Identidade Profissional | 04-03-2025 07:00

Há dez anos a calçar bem os pés que crescem

Há dez anos a calçar bem os pés que crescem
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Miguel Videira e Telma Freitas são os dois rostos da Pezinhos Mimados de Torres Novas. fotoDR

Miguel Videira é sócio-gerente da Pezinhos Mimados, loja em Torres Novas especializada em calçado infantil. Conhecido entre os mais novos como o ‘senhor dos sapatos’, diz que é preciso cuidado com o que se calça em pés que estão em formação e lamenta que haja pessoas que exibam iPhones e relógios caros mas que não estejam disponíveis para pagar conforto para os filhos.

Desde os que estão a dar os primeiros passos aos que já calçam tanto como a mãe, na Pezinhos Mimados, em Torres Novas, há sapatos para todos os gostos mas com características comuns: conforto e qualidade. De portas abertas há quase uma década, esta loja especializada em calçado infantil nasceu pelas mãos de Telma Freitas e Miguel Videira, casados e pais de três filhos, na altura com dificuldade em encontrar espaços com “bom calçado” para as crianças. “É preciso muito cuidado com o calçado que pomos nos pés das crianças. Aqui o atendimento é personalizado e, mais do que vender, queremos que a criança saia daqui satisfeita, com o calçado certo para os seus pés”, começa por referir Miguel Videira, sócio-gerente e o rosto da Pezinhos Mimados.
Atrás do balcão a gerir stock ou a atender os pequenos clientes refastelados numa cadeira de baloiço adequada à sua altura, Miguel Videira é daquelas pessoas que gosta realmente do que faz e que se preocupa em servir bem o cliente. E, diz-lhe a experiência, nem todo o calçado é para um mesmo par de pés. Como exemplo fala dos barefoot, um tipo de calçado desenvolvido para libertar os dedos e permitir que os pés se movam mais naturalmente, em que algumas marcas começaram a apostar há cerca de ano e meio. “Esteticamente são mais feios, mais arredondados e largos à frente, e com solas mais finas e flexíveis”, explica, enquanto pega num desses sapatos que querem imitar a sensação de andar descalço. Mas há pés, prossegue, que são “tão estreitos e fininhos e que vão abanar muito dentro desse tipo de sapatos e a criança não vai ter estabilidade a andar”, por isso, aconselha, mais do que ir em ‘modas’ é preciso encontrar o sapato adequado.
Na hora de escolher o tamanho, indica, “é errado comprar calçado grande para durar mais porque as crianças vão ter tendência a tropeçar e cair”. Além disso, “o pé não vai ficar posicionado no sítio certo e o calçado vai-se estragar mais facilmente porque dobra em sítios que não é para dobrar”. Até aos quatro anos, alerta, “os ossos ainda se estão a formar e o calçado pode concertar algum problema de nascença como pode trazer algum tipo de deformação ao pé da criança”.
Sobre ter muitos ou poucos sapatos, Miguel Videira responde de forma assertiva: “o certo é investir em menos calçado mas de qualidade. Há muitas casas a vender sapatos baratos mas de materiais sintéticos que abafam o pé”. Não esquece o caso da senhora que lhe entrou na loja, olhou e não levou nada. “Um mês depois estava de volta a pedir desculpa. Não percebi, até que explicou que comprou umas sapatilhas para a filha que eram tão sintéticas que a menina ficou com problemas nos pés e teve de receber assistência médica. Depois comprou aqui uns sapatos”, recorda, lamentando que haja pessoas que por questões financeiras não possam comprar o calçado mais adequado para os filhos. Por outro lado, critica, “aparentemente há quem tenha condição para comprar mas ande à procura do sapato mais barato. Há pessoas com relógios caros e iPhones e depois acham que um sapato de 39 euros é muito caro para a criança”.
Embora não faça consertos, Miguel Videira é conhecido entre os mais novos como ‘o sapateiro’ e o ‘senhor dos sapatos’. E ser reconhecido na rua pelo bom serviço que presta é, afirma, “o mais gratificante” do seu trabalho, aquele que escolheu ter e no qual, juntamente com a esposa, investiu poupanças após três anos sem conseguir entrar no mercado de trabalho depois de a empresa onde trabalhava ter fechado. “Tinha 41 anos. Era muito novo para a reforma e, pelos vistos, muito velho para ser contratado. Estive três anos a trabalhar pelo centro de emprego até que decidi, com a Telma, arriscar e abrir este negócio”, conta.

Ser patrão de si próprio
29 de Agosto de 2015, tal como o comprova o recorte do jornal O MIRANTE que tem emoldurado na parede da loja, foi o dia em que inauguraram a Pezinhos Mimados e o dia em que passou a ser patrão de si próprio. “É mais complicado, só descanso aos domingos, trabalho até aos feriados”, afirma, recordando os primeiros anos em que nem férias tirava para não fechar a loja. Apesar das desvantagens de se trabalhar por conta própria, Miguel Videira está onde quer estar, a fazer o que gosta e a trabalhar para uma faixa etária que tem tanto de traquina como de genuína. “Às vezes desarrumam a loja toda, mas não me importo, pelo contrário”, atira, sublinhando que a loja é um espaço pensado para os mais novos, onde há um muda fraldas e espaço para amamentação.
Recordando os tempos de infância, partilha que sonhou ser piloto-aviador mas, claramente, ficou muito longe disso. Tão longe que só aos 30 anos é que andou de avião, numa viagem à Madeira proporcionada pela empresa de contabilidade onde trabalhou durante alguns anos no Entroncamento. Frequentou o curso de Economia em Lisboa, que não concluiu por ter começado a trabalhar numa empresa, na capital, onde se manteve 10 anos.
Acabou por trocar Lisboa por Torres Novas, cidade onde cresceu e à qual tinha regressado para morar com a esposa, quando um colega, que tal como ele fazia de comboio o trajecto Entroncamento-Lisboa, partilhou que num sábado o seu “filho perguntou à mãe quem era o homem que estava na casa-de-banho a fazer a barba”. De imediato se reviu no cenário: “eu saía de casa às 06h30 e regressava às nove da noite, com o meu filho já a dormir. Não queria isso para a minha vida”, remata aos 53 anos, satisfeito pelas escolhas que foi tomando no seu percurso profissional.

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