O antigo paraquedista que dá cartas como massagista

É impossível ficar indiferente à boa disposição de Rui Óscar Reis, o massagista do Fazendense a quem a vida deu uma segunda oportunidade quando saltou de paraquedas e ficou preso à aeronave. Aprendeu a arte de massagista com o mestre Eliseu Simões e apesar de trabalhar num posto de combustível é um homem feliz.
Diariamente a partir das cinco e meia da tarde começa a formar-se fila para as massagens de Rui Óscar Reis, 63 anos, na Associação Desportiva Fazendense, em Fazendas de Almeirim. Natural de Angola, mas a residir em Almeirim desde os 22 anos, massaja os jogadores do clube há um quarto de século. Não conseguiu prosseguir a carreira militar porque partiu a rótula num salto de paraquedas em que ficou preso ao avião, no decorrer do curso de Cabos, em Tancos, mas considera-se um homem feliz a trabalhar num posto de combustível em Santarém e a ser massagista. Quer voltar a saltar de paraquedas e quando se reformar quer ser massagista a tempo inteiro.
Rui Óscar Reis veio para Portugal aos 15 anos para fugir da guerra e ficou a viver em casa de uns tios em Oeiras. Estudou à noite no Liceu de Oeiras, o 9º ano, e de dia trabalhava num talho. Quando foi para os paraquedistas já era massagista no União de Almeirim e na tropa ficou responsável pela enfermaria e por massajar os camaradas e o comandante. Aprendeu com o mestre das massagens e fisioterapia Eliseu Simões, falecido no ano passado, com José Catoja e com Mário Rato, que o empurrou para tirar o curso de massagista no Sporting, onde lhe calhou em mãos o avançado brasileiro Marlon Brandão. No União de Almeirim começou no futebol, depois no andebol feminino no auge da primeira divisão, e o regresso ao futebol dá-se com a transferência para o Fazendense, onde é responsável por duas dezenas de jogadores seniores e dos tratamentos aos juniores.
Das 07h00 às 15h00 trabalha num posto de combustível da Galp em Santarém e o dia só termina às 22h00 depois das massagens. Cordial, educado e sempre simpático, como se descreve, é fascinado pelo atendimento ao público e considera importante saber ler as pessoas. “Se alguém aparece mal-disposto, não me vou armar em parvo. E quando estou mal comigo, costumo dizer que há uma gaveta em casa para deixar isso”, explica. Às terças e quintas-feiras, após o trabalho no posto, massaja numa cabeleireira perto do restaurante Quinzena, em Santarém, e tem clientes que vêm de propósito de Lisboa para as massagens, uma aptidão que diz ter nascido consigo e difícil de explicar.
Foi sempre atleta de atletismo de estrada e pista pelo União de Almeirim, Cartaxo e nos paraquedistas. Depois do acidente e da operação, em Maio de 1982, no Hospital da Força Aérea, diz-se 100% recuperado. Completou os 20km de Almeirim, a São Silvestre de Almeirim e está preparado para ir correr a Santarém. Não faz trail, mas acompanha muitos atletas da modalidade com o grupo Os Amigos da Massagem, que são solicitados para no final das provas darem um “miminho” aos atletas. Ver as pessoas saírem felizes, agradecerem, voltarem e recomendarem o seu serviço é o que mais o satisfaz. Tem uma filha a estudar em Lisboa, a Daniela, de 23 anos.