Identidade Profissional | 03-12-2025 15:00

Bárbara Vieira: a dança que começou na sala dos pais e agitou Salvaterra de Magos

Bárbara Vieira: a dança que começou na sala dos pais e agitou Salvaterra de Magos
IDENTIDADE PROFISSIONAL
Bárbara Vieira fundou a Dream Dancing, que está a celebrar 25 anos de actividade - foto O MIRANTE

Natural de Salvaterra de Magos e dona de um percurso feito de persistência, criatividade e inclusão, Bárbara Vieira transformou uma brincadeira de infância numa associação que hoje chega a centenas de crianças. Aos 40 anos, a responsável da Dream Dancing fala do que a move: a dança, a educação e o desejo de abrir portas a todos, sem excepção.

A história de Bárbara Vieira começa numa sala transformada em palco improvisado. Tinha oito ou nove anos quando, ao ver uma rapariga dançar num encontro de escuteiros, percebeu que algo naqueles movimentos lhe mexia por dentro. Voltou para casa, empurrou os sofás e arrastou primos e irmã para tardes de coreografias amadoras, que terminavam invariavelmente em “espectáculos” para os pais. O que ninguém imaginava era que aquela brincadeira viria a dar origem, anos depois, à Dream Dancing, hoje uma das associações juvenis mais activas do concelho.
Aos 40 anos, Bárbara ri-se ao recordar o início. “Nunca pensei que isto se tornasse tão grande. Sempre aconteceu de forma leve, natural, sem pressão”, confessa. O que começou em 2000 com cinco meninas rapidamente passou para cinquenta, num crescimento que apanhou de surpresa até os pais. Em 2007, nasceu formalmente a associação. A Dream Dancing soma 25 anos de actividade e é presença constante na vida de crianças e famílias de Salvaterra de Magos e localidades vizinhas.
Seguir a dança como profissão não foi um caminho linear. “O meu pai não acreditava muito nesta visão”, recorda. Foi a avó quem lhe abriu portas, acordando de madrugada para a levar de transportes públicos até Lisboa, onde Bárbara Vieira tirou o primeiro curso profissional de dança, ainda adolescente. “Guardo muito esta imagem dela”, diz. Foi também a avó, pela sua própria capacidade empreendedora, que lhe serviu de inspiração, já que era uma mulher que conduzia, viajava a Lisboa para abastecer a sua loja e encarava cada desafio com ousadia.
Mais tarde, com uma licenciatura em Animação Sociocultural e já a trabalhar num centro de dia em Marinhais, tomou a decisão que mudaria tudo: despedir-se para se dedicar a tempo inteiro à Dream Dancing. “Foi muito difícil para o meu pai entender”, admite. Mas a intuição falou mais alto. O salto de uma simples aula ao final do dia para um modelo de intervenção comunitária aconteceu quase sem dar por isso. “Três pais vieram ter comigo a pedir que a dança passasse a ser actividade extracurricular na escola. Percebi que aquilo já não era só uma hora de brincadeira”, refere. Nasceu então o segundo pilar da associação, ou seja, as aulas de dança educativa e expressão físico-motora em creches e jardins de infância. Trata-se de um trabalho que chega hoje a 25 instituições.

“Todos têm lugar aqui”
Seguiram-se os campos de férias, sempre com o mesmo princípio orientador, o da inclusão. “Ninguém fica de fora”, sublinha. A associação mantém as mensalidades a 15 euros há dez anos, compensando a inflação com rifas, bolos e cafés vendidos em eventos para que todas as famílias possam participar. “Temos crianças com necessidades educativas especiais, crianças que começaram a andar nas nossas aulas… Todos têm lugar aqui!”.
Aos olhos de Bárbara Vieira, a técnica é importante mas não é o centro do trabalho. “Nós não queremos coreografias perfeitas. Queremos alunos felizes”, garante. O foco é a auto-estima, a pertença, a leveza e a dança como escape e estratégia de desenvolvimento pessoal. Por isso mesmo, desencoraja faltas por causa de testes escolares. “Organizem-se, mas não faltem à dança. Pelos benefícios que ela vos traz, inclusive para os estudos”, incentiva.
No meio de milhares de alunos ao longo de 25 anos, há uma turma que guardará sempre de forma especial: as Stars. “Eram só cinco meninas, mas absolutamente incríveis. As mães iam atrás de tudo o que eu sugeria. Foi uma classe que me marcou para sempre”, recorda.
Conciliar esta vida com o papel de mãe é um desafio diário. Divorciada e com três filhas a seu cargo, a professora de dança divide-se entre a coordenação da associação, as aulas, as instituições, os campos de férias e a vida familiar. “Tenho muita sorte, pois a minha mãe e a minha irmã são o meu grande suporte”, salienta.
Bárbara Vieira viaja sempre que pode e sonha um dia juntar viagens à vida profissional. Tem também a paixão pela recuperação de casas antigas, tendo já comprado e renovado várias. Não resiste à dança fora do trabalho, pois é capaz de chegar a casa e fazer ‘TikToks’ com as filhas. E se for sair, como nos conta entre sorrisos, ainda é a rainha da noite a dançar.
Sobre o que gostaria de ver no concelho, é assertiva. “Faz falta um gabinete da juventude. Somos das poucas câmaras sem esse espaço”, fundamental para ser um ponto de encontro para ideias e projectos que, acredita, faria toda a diferença. Olhando para trás, admite que há dez anos não imaginava nada disto. “Sempre disse que ia ser educadora de infância”. O destino, porém, empurrou-a para um palco maior, aquele que ajuda a formar crianças, jovens e famílias através da dança.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias