta.
Miguel Agostinho está à frente da Hortus eco design e Hortus eco irrigation, com sede no Porto Alto, numa altura em que a responsabilidade de ter assinatura num projecto é cada vez maior.
É crítico quanto à forma como as entidades têm gerido o recurso água. É contraproducente cortar água nos espaços verdes porque se corta também a biodiversidade, a quantidade de carbono que é absorvido pelas plantas e provoca-se um aumento das temperaturas. “É completamente o contrário do que vendem na televisão. O que tem de haver é uma real e eficaz gestão da água. As plantas não precisam ser regadas todos os dias”, diz.
Desafios antigos
Os desafios nesta área são os mesmos desde há 50 anos. A quantidade de água disponível hoje é menor, mas já então se falava em gerir este bem precioso. “O poder político e os técnicos que gerem este recurso, que estão à frente das entidades, é que não mudaram. Fazem as coisas pelo voto e do que dá likes nas redes sociais”, critica.
Miguel Agostinho já negou trabalhos de clientes que pedem para colocar relvados artificiais. Quando chove muito a água tem de ter zonas para se poder infiltrar para evitar inundações. E quando se inventam relvados artificiais é um contra-senso de quem se diz ecologista. “Pôr cimento e um relvado artificial por cima não é uma zona verde. A maior aberração é colocar relva artificial. Não se poupa na água e só diminui a sua quantidade nos solos porque os impermeabilizamos. Só tem vantagens estéticas porque fica bonito o ano inteiro”, critica.
A empresa gere e vende os projectos de sistema de rega para outros arquitectos paisagistas. Já recebeu pedidos engraçados em Portugal e Marrocos. Um dos maiores desafios foi o jardim que fez na zona da Comporta. As surpresas que encontrou no solo ditaram a alteração ao projecto inicial.
A Hortus eco irrigation está a um passo de se tornar a representante no país de um novo equipamento para retenção de água e diminuição das regas. O objectivo a médio prazo é apresentar aos municípios e entidades privadas o sistema que tem particular aplicação na diminuição do número de regas nos campos de golfe. “A maior parte da água é mal gasta pelos tempos de rega. O chamado pulverizador camarário já devia ter saído do mercado. Mas as empresas que estão agarradas tipo lapas aos municípios não querem mudar e é difícil implementar outras metodologias”.