Identidade Profissional | 12-08-2022 11:00

É preciso começar a meter a colher entre marido e mulher

É preciso começar a meter a colher entre marido e mulher

Miguel Branco tem duas licenciaturas e especializou-se em igualdade de género e violência doméstica. É presidente da direcção da ABEI – Associação para o Bem-Estar Infantil de Vila Franca de Xira desde Janeiro de 2019. É um apaixonado pela área social, sonhava ser humorista e detesta a falta de carácter.

Está a aumentar a consciência colectiva de que a violência doméstica não é aceitável. Para Miguel Branco, presidente da Associação para o Bem-Estar Infantil de Vila Franca de Xira (ABEI), nunca como agora foi preciso meter a colher entre marido e mulher e chamar as autoridades sempre que necessário. “É inadmissível que se assista a situações que anteriormente se consideravam normais, como o homem controlar as finanças da mulher e ser agressivo com ela”, salienta, realçando que as coisas têm vindo a mudar e há cada vez mais queixas e denúncias. “É muito importante alertar. A violência doméstica é crime público e não nos podemos defender na confidencialidade”, sublinha.

Miguel Branco tem duas licenciaturas, uma em reabilitação e reinserção social e outra em educação. Especializou-se em administração escolar e educação especial e mais recentemente em igualdade de género e violência doméstica. Tem 41 anos, é natural de Vila Franca de Xira e foi eleito presidente da ABEI em Janeiro de 2019.

O seu primeiro emprego foi a organizar colónias de férias para as crianças do antigo Banco Pinto & Sotto Mayor e nas oficinas da empresa de aeronáutica OGMA, em Alverca. Sempre foi uma pessoa que gosta de ajudar e contribuir para a comunidade e por isso quando foi para Lisboa estudar fez trabalho de voluntariado social nos bairros problemáticos da capital, como o Casal Ventoso, Quinta do Loureiro e Quinta da Boavista.

“Sempre gostei da área social e de contribuir para quem mais precisa. Felizmente nas últimas décadas evoluímos bastante nessa matéria, passámos de uma atitude assistencialista para uma em que apoiamos cada pessoa individualmente de forma coordenada”, explica.

No seu último ano de faculdade foi trabalhar como prestador de serviços para a ABEI. Primeiro como ajudante de acção educativa numa creche, pré-escolar e ATL que a ABEI criou no bairro de Povos. Depois como técnico superior responsável por duas das quatro casas da associação destinadas a acolher temporariamente crianças retiradas à família. Entretanto subiu a administrador escolar da instituição, acumulando esse cargo com a liderança da direcção, que é um cargo não remunerado.

Miguel Branco viveu uma infância feliz e activa em Vila Franca de Xira, uma cidade que então tinha mais vida do que tem actualmente. Jogou hóquei em patins e ele próprio foi utente da ABEI entre os 3 meses e os 10 anos de idade.

Apaixonado pelo humor

Miguel recorda que quando era mais novo “tinha a mania que tinha piada” e o seu emprego de sonho seria na área do humor. “Cresci a ver programas de humor e sempre fui muito influenciado pela boa disposição. Se pudesse gostava de trabalhar numa equipa de criativos”, conta o dirigente. Chegou a pintar o cabelo de cor de laranja e amarelo quando o pai não o deixou meter um brinco na orelha. “Passei por algumas fases de rebeldia mas rapidamente acertei o passo”, recorda com a O MIRANTE com um sorriso.

A começar 2022, Miguel Branco teme um ano semelhante a 2021. “A pandemia não vai desaparecer. Vai ser um ano difícil porque todos estamos a viver uma erosão. Uma coisa foi quando não sabíamos o que ia acontecer, outra é agora sabermos com o que contamos e já sabemos que não vai ser bom”, lamenta. O líder da ABEI, que elege a força de toda a equipa directiva que o acompanha, diz que também o sector social vai ter de estar preparado para dar resposta. “As pessoas estão saturadas das restrições que tiveram um impacto económico violento do qual ainda nem toda a gente conseguiu recuperar”, lamenta.

O que Miguel Branco não consegue lidar é a falta de carácter. “Todos podemos errar. Não fazemos tudo certo e correcto. Mas deve haver sempre o princípio de carácter. Prefiro admitir que não sei ou errei do que enganar quem me rodeia”, defende.

A dificuldade em angariar sócios interessados em ajudar a colectividade é outro problema. “Os associados só aparecem se as coisas não correrem bem. Actualmente temos na maioria das associações duas dezenas de sócios a validar decisões e a passar cheques em branco a direcções que podem nem saber o que estão a fazer. Os sócios precisam de perceber que isto lhes pertence e que quanto maior for a sua presença mais se melhora os serviços prestados”, apela.

Entrevista publicada originalmente a 12-01-2022

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