Identidade Profissional | 18-03-2025 07:00

Aviões e construção afugentaram vida selvagem na Póvoa de Santa Iria

Aviões e construção afugentaram vida selvagem na Póvoa de Santa Iria
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Fernando Trindade tem um percurso de vida recheado e onde a fotografia tem sido uma das suas paixões

Fernando Trindade é gestor de projectos e um fotógrafo apaixonado que reside na Póvoa de Santa Iria. Quando era adolescente foi atropelado e dado como morto no local do acidente.

Por isso, diz que a vida deve ser vivida e não desperdiçada a dormir. É programador, mágico, já foi paraquedista e assessor de controlo aéreo. O seu amor pela fotografia levou-o do mundo subaquático para a observação de aves no Tejo, após problemas de saúde. Criador do Portal dos Fotógrafos, defende a valorização do trabalho fotográfico e a protecção ambiental do estuário.

Fernando Trindade, 54 anos, é um homem de múltiplas paixões e ocupações que encontrou na observação de aves (birdwatching) na Póvoa de Santa Iria, cidade onde vive, um dos escapes para o stress e agitação do dia-a-dia. Há 16 anos, quando se casou, trocou a agitação da capital pela tranquilidade e a proximidade ao Tejo que lhe é dada pela Póvoa de Santa Iria, cidade onde diz adorar viver.
A proximidade ao rio também lhe permite aliar duas das suas grandes paixões: a fotografia e a vida animal. “Comecei a fazer uns passeios fotográficos na Póvoa e num ápice fotografei logo 150 espécies diferentes de aves. Quanto mais fotografo mais vou conhecendo”, conta a O MIRANTE Fernando Trindade, que passa horas sentado no mesmo sítio, camuflado e em abrigos, apenas à espera que os pássaros passem à sua frente. Ao todo, já fotografou mais de 400 espécies e nos últimos anos tem visto uma degradação da vida animal, que lamenta.
Chegou a fazer, com a autorização do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, um levantamento da comunidade de flamingos existente no degradado e inundado Mouchão da Póvoa, que passou de 2.000 para 400 exemplares nos últimos três anos. “A Póvoa tem sofrido imenso, agora estamos a sofrer com o barulho dos aviões vindos do aeroporto e a construção da urbanização Vila Rio à beira rio. É um projecto enorme e todo este levantamento de terras afugentou imensas espécies e imensa vida que aqui existia. Vai demorar tempo até a vida voltar. É notória a diferença. Até os guarda-rios, já não os vejo há imenso tempo”, lamenta.
Na lezíria de Vila Franca de Xira o espaço de observação de aves (EVOA) da Companhia das Lezírias é uma mais-valia, mas Fernando Trindade lamenta que a falta de um maior orçamento impeça uma melhor divulgação e dinamização do espaço. Já a ideia de criar uma categoria específica para natureza na próxima Bienal de Fotografia de VFX é algo que lhe agrada. “Seria lindíssimo se a câmara municipal implementasse essa hipótese, como já faz com a tauromaquia”, defende.

Dado como morto após atropelamento
Fernando Trindade trabalha como gestor de projectos e vem da área da programação informática depois de uma carreira profissional que o levou por vários caminhos: desde trabalho em armazém até às forças militares, onde foi paraquedista, passando por assessoria de controlo aéreo, fotógrafo subaquático e mágico de palco. “Sou uma pessoa impulsiva, irrequieta e sem paciência para estar a ver a vida a passar. Não tenho interesse em passar o tempo a dormir. Quem gostar de passar o tempo a dormir não vai longe no mundo profissional. Se não tivermos paixão pelo que fazemos, as coisas rapidamente esmorecem e morrem”, defende.
Fernando teve um grave acidente na adolescência que o deixou em coma durante um mês e meio. Foi atropelado numa passadeira na Avenida da Índia, em Lisboa, aos 16 anos, quando saía de um autocarro. “Voei uma centena de metros, fui dado como morto no local e depois reanimado”, recorda. Esse episódio marcou a sua vida, e, anos mais tarde, começou a sentir dores e dormência nas mãos. “Em 2023, os médicos viram um esmagamento da espinal medula e, em 2024, deixei de conseguir tocar guitarra e fazer truques de cartas. O médico perguntou-me como é que ainda não estava paralítico”, conta. Foi operado em Novembro e tem estado em recuperação.
O gosto pela fotografia surgiu de forma inesperada. Em 2006, comprou a sua primeira máquina fotográfica, uma Canon, e mais tarde migrou para a Sony. “Houve um amigo que me falou de um concurso de fotografia e da possibilidade de fazermos uma maratona fotográfica. Nunca tinha feito nada disso, nem sabia que gostava. Comprei uma máquina e fui com ele”, conta. Esse momento foi crucial para o seu envolvimento na fotografia de rua e, posteriormente, na fotografia subaquática, paixão que surgiu em 2009 após tirar um curso de mergulho. A fotografia de aves surgiu mais tarde, quando as dores o impediram de continuar a mergulhar.

Um portal para apaixonados de fotografia

Actualmente, Fernando Trindade dedica-se à gestão do Portal dos Fotógrafos, uma plataforma que ele próprio criou em Novembro do ano passado para facilitar o contacto entre fotógrafos e clientes e onde qualquer pessoa pode encomendar um serviço fotográfico a seu gosto entre mais de 200 profissionais inscritos. A ideia, conta a O MIRANTE, foi criar uma plataforma que permitisse unir a classe num momento de desunião. “Os fotógrafos não têm união, há uma concorrência desmedida e ganhávamos mais em sermos mais unidos enquanto classe, termos regras de comunidade e a ideia passa por aí”, conclui.

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