Identidade Profissional | 16-07-2025 07:00

Domingos Matilde: o cozinheiro que aprendeu na tropa a liderar equipas com pulso firme

Domingos Matilde: o cozinheiro que aprendeu na tropa a liderar equipas com pulso firme
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Domingos Matilde, fundador da deCatering, alia disciplina militar à paixão pela gastronomia - foto O MIRANTE

Domingos Matilde, 54 anos, é o rosto da deCatering, empresa sediada em Coruche que criou com o propósito de realizar sonhos através da gastronomia. Com exigência militar e paixão pela restauração, construiu um negócio que sobreviveu à pandemia e aposta agora na inovação.

Domingos Manuel Santos Lopes Matilde vive desde sempre na Fajarda, concelho de Coruche, e é proprietário e gerente da deCatering, empresa que fundou em 2019 com Edgar Morais, parceiro que, entretanto, seguiu outro caminho. É no mundo da restauração e do catering que Domingos Matilde traçou o seu percurso profissional, enfrentando obstáculos, ultrapassando crises e mantendo-se fiel a uma ideia simples: servir bem e com exigência.
Quando começou não tinha horários pois, como refere, quem trabalha para uma empresa de catering pode esquecer automaticamente fins-de-semana ou a família. “Ou se tem amor à camisola ou não tem. Quem o faz só pelo dinheiro pouco tempo cá fica”, afirma, com a firmeza de quem conhece bem os bastidores da restauração. A exigência com os outros começa por si próprio. Não se revê na figura do patrão ausente. Define-se como um patrão que trabalha ao lado dos empregados, mas é ele a figura máxima da empresa e, por isso, as coisas seguem a sua linha de pensamento.
A disciplina moldou-lhe o carácter desde cedo. Começou aos 18 anos a trabalhar no restaurante “O Farnel”, em Coruche, num tempo em que era difícil encontrar emprego por ser neto de um lojista. Contrariar esse estigma era difícil. Sempre quis lutar contra a maré, queria trabalhar, ter a sua independência e ser ele próprio. O primeiro mentor foi João Peseiro, pai do treinador de futebol José Peseiro. Foi com ele que aprendeu os primeiros passos da profissão. Com o tempo, apercebeu-se de que também em Coruche era possível desenvolver um negócio com qualidade e ambição. Um dos marcos iniciais foi uma passagem de ano em Vendas Novas, no restaurante O Prego, numa equipa liderada pelo pai, e a partir daí a actividade foi crescendo. Até à chegada da pandemia, em 2020, a empresa chegava a mobilizar entre 50 a 60 pessoas ao fim-de-semana para serviços externos. A Covid-19 travou esse crescimento de forma abrupta.
A deCatering mantém-se sedeada em Coruche e desde 2020 que estabeleceu parcerias com espaços como a Quinta Cais de Rio, em Alvega (Abrantes), e outras localizações em Foros de Almada (Benavente) e Alpiarça. Domingos Matilde considera a inovação uma parte fundamental da identidade da empresa. Já este ano apostou-se no lançamento do torricado de toiro bravo, também com versões de porco e bacalhau, que tem sido presença assídua em festas e feiras da região. Além destes pratos, destacam-se também as espetadas mistas de porco e vaca.
A deCatering marcou presença este ano nos Sabores do Toiro Bravo, na FICOR e vai assegurar as festas da Erra, de Coruche e de Montemor-o-Novo. Está ainda em cima da mesa a participação no Festival do Crato e na Alpiagra, em Alpiarça. Actualmente, a empresa, que assegura casamentos, baptizados, festas de aniversário e eventos empresariais, atravessa uma fase de reestruturação. Apesar de dificuldades na captação de mão-de-obra, têm surgido novos colaboradores que têm sido integrados na equipa, incluindo um novo chefe de cozinha que deverá permanecer na deCatering. Desde 2023, contam com uma profissional dedicada exclusivamente à comunicação nas redes sociais, área na qual necessitavam de melhoria para melhor chegar ao público alvo.

Viver para o cliente
A relação com os clientes é encarada como uma parceria que exige proximidade e transparência. Domingos Matilde prefere uma abordagem directa e personalizada, ajustando orçamentos e propostas às necessidades e possibilidades de cada cliente. “O que interessa mandar um orçamento de 100 euros se a pessoa só pode pagar 50?”, costuma questionar, sublinhando a importância de ouvir primeiro antes de apresentar propostas, embora mantendo o selo de qualidade. A máxima da empresa - Tornamos os seus sonhos realidade - reflecte essa filosofia de serviço. O empresário acredita que quem trabalha no sector do catering não vive para si, mas para o cliente, e que cada evento deve ser preparado com o mesmo grau de exigência e atenção ao detalhe.
Apesar dos desafios da conjuntura actual, mantém uma visão optimista para o futuro, sobretudo numa altura em que se perspectiva o desenvolvimento da região com a construção do novo aeroporto. Domingos Matilde considera que Coruche tem ainda muito potencial por explorar, embora enfrente sérios problemas relacionados com o envelhecimento da população e com a falta de empregabilidade. Aponta a câmara municipal e o Grupo Amorim como os dois principais empregadores, mas defende a necessidade de maior dinâmica empresarial na zona industrial para atrair e fixar pessoas no concelho.

Disciplina militar ao serviço da restauração
Além da restauração, Domingos Matilde foi técnico comercial em quatro empresas, sendo a Quimirraia, em Coruche, aquela em que permaneceu mais tempo, cerca de 14 anos. Completou o 12.º ano no curso técnico de Contabilidade que finalizou na Escola Secundária de Coruche, já no período nocturno. Esteve sete anos ligado ao serviço militar como cozinheiro contratado. Passou pelo Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) de Santa Margarida, fez a recruta no Agrupamento Base de Santa Margarida (ABSM), passando depois pela Póvoa do Varzim, pelo Presídio Militar e pelo Depósito Geral de Material de Guerra, no Campo de Tiro situado na freguesia de Samora Correia, concelho de Benavente.
Foi na tropa que aprendeu uma das lições que mais o marcou: a importância da disciplina e da clareza de objectivos. “O meu comandante dizia: se sair da linha, lixo-o; se não sair, amigos como dantes. Tentei transmitir essa lição para a vida”, vinca. Essa visão aplica-se hoje à gestão da empresa e à relação que mantém com os colaboradores, porque, como afirma, tem que haver definição, não se contenta com um talvez.

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