As boas energias de Luísa Claro e a luta contra o preconceito
Em Coruche, onde nasceu e sempre viveu, Luísa Claro construiu um percurso profissional que une as ciências sociais às terapias energéticas. Acredita que o bem-estar nasce do equilíbrio entre corpo, mente e espírito, dedicando-se a ajudar os outros a reencontrá-lo, num espaço que abriu há pouco mais de um ano, mas cuja semente foi lançada há mais de década e meia.
Natural de Coruche e com 57 anos, Luísa Claro cresceu entre ruas cheias de vida e comércio, onde todos se conheciam e o convívio era natural. “Eu via isto cheio de gente”, recorda, com nostalgia. Hoje, vive na mesma vila, mas com o olhar de quem sente o dever de cuidar não só das pessoas, mas também da comunidade que a viu crescer.
Formou-se em Ciências Sociais em 2007, depois de anos a trabalhar na área administrativa e no atendimento a idosos numa instituição de solidariedade. Foi nesse contexto que começou a perceber as limitações do apoio tradicional. “Percebia que muitas famílias chegavam ao limite, sem respostas, sem ferramentas. E comecei a sentir que faltava algo, uma dimensão terapêutica, emocional, energética”, explica.
A curiosidade levou-a a procurar novas abordagens e, quase sem dar por isso, o interesse transformou-se em vocação. Começou por ajudar amigos e conhecidos ao final do dia, numa clínica local, conciliando o trabalho institucional com consultas de bem-estar. O número de pedidos foi crescendo até se tornar impossível conciliar tudo. “Pensei: ou faço disto o meu caminho ou não consigo ajudar ninguém como quero. E abri o meu espaço”, recorda.
O centro que fundou em Coruche, em Agosto de 2024, é hoje o reflexo do seu percurso. É uma fusão entre o conhecimento científico e o saber intuitivo. Luísa Claro especializou-se em Tui Na, uma terapia medicinal chinesa que integra acupunctura, ventosas e massagem terapêutica, e que descreve como “um espectáculo de sabedoria antiga”. Frequentou uma escola em Telheiras com protocolo com a Universidade Chinesa, onde chegou a ter aulas com professores vindos directamente da China. “Fiquei fascinada. Eles mexiam no corpo de um modo que parecia impossível. O meu pensamento foi o que estamos nós a perder, se eles sabem tanto?”, recorda.
Com formação académica em Ciências Sociais e carteira profissional de Massagem Terapêutica Chinesa, para além de vários cursos de aprofundamento terapêutico, Luísa Claro desenvolveu o “Método de Equilíbrios”, uma abordagem própria que combina várias técnicas consoante as necessidades de cada pessoa. “Avalio o que a pessoa precisa para ficar bem. Cada caso é um caso”, explica. Paralelamente, está a concluir um curso de Terapia Transpessoal, acreditando que “muitos problemas têm origem no inconsciente” e que “só quando são trazidos à consciência podem ser tratados”.
O método assenta numa visão holística do ser humano. Para Luísa Claro, a energia é real e acessível a todos. “O equilíbrio passa por um todo. Não é religião, não é crença, é terapia”. Essa convicção nem sempre foi fácil de afirmar numa vila pequena, onde, como diz, “as pessoas ainda são muito conservadoras e seguem padrões de crenças enraizados”. Durante anos, sentiu que lutava contra a própria essência, até perceber que não podia negar a sua vocação. “Toca de seguir em frente”, resume, num lema que repete como um mantra.
A experiência nas ciências sociais continua presente no seu trabalho diário. Através de consultoria social e projectos de empoderamento de mulheres, jovens e idosos, tenta reforçar a auto-estima e o sentido de comunidade. “Muitas pessoas têm em si tudo o que precisam para seguir em frente, só que a sociedade leva-as a desacreditar”, observa. Trabalha também com adolescentes, que considera ser uma faixa etária desafiante e com quem procura criar laços de confiança. “Tem de ser tudo muito subtil. É preciso ganhar a confiança deles”, diz.
“Tento puxar as pessoas para o abraço, para o contacto humano”
Além das terapias individuais, dinamiza grupos de meditação em que combina chá, bolachas e conversa. “Tem sido óptimo. As pessoas vão aderindo e no fim há sempre um momento de convívio. Aos poucos, as mentalidades vão mudando”. Acredita que estes encontros têm ajudado a soltar amarras, num tempo em que a solidão e o individualismo cresceram, especialmente após a pandemia. “A parte social foi rompida e nunca mais se obtiveram as mesmas ligações. Tento puxar as pessoas para o abraço, para o contacto humano”, conta.
Nas suas terapias, os óleos essenciais desempenham também um papel fundamental. “Uso óleos 100% puros, extraídos das plantas. O impacto emocional e físico é incrível”. Acredita que o toque e o aroma podem ser tão eficazes como a palavra. Lembra um caso especial: o de um senhor de 85 anos, que chegou com dificuldades de mobilidade e hoje caminha sozinho. “Foi emocionante. Agora trabalhamos para travar a evolução da demência, e já se notam melhorias. Pequenas vitórias que valem tudo”, vinca.
Luísa Claro define o seu trabalho como um “serviço à população”. Ignora o cepticismo e o falatório de café. “O que importa é o bem que faço”, diz com serenidade. E sente que o tempo lhe deu razão. “Tenho cortado muitos vínculos de medo e preconceito. As pessoas começam a ver as coisas de outra forma”.
Depois de quinze anos de dedicação à área terapêutica, afirma ter encontrado o seu próprio equilíbrio, mas sem ilusões de perfeição. “Somos humanos. Damos muito de nós aos outros e, quando surge um problema mais complicado, também precisamos de ajuda. E eu, sempre que preciso, peço ajuda”, afirma.
Nos tempos livres, gosta de passear pela vila e lamenta ver o comércio local “estagnado”. Sonha com uma Coruche viva e dinâmica, “cheia de gente como antigamente”. E acredita que tudo pode renascer se houver vontade e infraestruturas. “As creches são caras, a habitação é escassa. Como é que os jovens se vão fixar aqui?”, questiona, com o olhar de quem, mesmo cansada, continua a acreditar.


