Identidade Profissional | 13-05-2024 21:00

“Na minha altura ser carpinteiro era uma profissão que interessava aos jovens”

“Na minha altura ser carpinteiro era uma profissão que interessava aos jovens”
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Carlos Vieira fezse carpinteiro aos 25 anos dando seguimento à empresa fundada pelo pai

Carlos Vieira fez-se carpinteiro aos 25 anos dando seguimento à empresa fundada pelo pai quando ainda era uma criança. Aos 53 anos, o sócio-gerente da Vieira&Pedro, em Alcanhões, diz que a carpintaria evoluiu muito tecnologicamente mas que, ainda assim, não consegue seduzir a juventude. Com 45 obras a decorrer em simultâneo e prazos sempre apertados, o empresário elogia a equipa coesa e experiente que o acompanha.

Pode dizer-se que Carlos Vieira foi criado na carpintaria fundada pelo pai e o tio em 1973, quando tinha apenas três anos. Era ali, nas instalações da Vieira&Pedro, sediada em Alcanhões, Santarém, que passava os tempos livres entre a brincadeira e a ajuda que dava nos trabalhos juntamente com o irmão mais novo. “Depois da escola era quase rotina. Ajudávamos a limpar e a cortar materiais. Era algo de que gostava”, refere, explicando que, nessa altura, estava ainda longe de imaginar que seria ele o futuro daquela empresa.
Depois de uma primeira experiência profissional na panificadora de Alcanhões, seguiu-se uma passagem pelos Comandos, força especial do Exército, até que, por fim, tomou a decisão de fazer da carpintaria a sua profissão. “Não posso dizer que havia uma pressão por parte do meu pai para seguir com a empresa, mas ele incutia o compromisso de alguém ter de segurar isto”, conta, explicando que entrou na empresa para aprender o ofício e não para se sentar à secretária. “Levo intensamente todos os projectos em que me ponho. Foram os clientes que me fizeram comprometer com a empresa”, refere.
Nessa altura, tinha Carlos Vieira 25 anos, “ser carpinteiro era uma profissão que interessava aos jovens”, tanto que as pessoas da sua idade actual - 53 anos - que “aprenderam a trabalhar em carpintaria, e que são bons carpinteiros, têm hoje uma procura imensa e conseguem ter um salário muito interessante”. Já nestes tempos, essa, como tantas outras profissões tradicionais, deixaram de seduzir a juventude que prefere áreas que exijam cursos superiores e tragam mais notoriedade junto da sociedade.
Algo que, para Carlos Vieira, não faz grande sentido. “Todas as profissões são importantes e nem todos os miúdos conseguem ter uma profissão dessas - que exigem anos de estudo - e muitos podiam tirar um curso profissional nesta área e ter sucesso”, afirma, ressalvando que “a carpintaria mudou” e exige hoje conhecimentos ao nível da informática. “Se antes se trabalhava com uma serra e outras ferramentas manuais hoje é quase tudo computorizado”, explica.
Apesar de ter uma equipa coesa e muito profissional, composta por 16 funcionários, alguns com 23 anos de casa e 40 de experiência no sector, “a falta de mão-de-obra não deixa de ser um problema”. Ainda assim, refere, a Vieira&Pedro tem conseguido - também recorrendo a equipas externas - assegurar 45 obras a decorrer em simultâneo sem falhar com os prazos com os quais se compromete. O que acontece por vezes, lamenta, é que a parte da construção derrapa no tempo e, inevitavelmente, a carpintaria tem que esperar até poder entrar em acção.

Sector que vivia do trabalho manual evoluiu tecnologicamente
Foi também para assegurar que os prazos são cumpridos, assim como para garantir a perfeição nos trabalhos que desenvolvem em madeira, que a Vieira&Pedro investiu em maquinaria de ponta, tecnologicamente avançada. “Este sector evoluiu muito, a maquinaria trouxe mais rapidez e qualidade ao nosso trabalho”, afirma, acrescentando que o que “embeleza 95% da obra é a carpintaria”, pois quando se recebem visitas em casa estas reparam logo “na cozinha, nos roupeiros, nas portas e chão”. Além disso, acrescenta, o cliente está “mais informado, sabe o que quer e vai ao pormenor”.
Outra evolução, destaca, é que hoje o cliente já não corre o risco de transmitir uma ideia do que pretende e esta ser executada da forma errada, pois na sua empresa há preparadores de obra com a responsabilidade de desenvolver o projecto, que não avança para fase de produção sem antes ter sido aprovado pelo cliente. “Aqui, carpinteiro e cliente falam a mesma linguagem. O risco de correr mal foi completamente minimizado”, diz.
Carlos Vieira está hoje mais ligado a questões burocráticas e num trabalho constante de melhoria e modernização da empresa do que, propriamente, ligado à oficina. “Temos máquinas com as quais já não consigo trabalhar”, diz. Também lá em casa, brinca, há muito que deixou de fazer os pequenos biscates por “falta de paciência”, preferindo “chamar alguém” para tratar do assunto. Enquanto empresário gostava que o Governo suavizasse a carga fiscal e fosse garantido um apoio jurídico mais célere. Quanto à Vieira&Pedro, conclui, “estamos numa fase estável e felizmente com muito trabalho”.

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