Diogo Pombas tem uma vida multifacetada como cabeleireiro, actor e fadista

O Salão Fios D´ouro, em Fazendas de Almeirim, é um projecto de Diogo Pombas com quase oito anos. O jovem, de 28 anos, aprendeu o ofício de cabeleireiro em Coimbra e quando não está no salão canta o fado em Lisboa.
Conjugar as artes da voz, das mãos e do palco é um talento de Diogo Pombas, gerente e cabeleireiro do Salão Fios D´ouro em Fazendas de Almeirim, fadista residente numa casa de fados em Lisboa às sextas-feiras e sábados e a meio da semana em Alfama, actor e guionista do grupo Risos en’Cena e padrinho da Marcha de Almeirim. Gosta de projectos a curto-prazo, como a comédia que vai estrear a 26 de Setembro no Cineteatro de Almeirim. “Um dia de morrer” conta histórias de clientes e vivências de vizinhos que tenciona levar de norte a sul do país. De futuro, pretende ter o seu restaurante no Ribatejo para dar voz aos fadistas.
As memórias de infância são muitas e bastante agradáveis, de uma criança que viveu desligada da tecnologia. Dos tempos em que se brincava na rua e andava de pé descalço, recorda o cabeleireiro de 28 anos filho de mãe agricultora natural de Ansião, distrito de Leiria, pai ex-bancário e irmão de um mecânico. O gosto pelos cabelos e penteados vem desde cedo, de mexer nos cabelos das mulheres da família. Até ao 9º ano, estudou em Fazendas de Almeirim e depois em Santarém. “Há uma deslocação das grandes cidades para o interior, porque aqui ainda nos damos ao luxo de acordar com o galo do vizinho. Consegue-se ter tranquilidade”, diz sobre Fazendas de Almeirim.
Indeciso entre Psicologia e História, foi parar por amor a Coimbra onde aprendeu o ofício de cabeleireiro, com o apoio dos pais. Tirou formações, estagiou num salão no bairro Norton de Matos, em Coimbra, e trabalhou num salão de centro comercial na cidade. Com 19 anos foi chefe de sala num restaurante para juntar dinheiro para abrir o seu salão em Almeirim. Chegou a ter os dois salões e, dia sim dia não, cantar em Lisboa. Ampliou o salão de Fazendas de Almeirim, encerrando o de Almeirim, e conta com mais dois cabeleireiros e uma esteticista a trabalhar a tempo inteiro. Descreve o espaço como modesto e humilde e quem atende a clientela é quase “como um psicólogo”, dando atenção e sugestões. Dos quase dez anos de profissão e oito anos de salão, já nota mazelas nas mãos, nas costas, nas pernas, mas quer continuar a fazer a diferença na vida dos clientes elevando-lhes a auto-estima. Diogo Pombas lamenta que não haja mais união entre cabeleireiros, assim como no meio artístico, e não ver novas gerações ingressar na sua área profissional.
Aos 10 anos recebeu o primeiro cachet do fado numa festa da localidade e começou a representar no sétimo ano na escola, estreando a primeira revista com 18 anos em Almeirim. “Se tivéssemos mais apoios podíamos oferecer os espectáculos ao público”, sugere. Diogo Pombas acredita que se nasce fadista e lamenta ver casas de fado fechar para dar lugar a lojas, assim como o fado do Ribatejo não ser bem visto em Lisboa. “Se vamos continuar a viver a pensar que vamos ferir susceptibilidades estamos a aniquilar uma região do país que é a nossa, ribatejana, que tem uma figura que enaltece que é o campino”, diz. Diogo Pombas critica ainda quem se aproveita de o fado ser Património da Humanidade para cobrar 20 ou 30 euros e um jantar para actuar, subvalorizando o mercado e o trabalho dos colegas.