Identidade Profissional | 08-10-2024 21:00

“A administração pública em Portugal deixa muito a desejar”

“A administração pública em Portugal deixa muito a desejar”
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Francisco Bento é director do colégio O Nosso Jardim na Póvoa de Santa Iria

Francisco Bento cresceu entre Mafra e Torres Vedras, mas aos 18 anos mudou-se para Lisboa, onde se licenciou em Relações Internacionais. Com um percurso na política, foi dirigente da JSD e, apesar de social-democrata, aceitou desafios em governos do PS. Em 2015 adquiriu o primeiro colégio privado e continua a investir na educação. Na Póvoa de Santa Iria abriu o colégio O Nosso Jardim e nos próximos meses quer abrir mais um estabelecimento de ensino na mesma freguesia.

Francisco Bento passou a infância entre o concelho de Mafra, onde residia com os pais, e o concelho de Torres Vedras, onde estudou até aos 18 anos. Queria ser polícia ou professor mas após terminar o ensino secundário foi para Lisboa e concluiu uma licenciatura em Relações Internacionais na Universidade Autónoma. Depois ainda estudou Gestão.
Sempre gostou do mundo da política e dos 14 aos 30 anos fez parte da Juventude Social Democrata (JSD) de Mafra. Foi presidente da mesa da assembleia da JSD e vice-presidente na altura em que Pedro Passos Coelho era presidente da juventude partidária. “A política é boa mas é uma causa pública e eu não levo para o público o que é do privado, nem vice-versa. Sempre investi em empresas e sempre soube distinguir isso”, disse.
Assumido social-democrata ferrenho não deixou de aceitar o convite do Governo socialista entre 2000 e 2001. Foi convidado pelo PS, após a sua tese sobre a União Económica Monetária e na altura não sabiam a sua cor política. Defende que trabalha para qualquer empregador e nunca vira costas a um bom projecto. Considera que um verdadeiro democrata não vota no Chega porque tudo o que é extremo é mau. “O problema do André Ventura é não ler e não se informar, é puramente populista. Mas o português não é burro, está é farto e radicaliza”, considera.
Quando o Governo de António Guterres mudou, voltou a estudar e tirou uma pós-graduação em Administração e Políticas Públicas. Através de outras entidades começou a trabalhar para o Governo PSD onde implementou o sistema integrado de gestão e avaliação do desempenho na Administração Pública (SIADAP) de 2004.
“A administração pública em Portugal deixa muito a desejar. Há muita gente boa mas muita gente má. A administração do Estado tem de ser reformulada aos poucos e nunca houve um Governo que percebesse de gestão pública associada a objectivos. Não é falta de vontade política mas não querem mexer num ninho de vespas sem suporte”, afirma.

Investir em mais um colégio na Póvoa de Santa Iria
Francisco Bento fez nova licenciatura em Direito e ainda tem o cartão de advogado estagiário. Só foi para Direito para perceber por que razão os procedimentos no Estado demoram tanto tempo. Gosta de dar aulas e ainda hoje é docente de Economia no Agrupamento de Escolas Humberto Delgado, em Loures. Em 2015 comprou o primeiro colégio na Venda do Pinheiro. As coisas correram bem e conseguiu acabar o primeiro ano sem dívidas. “A educação tem apenas três requisitos essenciais: uma boa pedagogia; segurança escolar e alimentação. Se estes três tiverem qualidade temos a escola feita”, diz.
Em 2017 comprou mais um colégio na margem sul, depois outro em Sintra, no Algarve, Amadora e Palmela. Na Póvoa de Santa Iria comprou o colégio O Nosso Jardim, onde investiu milhões de euros, e já se prepara para novo investimento na freguesia. Dentro dos próximos meses planeia investir entre 2 a 3 milhões de euros noutra unidade semelhante dos 3 meses aos 10 anos porque muita gente de Lisboa escolheu o concelho de Vila Franca de Xira para viver mas quer dar melhor educação aos filhos.
Francisco Bento lamenta ainda não ter sido recebido pela Câmara de Vila Franca de Xira. Já fez pedidos de reunião mas ainda sem resposta. “A burocracia é grande e não posso esperar. Posso dizer que no concelho ao lado, Loures, responderam logo e posso investir. Se a câmara tiver vontade eu invisto no concelho de VFX mas ainda não tenho resposta”, declara.

Técnicos saem mal preparados
das universidades
Uma das maiores dificuldades que sente no dia a dia de gestão dos colégios é a dificuldade em recrutar técnicos licenciados. Cada vez saem das faculdades portuguesas mais mal preparados e não sabem como começar a dar uma aula, afirma. “Sugeri ao ministro da Educação para fazer como em alguns países europeus e nos Estados Unidos da América, em que os alunos fazem estágios ao longo da licenciatura”, defende.
Nos seus colégios os alunos são avaliados semanalmente, os funcionários mensalmente e os directores anualmente. Os pais são submetidos a uma entrevista com a direcção pedagógica, antes da inscrição do aluno ser aceite, e são pedidos vários relatórios. O Colégio O Nosso Jardim tem sempre a porta aberta, até porque não há nada a esconder. “Aqui têm qualidade de ensino. Dando aulas no ensino público e tendo colégios privados consigo saber de que concelhos são os alunos se me meterem 10 testes à frente. No privado é mais difícil de descobrir porque escrevem melhor e têm conteúdos diferentes”, afirma.
Francisco Bento tem um dia preenchido em que se levanta às 08h00 e às 09h00 já está num dos colégios. Está a ajudar autarcas a preparar as próximas eleições autárquicas, agendadas para 2025, e ajuda o PSD e o Governo. Está a fazer o terceiro mestrado em Criminologia e Investigação Criminal, uma área de que gosta muito.

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