Identidade Profissional | 25-11-2025 07:00

O gerente de restaurantes que encontrou o seu lugar em Aveiras de Cima

O gerente de restaurantes que encontrou o seu lugar em Aveiras de Cima
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Nuno Santos abriu o seu restaurante em Aveiras de Cima depois de ter estado mais de uma década emigrado - foto O MIRANTE

Nuno Santos deixou Inglaterra, onde trabalhou durante mais de uma década na restauração, para abrir um restaurante em Aveiras de Cima. No Espaço Grill explora há dois anos a cozinha de fogo comandada pela esposa Raquel. Gosta de valorizar os produtores locais e confessa que ficou chocado com a carga fiscal em Portugal.

Depois de se afirmar como gerente de vários restaurantes em Inglaterra, Nuno Santos trouxe na bagagem a experiência e o conhecimento para o Espaço Grill que se tornou, desde há dois anos, numa das atracções gastronómicas de Aveiras de Cima, com propostas em cozinha de fogo. Os 11 anos lá fora, dedicados em exclusivo à hotelaria, foram vividos com o coração e o olhar voltado para Portugal e sempre com a “ideia de voltar” muito presente. Numas férias visitou a vila de onde o pai é natural e deu de caras com um espaço de restauração encerrado. A decisão, confessa, foi tomada a quente e em dois meses estava de regresso a “casa”, com um projecto próprio no coração de Aveiras de Cima.
Na carta privilegia carnes como a picanha e a maminha de origem sul-americana, o polvo, o bacalhau e o peixe fresco de mar, tratados de forma simples em cozinha de fogo bem à vista do cliente. Também há coelho grelhado e o frango é, sem dúvida, a estrela da casa. Nos vinhos a carta é alicerçada na região com Nuno Santos a defender a valorização de parcerias com produtores regionais e locais, desde os que têm mais expressão aos mais pequenos, cuja qualidade dos vinhos se destaca. É desta forma, acredita, que se contribui para a economia local e seu desenvolvimento.
Aos comandos na cozinha está Raquel Ramos, a sua esposa que o acompanhou nos anos de emigração, tendo trabalhado como responsável de cozinha, e que está agora também neste projecto que é a dois. Chegaram a explorar outros conceitos, como as pastas e os risottos, mas depressa perceberam que as preferências do público eram os grelhados e focaram-se neles, embora ainda confeccionem pratos do dia como o bacalhau com natas, arroz de pato e outros a puxar à típica gastronomia portuguesa. “É importante perceber o que funciona e ajustar” como também o é “saber parar”.
E Nuno Santos que o diga. Rapaz crescido a ver de perto o mundo da hotelaria no restaurante do pai, fez-se homem e decidiu apostar na mesma área. Estudou na Escola de Hotelaria de Lisboa e abriu o seu primeiro negócio, um bar, no Cartaxo, que não vingou. Se fosse hoje, a voz da experiência ter-lhe-ia dito para parar de investir quando começou a dar prejuízo. “É preciso ir de encontro ao que o mercado precisa e não àquilo que nós realmente gostávamos de ter”, diz o empresário, confessando que o “negócio falhado” lhe deixou “muitas cicatrizes”. Se tivesse pensado muito, admite, provavelmente nem teria arriscado abrir o Espaço Grill. “Estávamos bem em Inglaterra. Tínhamos uma vida estável, tínhamos adquirido casa. Mas ainda bem que o fizemos, porque está a correr bem”, diz, revelando que no próximo ano vai haver novidades.

Fazer crescer o negócio ao fim de dois anos
Situado no centro de Aveiras de Cima, com 45 lugares e uma equipa de cinco pessoas, o Espaço Grill vai mudar-se ainda para mais perto da saída da A1 e tornar-se maior. “Mas não temos pressa de mudar. Preferimos fazer com calma e bem feito”, afirma com a calma de quem está seguro do que faz. A mesma com que lida com os clientes, sobretudo aqueles que querem por vezes ter razão quando não a têm. Em tantos anos de gerência já experimentou alguns dissabores. “Quando o cliente não tem razão não lha dou, mas tento ir ao encontro do que ele procura para não sair totalmente desagradado”, diz. Porque se ter bons ingredientes eleva a qualidade à mesa, ter uma boa relação com o cliente é indispensável num negócio deste ramo onde os desafios são diários.
Um dos maiores neste sector é a falta de mão-de-obra, mas Nuno Santos não se pode queixar. Com uma equipa estável, revela que emprega três pessoas de origem nepalesa que são um exemplo de trabalho. Assim como a chefe de sala, uma portuguesa. Mas não é só em Portugal que se precisa e se vê muita mão-de-obra estrangeira na restauração. “Em 11 anos emigrado trabalhei talvez com 10 ingleses. O resto era tudo português, polaco, romeno, da República Checa. Portanto, é aqui e em qualquer lado”, diz. Quanto a trabalhar com a esposa, com quem está há 15 anos e com a qual partilha uma filha de oito anos, confessa que nem sempre estão de acordo, mas que funcionam muito bem a trabalhar juntos. Em casa, despem os papéis de chef e gerente e passam a ser apenas um casal que evita falar de trabalho à mesa e usa as folgas para o tão precioso descanso. “É uma profissão muito desgastante, fisicamente e mentalmente”, conta.
Nuno Santos confessa que ficou “muito surpreendido e quase chocado com a carga fiscal que existe em Portugal” no sector que conhece, o da restauração. “É realmente uma carga fiscal muito grande” acompanhada, sublinha, de muita burocracia sem sentido. Apesar disso, prefere focar-se no essencial que é “ter saúde e vontade” de continuar a trabalhar no que tanto gosta e a fazer crescer o negócio e a satisfação de cada cliente que entra no Espaço Grill.

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