Identidade Profissional | 20-08-2025 21:00

Célia Matias, gestora da Papelaria Reis, gere uma empresa que resiste ao tempo e às grandes superfícies

Célia Matias, gestora da Papelaria Reis, gere uma empresa que resiste ao tempo e às grandes superfícies
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Célia Matias é quem abre a porta da papelaria Reis, em Benavente, desde há 21 anos. No Verão, além da colaboradora, tem uma ajuda especial, a filha Carolina - foto O MIRANTE

Célia Matias nasceu em Salvaterra de Magos e há mais de duas décadas que é rosto e ouvinte na Papelaria Reis, em Benavente. Com uma vida feita de proximidade com os clientes e um percurso marcado por persistência e afectos, voltou à universidade 30 anos depois para concluir a licenciatura e mantém como maior ambição encaminhar as filhas. A paixão pelos livros, a honestidade e o sentido de comunidade fazem parte da receita para um negócio que resiste ao tempo.

Célia Matias nasceu a 1 de Maio de 1972, em Salvaterra de Magos, onde passou a infância com os primos, na rua, entre bonecas e bolas, num tempo de liberdade nos Foros de Salvaterra. “Era campo, ou seja, era liberdade”, recorda com nostalgia. Estudou sempre em Salvaterra de Magos e só mais tarde se deslocou para Santarém, onde ingressou num curso superior que completou este ano. Vive actualmente em Benavente, onde, há 21 anos, abriu as portas da Papelaria Reis.
Desde a infância que sentia curiosidade pela mente humana, tendo um gosto particular por Psicologia, mas nunca teve uma vocação clara. Ainda assim, acabou por se formar em Gestão de Recursos Humanos, uma licenciatura que só concluiu recentemente, depois de três décadas em pausa. “Faltava-me uma disciplina, Estatística, e este ano ganhei coragem. Terminei com 17 valores. Estou feliz da vida”, partilha.
Antes de ter a papelaria, Célia trabalhou em empresas de trabalho temporário, na área dos recursos humanos. Ficou grávida, as coisas não correram bem e foi convidada a sair. Pensou que se já dava a camisola por outras empresas, porque não criar algo seu? Foi assim que, depois de ter feito um part-time numa papelaria e ter gostado, soube que a Papelaria Reis estava para trespasse. O espaço era “uma coisinha antiga e pequenina”, que nada tem a ver com o estabelecimento que é hoje. Mais tarde adquiriu e remodelou o espaço.
Hoje, Célia Matias assume com humor e realismo: “isto não dá lucro para dois, mas tem trabalho para três”. A paixão pelos papéis ajuda, bem como a dedicação àquilo que é, mais do que um negócio, uma missão de escuta e atenção ao outro. É preciso paciência, saber ouvir. Muitas pessoas estão sozinhas e acabam por desabafar. O segredo para manter a porta aberta ao fim de duas décadas, acredita, está na autenticidade, “sermos genuínos, honestos, simpáticos. A seu lado tem uma funcionária com quem partilha o espaço e o espírito: “É muito querida. Somos as duas”, diz.
Na papelaria vende-se um pouco de tudo, desde material escolar, artigos de papelaria e livros, mas os jogos da Santa Casa, especialmente as raspadinhas, são um verdadeiro motor de movimento. A procura é muita, admite, confessando que muitas vezes assume um papel quase terapêutico, sugerindo alguma moderação, dizendo que se calhar é melhor parar se já ganhou algum prémio, um conselho que aceitam.

“As pessoas gostam de saber o que se passa na zona”
Além dos jogos, os livros infantis, as prendas para festas e o material escolar continuam a ter boa saída. Ainda assim, o mercado mudou. Hoje há muita concorrência. Até os supermercados têm papelaria. As pessoas acabam por comprar tudo num só sítio e isso para quem tem uma papelaria não é bom. Mesmo os jornais e revistas perderam leitores, com excepção das publicações regionais. “O MIRANTE ainda se vende bem. As pessoas gostam de saber o que se passa na zona”, confidencia.
Durante as férias, Célia, que tem também uma colaboradora de longa data, conta com a ajuda da filha Carolina, constituindo uma oportunidade para a jovem começar a aprender como funciona o mundo do trabalho. O negócio vai-se mantendo com persistência, mas também com paixão. “Não gosto de misturar áreas. Acho que somos melhores se nos focarmos no que fazemos bem”, diz.
Apaixonada por romances históricos, especialmente os da autora chilena Isabel Allende, Célia Matias valoriza a honestidade como a sua maior qualidade. Admite ser um pouco teimosa, mas considera que essa teimosia também a tem ajudado no caminho. O que a irrita? A arrogância. Quando não percebem que do lado de quem está ao balcão também está uma pessoa.
Se ganhasse o Euromilhões ia viajar. Gostava de conhecer as Caraíbas e Nova Iorque. E lugares mais distantes, onde normalmente não se vai. O seu maior sonho, no entanto, é mais terreno e profundo e passa por encaminhar a vida das filhas: Rita, de 22 anos, que está em Londres, e a Carolina, de 19, que está no primeiro ano da universidade. “Ensiná-los a voar e deixá-las fazer o seu caminho”, resume. A família é a sua âncora. “As minhas filhas e o meu marido são quem me faz sentir especial, pelo amor e carinho que me transmitem”, afirma.
Sobre a vida em Benavente, onde reside actualmente, é clara: “gosto, é muito sossegadinho”. E, quanto à eterna promessa do aeroporto, não alimenta ilusões. “Acho que isso não vai passar do papel. Mas seria bom. Trazia vida, mais gente a morar aqui”, considera. Mesmo assim, confia no que a vila tem de único. “Benavente tem a identidade muito bem preservada. Está tudo muito bem definido”, conclui.

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