Identidade Profissional | 03-09-2025 07:00

Patrícia Soso: uma artista que se desdobra por diversos palcos

Patrícia Soso: uma artista que se desdobra por diversos palcos
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Patrícia Soso vive na Póvoa de Santa Iria desde 2014 e é um rosto conhecido do Grémio Dramático Povoense. Elege a cidade como um excelente local para viver e constituir família - foto O MIRANTE

Patrícia Soso, actriz e encenadora com raízes no sul do Brasil, construiu na Póvoa de Santa Iria, cidade onde vive, um percurso de mais de uma década dedicado à formação teatral, à encenação e a projectos comunitários. Entre o trabalho com associações do concelho de Vila Franca de Xira está a criação do Teatro Popular da Mulher Latino-Americana, que alia a paixão pelo palco a uma missão de inclusão e empoderamento das mulheres imigrantes.

Chegada do Brasil há pouco mais de uma década, Patrícia Soso transformou a Póvoa de Santa Iria num dos seus grandes palcos de vida e de criação artística. Actriz, encenadora e fundadora de projectos que unem teatro e comunidade, dedica-se hoje a formar novas gerações, empoderar mulheres imigrantes e a levar a arte a quem mais dela precisa. Entre associações locais, grupos profissionais e iniciativas de inclusão, construiu um percurso ao longo dos anos que prova que o palco pode ser tão poderoso quanto uma praça pública para discutir ideias, inspirar mudanças e aproximar pessoas.
Patrícia Soso, 48 anos, vive na Póvoa de Santa Iria desde 2014. É natural do Rio Grande do Sul, no Brasil, e chegou a Portugal depois de se casar com um português que conheceu em 2012, num congresso em Guimarães. “Era suposto ele morar no Brasil, mas acabou por acontecer o oposto. Ele é da Póvoa de Santa Iria e fui muito bem acolhida pela família e pelos amigos que fui fazendo aqui. O Grémio Dramático Povoense foi uma das estruturas que me abriu logo as portas”, recorda a O MIRANTE.
Nesse mesmo ano, criou no Grémio o projecto pedagógico Palco, uma escola de teatro onde começou a dar aulas a crianças e, mais tarde, iniciou também a formação para adultos tendo começado a encenar espectáculos, logo depois de tirar um mestrado na Escola Superior de Teatro e Cinema. O interesse pelo teatro surgiu no Brasil, na década de 2000. Embora seja licenciada em Direito, Patrícia Soso conciliava sempre os estudos e o trabalho com o teatro. Ainda trabalhou num jornal enquanto estudava e deu aulas num ginásio. Também pensou em trabalhar na organização de eventos mas seguiu para Direito. Quando era criança também gostava muito de dança jazz.
Esse percurso diversificado, diz, ajudou-a a ganhar mundo. Recorda o dia em que, em criança, depois de assistir a um espectáculo de circo, chegou a sonhar ir com os artistas em digressão e correr mundo. Para si é essa a génese do teatro e das artes: “um olhar surpreso para as coisas do mundo”.

Um teatro para mulheres emigrantes
Hoje, Patrícia Soso trabalha com várias associações dentro e fora do concelho. Colabora com a associação MEC - Memória é Cultura de Alverca, com a associação dos Avieiros da Póvoa e com a Sociedade Filarmónica Recreio Alverquense de Alverca, onde no ano passado integrou um grupo de teatro fundado na SFRA onde estão, entre outros, Pedro Cera e João de Carvalho. Em Lisboa colabora com o Teatro Umano e desenvolveu vários projectos de teatro comunitário.
Em 2024 criou o Teatro Popular da Mulher Latino-Americana, na Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa. Trata-se de um grupo de teatro para mulheres imigrantes. “Venho de fora e senti que fazia sentido criar este grupo, para empoderar outras mulheres, ajudar na socialização e ajudar as jovens a seguir o seu sonho. É um lugar de acolhimento e discussão de ideias através da arte. É um espaço de abertura que às vezes falta. Muitas vezes as escolas de arte têm a preocupação de fazer a selecção de quem entra ou não, ali é diferente, há espaço para toda a gente, é uma escola livre”, conta a O MIRANTE.
O projecto inspira-se no teatro físico da velha escola de Jacques Lecoq, que se focava muito no corpo, na mímica e no uso das máscaras. “Fazemos esse trabalho para a comunidade e voltado sobretudo para mulheres”, acrescenta. A segunda edição arranca em Setembro e já conta com duas dezenas de inscritas.
Profissionalmente, Patrícia Soso vive exclusivamente do teatro. “Não é fácil viver da arte, tenho de me desdobrar em várias frentes e isso implica sempre um grande volume de trabalho. Não tenho um trabalho das nove às cinco, tenho vários e em diversos momentos. É assim a vida de artista em qualquer parte do mundo. Vivemos de projectos que nos dão uma grande liberdade de horário mas nunca é totalmente seguro”, confessa.

“Acredito que é a sonhar que conseguimos mudar alguma coisa”
Patrícia Soso é uma defensora do papel social e político do teatro, dizendo acreditar que hoje mais do que nunca o teatro é necessário. “É um local de discussão da realidade. Toda a pressão do mundo contemporâneo, das redes sociais e a velocidade da informação, sem tempo para a discutir e processar, é preocupante. Vivemos um fluxo contínuo de informação sem qualquer filtro, que pode ser falsa ou incompleta, até prejudicial. O teatro é uma ferramenta para podermos pensar o mundo e o estado em que se encontra. Sou uma idealista, acredito que é a sonhar que conseguimos mudar alguma coisa. Porque quem sonha e idealiza acaba por realizar alguma coisa”, refere.
Confessa gostar muito de viver na Póvoa de Santa Iria, terra que diz ter grande qualidade de vida. “A zona ribeirinha é muito agradável e é incrível. Um dia espero conseguir ir a pé até ao Parque das Nações. Há gente de tantos lugares do mundo em Portugal por causa da qualidade de vida que aqui existe; não há muitos outros países no mundo que sejam assim. Na Póvoa, para quem vem do Brasil, há uma grande qualidade e segurança incrível”, partilha.
Entre as suas peças favoritas, destaca “Catarina e a beleza de matar fascistas”, de Tiago Rodrigues. Mesmo como espectadora não consegue desligar o seu olhar técnico. “Temos de deixar de ser consumidores da vida e passarmos a ser actores activos na vida”, defende. E, no caso de Patrícia Soso, é no palco - e através dele - que essa transformação acontece.

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