Identidade Profissional | 01-01-2025 07:00

No negócio das flores nem tudo são rosas

No negócio das flores nem tudo são rosas
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Anabela Russo trabalha com flores desde os 12 anos e é proprietária da Florista Ninês e Tita, em Almeirim

Anabela Russo lida com flores desde os 12 anos e é proprietária da Florista Ninês e Tita, em Almeirim. Natural de Frade de Baixo, no concelho de Alpiarça, tem duas filhas e a prioridade aos 50 anos é abrandar o ritmo para desfrutar da vida.

A Florista Ninês e Tita, em frente ao cemitério de Almeirim, é propriedade de Anabela Russo. A lojista e armazenista de 50 anos fornece ainda cerca de duas dezenas de lojas na zona de Abrantes. Natural de Frade de Baixo, no concelho de Alpiarça, aborda com O MIRANTE a vida ingrata dos produtores, os riscos associados ao negócio, mas também as histórias caricatas e difíceis que fazem do seu trabalho gratificante e com muitas emoções à mistura. Vende para casamentos, baptizados, ofertas e serviços fúnebres, que representam cerca de 70% das vendas.
Desde cedo que Anabela Russo tentou ser autónoma financeiramente, pensando que estudar era uma perda de tempo e que podia estar a “fazer dinheiro” para comprar as suas coisas. A partir dos 12 anos, nas férias de Verão da escola, trabalhou nas estufas da tia, que ainda hoje é produtora de flores e fornece a zona de Santarém, de forma a não haver concorrência entre ambas.
Aos 15 anos, Anabela Russo decidiu trabalhar por conta própria a vender melão à borda da estrada com a irmã. Aos 16 anos trabalhou numa fábrica de confecções no Porto Alto e foi chefe de 60 mulheres. “Não podiam saber a minha idade, senão não me respeitavam. Só souberam quando decidi ir embora para as flores”, conta. Aos 18 anos quis deixar de estudar e não acabou o 12º ano. Ia com o avô, negociante de vinhos, às adegas e lagares. No ano seguinte abriu uma pastelaria com a irmã e nas folgas trabalhava nos arranjos florais. “Costumo dizer que tenho 50 anos, mas sinto-me com 100 em termos de carga horária”, diz, revelando que a prioridade aos 50 anos é abrandar o ritmo para poder desfrutar um pouco mais da vida.
Se pudesse voltar atrás, a florista “gostava que acontecesse tudo assim”. A criar as duas filhas sozinha desde os 30 anos, aprendeu, apesar da exigência, que o dinheiro não é tudo. Fechou as restantes três lojas que tinha para se dedicar às filhas e negou uma proposta de alargamento do negócio ao mercado nacional com três armazéns espalhados pelo país. “Não quis porque queria casar e ser mãe. A vida ia ser só viagens, negócios e dinheiro e a felicidade não é só isso”, diz. A filha de 27 anos é engenheira química e bioquímica e a de 23 anos está a seguir o mesmo caminho da irmã no mestrado.
Anabela Russo descreve o negócio como de risco monetário e admite que tem de ponderar bem, porque não é um produto que se meta na prateleira à espera que seja vendido. “Admiro muito os produtores, é uma área que nunca me fascinou e é uma área ingrata. Se eu vender 100 compro 100, mas se eles só venderem 100 e a produção der 200 têm de deitar fora. Em pleno Verão, se a flor chegar à meia-noite tem de ser arrumada, não há horas para chegar”, afirma.
Tem dias na loja em que os clientes “são só homens”, acrescentando que está na moda oferecer flores. “Continua a haver muitas pessoas a oferecer flores e de muitas faixas etárias, desde os namorados que comemoram os meses de namoro aos senhores de 80 e 90 anos que nunca ofereceram e decidiram oferecer”, afirma.
Entre as histórias que tem para contar, há algumas caricatas de homens que “pedem três ramos e dizem que podem ser iguais porque elas não se vão encontrar”. Conta que uma das histórias mais marcantes a nível emocional foi no dia de Natal, quando recebeu uma chamada de uma agência funerária a solicitar uma coroa de flores. As filhas não queriam que abandonasse a consoada, mas do outro lado disseram-lhe que “quem quer esta coroa é uma filha que está a velar a mãe no dia de Natal e a única coisa que a pode consolar é uma coroa de flores”. As filhas levantaram-se da mesa e foram para a loja ajudar a mãe com a coroa.

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