Um entusiasta do associativismo que deu novo fôlego ao futsal em Alhandra
Telmo Augusto é uma presença constante no futsal do Alhandra Sporting Club e a sua dedicação e resiliência são elogiados pelos seus pares. Desde a infância na pastelaria da família em Alhandra até ao papel de vice-presidente do Alhandra Sporting Club, tem sido uma força motriz no desenvolvimento do futsal e na promoção do associativismo.
Telmo Augusto, 45 anos, é um rosto conhecido e respeitado na comunidade de Alhandra onde há 14 anos se dedica de corpo e alma ao Alhandra Sporting Club (ASC) e, em particular, à promoção da modalidade de futsal, que já conta com 150 jovens atletas.
Apesar de ter nascido em Vila Franca de Xira, Telmo Augusto sempre se considerou natural de Alhandra, onde vive desde pequeno. A sua infância foi marcada por uma vivência de rua no bairro onde ainda hoje vive e trabalha, na estrada da Subserra, e pelo contacto com muitas pessoas, especialmente no café dos seus pais, um ponto de encontro central na comunidade. Com apenas quatro anos já ajudava na pastelaria, a Nova Alhandra, que os seus pais abriram há 40 anos e onde ele ainda hoje trabalha depois de um percurso profissional variado. “Desde pequeno que fui habituado a não ter nada de mão beijada e a lutar pelo que tenho. Sempre dei valor ao trabalho e a fazer pela vida”, conta a O MIRANTE.
Depois dos estudos trabalhou nas oficinas de aeronáutica da OGMA, em Alverca, onde ganhou memórias valiosas e na fábrica de automóveis AutoEuropa, em Palmela, num trabalho que diz ter sido gratificante e estimulante. “Sou uma pessoa que não gosta de estar muito tempo no mesmo local a fazer as mesmas coisas. Gosto de ser permanentemente desafiado, mas no caso da AutoEuropa saí por ser muito longe e ser um emprego por turnos. Tinha acabado de ser pai e a fábrica era longe e tornava-se muito cansativo. Só quem trabalha por turnos é que sabe dar o valor à dificuldade que é. Cheguei a um ponto em que nem conseguia ver os miúdos. Era complicado, uma vida difícil”, recorda.
Ainda hoje os filhos, José Miguel e Maria Francisca, são os seus pilares familiares, juntamente com a mulher, Ana Rita. “São os que mais sofrem com a minha ausência”, confessa o dirigente, que passa longas horas no ASC. Acabou por profissionalmente voltar a Alhandra e hoje trabalha na pastelaria dos pais.
A favor de um campo para UDV e ASC
Actualmente é vice-presidente do ASC e responsável pela secção de futsal. “Fui desafiado a criar uma equipa feminina de futebol no antigo Campo da Hortinha. Depois acabámos por passar para o pavilhão da Escola Soeiro Pereira Gomes com o mesmo grupo e criámos outros escalões. Fomos sempre crescendo”, recorda.
Hoje, o dirigente orgulha-se do sucesso alcançado pelos jovens, especialmente a recente subida à 1ª divisão distrital pelos infantis sub-13. Para ele, o segredo desse êxito é simples: trabalho, dedicação e talento dos atletas. Apesar das conquistas, Telmo enfrenta desafios e frustrações, como a falta de reconhecimento dos políticos locais e a carência de infraestruturas adequadas à modalidade.
“Infelizmente os políticos não reconhecem o nosso trabalho. A começar pela junta de freguesia. Em 14 anos que andamos aqui com o futsal activo, nunca fomos reconhecidos nos galardões de mérito, por exemplo. E este ano, mais uma vez, ficámos de fora. O ASC já ganhou esse galardão, em triatlo e natação adaptada, todos merecem esse prémio, mas o futsal, infelizmente, que movimenta 150 atletas e trabalha há 14 anos para a comunidade, não foi ainda reconhecido”, critica.
Também o encerramento do precário Campo da Hortinha, que tanto serviu a comunidade, é um motivo de tristeza para o dirigente. “Alagava sempre que chovia e um novo campo foi uma promessa de três presidentes de câmara ainda não cumprida. Já fui a muitas reuniões, muitas colocações de pedras e assinaturas de protocolos e até agora nada. Fala-se agora de um campo municipal para o Vilafranquense e o ASC mas até agora nada. Concordo com a ideia de um campo partilhado, é uma ideia que faz sentido. Se continuarmos com a visão de termos um campo só para nós não vamos ter nada. O caminho é por aí”, defende.
Telmo Augusto acredita no poder transformador do desporto para os jovens, ajudando-os a desenvolver-se e a melhorar comportamentos. Muitos miúdos que enfrentam dificuldades na escola encontram no futsal um exemplo de disciplina e superação, defende. “O empenho e a dedicação é a chave para vencer. Há miúdos que chegam aqui com 4 anos sem saber jogar à bola mas acabam por se revelar talentos capazes de jogar num Benfica ou Sporting. Tanto no masculino como no feminino”, revela.
Apesar de todos os desafios, o dirigente confessa-se um optimista por natureza e acredita num futuro melhor para as novas gerações. Pouca coisa o irrita mas a ingratidão tira-o do sério. “Hoje em dia as pessoas não querem dar muito tempo ao associativismo mas eu estarei cá enquanto puder e o clube me quiser”, confessa Telmo Augusto, que diz que a melhor prenda que podia ter era receber um novo pavilhão com melhores condições para os jovens treinarem.
Boas memórias de O MIRANTE
Telmo Augusto diz lembrar-se com carinho do dia em que O MIRANTE entregou o prémio Personalidade do Ano ao clube de Alhandra em 2018. “Eu e o meu filho fomos à cerimónia e subimos ao palco. Foi um momento muito especial, lembro-me bem desse dia. Foi um prémio bem merecido”, recorda o dirigente, que confessa ser um leitor regular do jornal. “Quando anunciaram o prémio ao ASC foi uma enorme surpresa e uma alegria”, recorda.