“O povo português devia valorizar mais a produção nacional”

Jiteshkumar Balkrisna criou do zero um negócio de distribuição de produtos de higiene e perfumaria e hoje tem 13 funcionários e presença em metade do país. Começou por ajudar o pai num minimercado e hoje lidera a Barbárvore a partir de Vialonga.
Jiteshkumar Balkrisna nasceu em Moçambique, estudou na Índia e está em Portugal desde 1986. Desde então, vive no Forte da Casa, e construiu, passo a passo, um negócio de distribuição de produtos de higiene e limpeza, cosmético e perfumaria que hoje emprega 13 pessoas e abastece cerca de metade do país – A Barbárvore.
O percurso profissional começou cedo, por necessidade. “O meu pai tinha um minimercado e precisava de ajuda. Saí da Índia, deixei os estudos e vim ajudá-lo. Tudo o que sei aprendi com ele”, recorda. A veia comercial já vem de gerações anteriores. O bisavô foi comerciante em Moçambique, o avô exportava caju e o pai era retalhista. “É o mesmo sangue. Como os filhos de futebolistas que acabam por seguir o futebol”, diz.
Os primeiros passos no próprio negócio foram a aproveitar as promoções de 50% de desconto nos hipermercados. Comprava em grande quantidade e quando acabavam as promoções revendia com margem às lojas mais pequenas. Mais tarde, surgiu uma proposta de sociedade com outro empresário, mas a parceria só durou um ano. Jiteshkumar Balkrisna resolveu seguir sozinho mais um funcionário da sociedade anterior. Começou por alugar um armazém de 240 metros quadrados e passado um ano passou para um de 500, depois 800. Em 2017 comprou o actual armazém, em Vialonga, com 1600 metros quadrados.
Pontualidade e riscos calculados
O empresário nunca quis trabalhar com o ramo alimentar e optou por especializar-se na área dos produtos de higiene e limpeza. “Tenho muita concorrência, mas tenho sorte porque sou fiel aos meus fornecedores. Mesmo que haja uma diferença de preço, não compro fora. Eles ajudam-me porque há uma relação de confiança”, revela.
O crescimento do negócio foi sustentado e com riscos calculados. Se tiver 100 mil euros só arrisca 50 mil. Assim, se perder, ainda fica com metade para investir noutra coisa. Nunca quis sair de vez de Portugal, mesmo nas alturas de crise. As duas irmãs desafiaram-no para ir para Inglaterra mas não gostou da experiência e regressou ao país.
Com orgulho, afirma que tudo o que compra é em Portugal. “Se ganho aqui, é aqui que tenho de gastar. Paguei um imposto brutal por um carro que comprei, mas não fui lá fora comprar a metade do preço”, conta. Durante a pandemia de Covid, preferiu não recorrer aos apoios estatais, onde diz que poderia ter ganho 7 ou 8 mil euros, porque sabia que havia quem precisasse mais. Aliás, nesse período releva que facturou mais 30%. É exigente, pontual e directo. “Se combino às 14h00, lá estarei. E se não puder, aviso pelo menos com duas horas de antecedência. Não gosto de recados, digo o que penso. Sei que às vezes custa, mas quem ouve acaba por perceber.”
Praticante de críquete já chegou à selecção nacional
Jiteshkumar Balkrisna acorda às 7h00, vai ao ginásio e entre as 9h30 e as 10h00 chega à Barbárvore. Um dos seus passatempos é o críquete, tendo inclusive já representado a selecção nacional e comprado um terreno com mais dois sócios para fazer um campo dedicado a esta prática desportiva.
Casado e com três filhos afirma que nunca os obrigou a fazer o que não gostavam. Estudaram, enveredaram por outras áreas e se um dia quiserem dão continuidade ao negócio do pai. Não acredita em milagres mas no karma. O bem que é feito é compensado, assim como o mal. Tem gosto em ver os clientes felizes e dedica tempo aos fornecedores. No fim, deixa um conselho: “O povo português devia valorizar mais o que é nosso. Comprar fora é dar dinheiro ao estrangeiro. Temos boas empresas e boas fábricas. É nelas que devemos apostar e valorizar”.