Sara Roque gere uma lavandaria tradicional em Fazendas de Almeirim e não lhe falta trabalho
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Sara Roque é proprietária da Lavandaria Roque, em Fazendas de Almeirim. A lavandaria tradicional contraria a tendência das lavandarias self-service e conta com duas décadas de experiência a tirar nódoas.
As lavandarias self-service não tiraram trabalho à Lavandaria Roque, em Fazendas de Almeirim, embora seja cada vez mais raro encontrar-se uma lavandaria tradicional e um rosto atrás do balcão. Sara Roque abriu a Lavandaria Roque em 2002 para ter mais tempo para a filha, na altura com dois anos, mas estava enganada. É a falta de tempo dos seus clientes que faz com que tenha trabalho a dobrar. Com a lavandaria aberta foi frequentar o 12º ano e perguntaram-lhe se precisava da escolaridade para passar a ferro, mas pensou sempre no futuro. E se fosse necessário arranjar outro emprego?
Quando abriu, temeu que num meio pequeno, onde as pessoas têm tanque e quintal, não fossem aderir, mas a tendência é crescente e quer passar a fechar dois dias de vez em quando para dar vazão ao trabalho. “Tenho alturas em que digo: meu rico emprego em que tinha um horário”, afirma a empresária, que trabalhou sete anos por turnos na Sonae, em Azambuja. Natural de Paço dos Negros, no concelho de Almeirim, trabalhou ainda no campo, em fábricas e aos 17 anos teve o seu primeiro emprego oficial numa óptica. Há quase 23 anos, quando trabalhava em Azambuja, a sogra sugeriu-lhe abrir uma lavandaria em Fazendas de Almeirim para substituir a que fechou e garantir o serviço de lavagem e engomadoria à população, pensando que Sara Roque passaria a ter mais tempo para a filha e o enteado.
Sara Roque avançou sozinha e hoje tem clientes de diversas localidades – Marianos, Paço dos Negros, Raposa, Benfica do Ribatejo e até Coruche –, praticamente a 30 quilómetros de distância. A maioria mulheres, mas também homens solteiros porque “hoje já não há preconceito” de irem à lavandaria. A lavagem a seco é uma das vantagens da lavandaria tradicional, assim como o conhecimento que adquiriu em acções de formação em que aprendeu o processo desde a planta, o algodão, até à transformação em tecido; e tingimentos, testando sempre a roupa antes de pôr a lavar. O objectivo é devolvê-la como nova, como quando tira os borbotos dos casacos e ouve um “entrou um casaco velho e saiu um novo”.
Um vestido de casamento pode demorar três horas a passar e são mais os dias em que sai à meia-noite porque é quando trata da roupa de três unidades hoteleiras da zona. O horário é das 09h00 às 13h00 e das 15h00 às 19h00. Aos sábados das 09h00 às 13h00. Sextas-feiras e domingos tira o dia para ir à igreja, onde arranja forças para o trabalho que, confessa, aos 52 anos desgasta mais a mente do que o corpo, pela pressão de ter a roupa pronta a horas e repetição de processos quando as nódoas são teimosas. Um trabalho pouco monótono e que pretende levar até à reforma, garante, acrescentando que ouve todo o tipo de histórias mas sempre salvaguardando o sigilo profissional, que considera “muito importante”.
Tem uma funcionária, pouco mais velha, em quem confia de olhos fechados. Mais recentemente investiu num armazém e tem estacionamento à porta. O tratamento de tapetes, carpetes e casacos em pele é executado por uma empresa externa que faz as entregas todas as quartas-feiras e na lavandaria vende detergentes, amaciadores e sprays. Na sua opinião, as roupas têm vindo a perder qualidade. “Uma peça com 30 ou 40 anos não perde a cor e a roupa de marca fica ruça. Há muita reciclagem porque não há matéria-prima”, diz. Sente o seu trabalho pouco valorizado não na hora do pagamento mas quando, em caso de casamentos, baptizados e festas, mesmo sabendo com meses de antecedência, deixam a roupa “para a última”.
Torna-se difícil desligar-se do trabalho porque mora nas traseiras do estabelecimento e vai sempre colocando máquinas a lavar. Tem saudades de quando ao fim-de-semana podia fazer a limpeza da sua casa e sair sem o peso na consciência de não estar a trabalhar. Nem a filha nem o enteado querem seguir o negócio. “A minha filha vê que isto é uma prisão”, conclui.