Manuel Ribeiro fez do trabalho a sua forma de vencer na vida

Deixou a aldeia ainda muito jovem, zangado com a dureza da vida e com o pai. Manuel Ribeiro sempre lutou por uma vida melhor e fixou-se na Granja, em Vialonga, onde criou três filhos com sacrifício e sem luxos. Hoje, reformado, continua a trabalhar na quinta que comprou com muito esforço e sente orgulho do que construiu. Ao seu lado, há 50 anos, está a esposa, Maria Ribeiro, companheira de todas as batalhas.
Manuel Ribeiro, de 68 anos, nasceu em Loivos do Monte, no concelho de Baião, mas foi criado em Travanca do Monte, uma pequena aldeia de Amarante. Filho de lavradores, cresceu numa família numerosa, com oito irmãos, numa vida marcada pela pobreza e pelas dificuldades do trabalho no campo. Com apenas cinco anos, começou a pastorear gado com o pai e nunca chegou a concluir a quarta classe. Na altura, tudo se fazia com a força dos braços, sem tractores nem máquinas, como hoje.
A infância foi dura, dividida entre o trabalho árduo e a luta pela subsistência. Os rendimentos eram escassos e, em anos de seca, a situação tornava-se ainda mais complicada. Manuel Ribeiro recorda com carinho a mãe a fazer a broa em casa, um dos poucos momentos de conforto. O pai fumava e bebia para esquecer as mágoas e, aos 16 anos, Manuel zangou-se com o progenitor e decidiu abalar da aldeia para Lisboa. “Zanguei-me com o meu falecido pai. De vez em quando afiava-nos o pêlo e, um dia, fui-me embora”, recorda a O MIRANTE.
Começou a trabalhar na construção civil, de segunda-feira a sábado, e ganhava 700 escudos por semana. Sentia-se um “senhor”, porque na sua terra trabalhava e não ganhava nada. As saudades da mãe falaram mais alto e regressou às origens. Sentia-se estagnado, pois trabalhasse muito ou pouco, a miséria era a mesma. As poucas alegrias vinham dos bailaricos e foi num desses convívios que conheceu aquela que ainda hoje é a sua esposa, Maria Ribeiro. Namoraram dois anos e casaram-se ainda muito jovens, sem dinheiro, mas com a esperança de uma vida melhor. Em pouco tempo chegaram três filhos — duas raparigas e um rapaz — nascidos todos de seguida e com pouco mais de três anos de intervalo.
Comprou casal na Granja e esteve três anos sem luz
Manuel Ribeiro sentia que “não saía da cepa torta” e, incentivado por um irmão, decidiu sair novamente da aldeia em busca de melhores condições de vida. Estabeleceu-se na Granja, em Vialonga, com a ajuda desse irmão. A esposa ficou na terra, mas acabou por se juntar mais tarde, depois de muita insistência. A mudança foi feita com o pouco que tinham.
Durante 17 anos, trabalhou numa fábrica de manilhas. Com 28 anos, surgiu a oportunidade de comprar um casal na Granja, propriedade de um casal idoso. “Foi uma aventura, mas o meu irmão ajudou-me e comprei o terreno por 2 mil contos. Paguei mil contos e, antes dos dois anos combinados com o dono do casal, paguei os outros mil. Estivemos aqui três anos sem electricidade. Os meus filhos adaptaram-se bem, mas custava-me não terem televisão”, recorda.
Os filhos não sentiam falta dos ecrãs, porque, após a escola, faziam os trabalhos de casa e ajudavam a limpar o esterco dos animais e a acartar ervas. Maria Ribeiro tirava o leite a sete vacas e, com o marido, tratava das cabras, galinhas, porcos, vitelas e coelhos. Manuel Ribeiro tirou a carta de condução e fez-se camionista, trabalho que manteve até se aposentar. Grande parte das suas viagens era em território nacional, embora também tenha percorrido estradas de Espanha.
Acordar de madrugada para tratar dos animais
Mesmo estando reformado, Manuel Ribeiro trabalha todos os dias na quinta. Acorda às 5h30, toma o pequeno-almoço com o ajudante, o Luís, e vai tirar o leite às cabras. Solta os animais e vai fresar terrenos particulares, bem como um terreno seu em Vialonga. Nunca vai para a cama sem antes ver o gado, o que acontece entre as 22h30 e as 23h00.
A alimentação familiar continua a ser caseira, com os ovos das próprias galinhas, o queijo feito por Maria Ribeiro e, de vez em quando, uma vitela que é desmanchada. “Não tenho vida de rico e trabalho todos os dias, mesmo estando reformado. Aos poucos fui comprando as máquinas: uma carrinha, o carro, a 4L e quatro tractores. Não fumo e não posso beber, não tenho vícios”, afirma.
Manuel e Maria Ribeiro têm seis netos, e uma das filhas e um filho vivem com eles no chamado Casal da Crispina. Em breve, a placa à entrada do portão dará lugar ao nome Casal Montereal, uma vez que Manuel descobriu recentemente que é esse o nome com que está registada a quinta na Câmara de Vila Franca de Xira.
A ligação à terra mantém-se. O casal tem ainda uma casa na Aldeia Velha, de onde Maria é natural, mas não tencionam ir para lá viver, apesar das boas condições. Na vida, continua a seguir a máxima que sempre o guiou. “Não temos nada a perder, temos é de trabalhar para pagar as nossas despesas. Nunca fui pessoa de ficar com os braços cruzados”, sublinha, bem-disposto.