Identidade Profissional | 30-04-2025 07:00

“É inaceitável haver utentes a esperar horas para serem atendidos numa urgência”

“É inaceitável haver utentes a esperar horas para serem atendidos numa urgência”
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Andar de mota é uma das paixões de Marco Aniceto, dirigente sindical do SEP no Hospital Vila Franca de Xira onde é enfermeiro nas urgências

Marco Aniceto é enfermeiro nas urgências do Hospital Vila Franca de Xira e dirigente sindical do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses. Aos 28 anos representa uma nova geração de profissionais de saúde comprometidos com o cuidado ao próximo mesmo quando as condições que lhes são dadas estão longe de serem as ideais. Tem sido uma voz activa na luta por melhores condições laborais e pela dignificação da profissão. Vive em Vialonga, terra onde está a constituir família, é um apaixonado por andar de moto e desde criança que queria ser enfermeiro.

A recente situação em que se encontram as urgências do Hospital Vila Franca de Xira (HVFX), com mais de uma centena de doentes internados em macas e com gente obrigada a esperar, em alguns dias, várias horas para poder ser visto por um médico, é inaceitável. A convicção é de Marco Aniceto, 28 anos, enfermeiro nas urgências do HVFX e dirigente sindical do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP). Natural de São Julião do Tojal, concelho de Loures, vive hoje em Vialonga, terra que adoptou como sua. “Vialonga é uma terra que me acolheu muito bem. Já lá resido há três anos e não penso mudar. É uma terra que tem tudo e permite criar uma família com qualidade de vida”, conta a O MIRANTE.
Desde a infância Marco Aniceto sabia que queria ser enfermeiro, embora chegasse a ter os sonhos próprios dos adolescentes. “Cheguei a pensar ser médico ou veterinário, também joguei muito futebol e houve uma altura em que treinava a pensar que ia ser o próximo melhor jogador do mundo”, revela. No entanto, a escolha da enfermagem revelou-se uma decisão ponderada e apaixonada. “Não vim para enfermagem por não conseguir nota para ser médico, vim para enfermagem por ser mesmo o que queria fazer na vida”, refere. Foi durante o primeiro estágio clínico que sentiu a confirmação da sua vocação, em Vila Franca de Xira, numa altura em que o hospital ainda era gerido por uma parceria público-privada. E, apesar das dificuldades, não se arrepende da escolha.
Cedo começou a lutar por melhores condições laborais e de dignidade na carreira. Foi isso que o levou para o sindicalismo. “Sou jovem e acredito que vale a pena lutar para conseguir melhorar as condições laborais dos enfermeiros. Só podemos valorizar os utentes se valorizarmos as pessoas”, defende.

Saber lidar com as emoções
Marco Aniceto confirma a elevada carga emocional a que a profissão obriga e a importância de ter apoio psicológico. “Faço terapia há dois anos. É importante não termos vergonha de dizer que precisamos de ser ajudados e ouvidos. Tenho tido a sorte de ser muito apoiado pela minha namorada, família, amigos e colegas. Se não falarmos destes problemas as coisas não se resolvem”, alerta. Trabalhar por turnos e em regime rotativo é outra das dificuldades que os profissionais sentem na pele no HVFX. “Esta coisa de fazermos turnos, rotativos, ora dia ora noite, muitas vezes a acumular folgas sem as gozarmos como acontece em VFX, é um problema. Eu não quero mais dinheiro, ele não me dá qualidade de vida. E ter boas condições não é só ter um edifício novo. É ter uma carreira reconhecida, com melhores salários e a compensação do risco e da penosidade”, defende.
A burocracia e a falta de respostas concretas por parte da administração do HVFX é algo que o dirigente sindical critica, lembrando as várias acções de luta à porta do hospital que evitam que os problemas caiam no esquecimento. “Podia-se fazer muito mais para fixar profissionais no hospital. Já falámos várias vezes com a administração e a resposta continua a ser a mesma, que aguardam orientações da tutela. A verdade é que sempre que fazemos algum tipo de luta, o conselho de administração lança comunicados a dizer que já abriu concursos. Se não fizéssemos nada a reacção era menor. São reactivos e não proactivos”, critica.
Mesmo com todas as dificuldades, Marco Aniceto continua motivado e apaixonado pela sua profissão. “Acredito que tenho uma das profissões mais bonitas do mundo. Se os enfermeiros não se dedicassem tanto como dedicam, acredito que o serviço ainda funcionaria pior”, considera.
Nos tempos livres participa activamente na vida comunitária, fazendo parte, a convite do irmão, da direcção do Clube União Recreativo de São Julião do Tojal, terra de onde é natural. Para relaxar gosta de estar com os amigos, ir à pesca, jogar no computador e andar de mota.
“No concelho de VFX a mota é a melhor forma de me deslocar. A acessibilidade e o estacionamento no concelho é um problema crítico”, lamenta. Sobre o futuro da região, defende melhorias nas infraestruturas. “O governo devia acabar com as portagens na Auto-Estrada do Norte (A1). Fazia a diferença. A cidade está presa entre a autoestrada e o rio, não dá para construir variantes à nacional”, diz. O nó dos Caniços, em particular, é uma preocupação constante. “Sair da A1 em Alverca é um problema, é incrível a quantidade de pessoas que se concentra ali todos os dias”, conclui.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1714
    30-04-2025
    Capa Médio Tejo
    Edição nº 1714
    30-04-2025
    Capa Lezíria Tejo
    Edição nº 1714
    30-04-2025
    Capa Vale Tejo