“Há quem queira ter uma grande casa, eu quero ajudar o maior número de pessoas”
Poderíamos dizer que Patrícia Figueiredo é uma mulher dos sete ofícios, mas fazendo contas, em 32 anos de vida já os ultrapassou. Tica, como é conhecida, nunca procurou um emprego que durasse até à reforma mas vários que lhe permitam ter qualidade de vida. Tem na avó o seu maior exemplo e no voluntariado a maior ambição.
Patrícia Figueiredo tem 32 anos, trabalha desde os 18 e já perdeu a conta aos empregos pelos quais passou. Desde administrativa, a hospedeira e promotora de eventos, acredita que apenas um trabalho na área da solidariedade social, eventualmente, a poderia “agarrar para a vida”. Sem medo da mudança e com uma visão positiva sobre a vida, diz que lhe dá especial gozo poder ter várias experiências no mundo laboral, desde que, ressalva, consiga ter qualidade de vida, estabilidade financeira e um bom ambiente de trabalho. “Para mim é o principal. Não se é feliz num emprego onde o ambiente é mau. Já experimentei e não aconselho, nem quero”, diz.
Da parte da manhã, a jovem natural de Santarém, mais conhecida por Tica, trabalha num escritório, onde está efectiva, à tarde dá aulas no âmbito das Actividades Extra Curriculares na Escola das Fontainhas e à noite é assistente de loja na Worten, por esta altura do Natal. Pelo meio ainda treina num ginásio e é raro o dia em que não visita a avó no lar. “Às vezes, quando não há tempo para mais, entro lá 15 minutos só para lhe dar um beijinho”. Maria Elisa Figueiredo, figura conhecida em Santarém que trabalhou 36 anos como funcionária pública, é a sua “perdição” e grande inspiração. “Acho que sou tão feliz porque tive a sorte de nascer, olhar para o lado e perceber que tinha ali o amor da minha vida. Há gente que o procura a vida inteira e o meu esteve sempre ao meu lado”, diz sobre a avó.
Através dela acredita ter moldado a sua personalidade: empática, bondosa e generosa. Não só daquelas que estende a mão aos amigos mas também àqueles que acabou de conhecer há minutos ou com quem, provavelmente, nunca mais se vai cruzar. “Ainda há dias estava a atender uma senhora que está longe da sua família; desabafou comigo e no fim perguntei-lhe se a podia abraçar”, partilha. E o abraço deu-se, de forma livre e espontânea, no meio de uma loja. “Não mando nas reacções dos outros, mas quando vejo pessoas a chorar à minha frente, tento ajudar, nem que seja assim, com um abraço. É como se vir a senhora que me toca à campainha para ir limpar as escadas do prédio. Não vou só abrir a porta. Se ela vem carregada com baldes e esfregonas vou ajudá-la pelo menos até o topo das escadas”, conta.
“Gosto de ser uma lufada de ar fresco constante na vida das pessoas”
“Acredito que uma pequena atitude nossa pode mudar o dia do outro. Sou incapaz de ir a um sítio, ser atendida e não desejar bom trabalho no final, por exemplo”, diz, explicando que sente na pele quando um cliente é indelicado. “Quando chega outro que já sorri é uma lufada de ar fresco, não é? E eu gosto de ser essa lufada de ar fresco constante na vida das pessoas. Ou pelo menos tento ser”. Ao todo, em 32 anos, soma 14 anos de trabalho voluntário, tendo sido, inclusive, uma das fundadoras do grupo Santarém Solidário, que durante a pandemia ajudou famílias carenciadas. “Há quem queira ter uma grande casa, o meu sonho de vida é ajudar o maior número de pessoas que for possível. Seja a “ajudar o vizinho velhote”, porque também se pode “fazer voluntariado no dia-a-dia”, seja num projecto maior como ambiciona fazer na Indonésia, junto de crianças.
Nos pais, Patrícia Figueiredo viu dois fortes exemplos de trabalho. Foi, aliás, neles que se inspirou para desde cedo conquistar a sua autonomia financeira, mesmo quando tinha de sustentar, sozinha, uma casa em Lisboa. Nessa altura trabalhava numa leiloeira de antiguidades, na qual esteve durante oito anos. Mas, em simultâneo, fazia acções de promoção de eventos ou produtos. “Em Lisboa tinha uma casa sozinha, nem sequer era quarto alugado, portanto tinha que me esforçar para me conseguir manter”, descreve. Além disso sempre gostou de sair, de jantar fora, portanto, tinha que arranjar um mecanismo de sustentação.
O trabalho mais difícil e estranho que teve foi vestir-se de mascote, um pintainho, na última Feira Nacional de Agricultura em Santarém. “Sentia que estavam 46 graus dentro daquele fato, mas teve um lado bom: tive crianças a abraçar-me o tempo todo”. Outro grande desafio é gerir a relação com o pai, empresário, para o qual trabalha, estando efectiva. “Nem sempre é fácil, mas é curioso porque sempre achámos que éramos pessoas muito diferentes e viemos a descobrir que somos parecidos na forma de trabalhar. Ele é organizado na desorganização e eu sou igual”, diz.
Nos trabalhos pelos quais passou e nos quais está actualmente, tenta “sempre dar o máximo”. Não só por brio pessoal como por respeito aos colegas. Alguns dos quais, conta, viraram amigos para a vida. A conversa, a propósito da rubrica Identidade Profissional, acabou como começou. Com certezas de que dificilmente terá um emprego para a vida, mas certa de que continuará a apostar no ganho de novas experiências e conhecimentos. Melhorar o alemão, depois de ter concluído cursos de turco, italiano, espanhol e de estar a tirar outro de francês é um dos objectivos, entre as viagens em lazer - o seu passatempo de eleição - e, quem sabe, trabalhar no estrangeiro. “Já esteve mais longe de acontecer”, conclui.


