“Às vezes uma palavra de conforto cura mais do que muitos comprimidos”
Margarida Santos é directora técnica da Farmácia Romeiras, no Forte da Casa, e continua com a irmã, Luísa Daniel, o legado dos pais ao liderar a farmácia mais antiga da vila. Passou a infância no estabelecimento e por isso desenvolveu uma forte ligação à profissão.
Diz que com a actual falta de médicos nos centros de saúde, as farmácias podem ser agentes de retaguarda para ajudar os utentes.
Com valores assentes na verdade, transparência e disponibilidade, Margarida Santos é directora técnica da Farmácia Romeiras, a primeira a abrir portas no Forte da Casa, há quase 45 anos. Cultiva diariamente, juntamente com as oito pessoas que ali trabalham, os valores da dedicação e de compromisso com a comunidade, mostrando que ser farmacêutica é muito mais do que um trabalho – é um acto de cuidar e estar presente na vida das pessoas, especialmente nos momentos em que mais precisam.
“Um farmacêutico não serve só para aviar medicamentos, tem de ter esse lado emocional de apoiar, escutar e apoiar quem nos procura. Aconselhar, ouvir, dar uma palavra de conforto. Às vezes uma palavra de conforto cura mais do que muitos comprimidos. Somos uma farmácia de proximidade e humanismo, valores que se estão a perder com o tempo”, refere a O MIRANTE. Margarida Santos, de 44 anos, é filha de Filomena e João Correia, os fundadores do estabelecimento. Desde pequena que Margarida cresceu ligada à farmácia, que começou com apenas dois funcionários – Filomena Correia e um técnico.
Margarida Santos nasceu em Lisboa e mudou-se para o Forte da Casa ainda bebé. Desde cedo começou a criar uma ligação forte com a farmácia, onde passava os seus tempos livres, e o seu interesse pela profissão de farmacêutica foi crescendo com o tempo. Recorda-se com carinho das brincadeiras com as caixas de transporte de medicamentos e das primeiras ajudas à mãe nas vendas de balcão, onde começou a aprender o ofício que viria a abraçar mais tarde. Embora a sua primeira paixão tenha sido o ballet clássico, Margarida não teve dúvidas ao escolher o curso de Farmácia para a sua formação académica.
Margarida e a irmã, Luísa Daniel, que também é farmacêutica e sócia-gerente, continuam o legado dos pais, mantendo a Farmácia Romeiras ao serviço da comunidade. O estabelecimento oferece um leque de serviços que vai além da simples venda de medicamentos. Desde a administração de vacinas da gripe e covid e injectáveis intramusculares, a testes rápidos ao colesterol, glicémia, gravidez ou até a medição da tensão arterial, tem também consultas de nutrição e podologia, incluindo um serviço de entregas ao domicílio e acordo com a Glovo.
Para Margarida Santos, o papel do farmacêutico é muito mais do que aviar receitas. “A disponibilidade e a dedicação fazem toda a diferença”, afirma. Defende a importância de se colocar no lugar das pessoas, de ouvir e de se preocupar verdadeiramente com a saúde de quem os procura. Esse compromisso com a comunidade é uma herança que recebeu da mãe, Filomena, que até hoje é lembrada pelo carinho e apoio que ofereceu a muitas pessoas ao longo dos anos, especialmente em momentos de dificuldade.
“Uma memória que guardo com bastante carinho, que a minha mãe me transmitiu, foi a de uma senhora que estava grávida e veio à farmácia dizer que não queria ter aquela criança, porque não tinha possibilidades financeiras nem tempo. E a minha mãe falou com ela, pediu-lhe para pensar bem, teve uma conversa bastante longa e a verdade é que a senhora que estava com a cabeça quente acabou por rever a sua vida e optou por ter a criança. Criou-a com bastante dificuldade mas hoje é uma miúda linda de morrer e sempre que aqui vem ambas lembram-se dessa história”, recorda.
Estado da saúde no concelho preocupa
Para a farmacêutica ainda há dinheiro para os medicamentos, mas já se notam algumas dificuldades e quem tenha de escolher, no final do mês, que medicamento levar. “Tentamos sempre ajudar nas situações que percebemos serem mais críticas”, confessa. A directora técnica defende a O MIRANTE que a actual situação dos centros de saúde no concelho, onde há grande falta de médicos de família, é preocupante. “Era de evitar tudo o que está a acontecer. Não consigo conceber como um centro de saúde no Forte da Casa, que era tão bem equipado, chega a este ponto e não haver orçamento para pagar decentemente a médicos. Eles saíram porque não eram pagos convenientemente comparativamente com outros sítios”, critica.
Margarida Santos defende que as farmácias podem ajudar os centros de saúde e os utentes como postos de atendimento de retaguarda. Assim a tutela o permita. “Antigamente muita gente antes de ir ao médico vinha ao farmacêutico e agora, com a falta de médicos nos centros de saúde, isso voltou a ser uma realidade. As pessoas têm pouca resposta aqui no concelho. Houve uma altura em que as pessoas ficaram aqui sem qualquer médico no Forte da Casa, com filas de espera desde as quatro da manhã, numa situação desumana”, lamenta.
Afirma que não gosta de mal-entendidos e não se considera viciada em trabalho. Tira-a do sério as injustiças. “Tenho o sonho de ver as pessoas da vizinhança entrarem aqui a sorrir e que vejam a farmácia como um estabelecimento onde não tenham de vir apenas por estarem doentes mas onde se lembrem de vir para melhorar o seu bem-estar ou prevenir outros problemas de saúde antes que eles apareçam”, conclui.