Organizou protestos e recolheu mais de 1.200 assinaturas de utentes. Diz que a luta nunca termina e confessa-se muito preocupado com o estado actual do Hospital de Vila Franca de Xira.

Perante tantos problemas e dificuldades já vai sendo tempo do Governo nomear uma nova administração para o Hospital de Vila Franca de Xira que possa substituir a actual, liderada por Carlos Andrade Costa. A convicção é de Pedro Gago, 62 anos, fundador da Comissão de Utentes de Saúde da Castanheira do Ribatejo que não duvida que tantas queixas das ordens e sindicatos profissionais no hospital têm razão de ser.
“As coisas não estão a correr nada bem no hospital. Basta ir lá para perceber. Devíamos ter uma nova administração forte, que aguentasse aquilo e tentasse melhorar os serviços dos enfermeiros, médicos e utentes. Uma administração que não sentisse necessidade de esconder as coisas dos utentes, porque mais tarde ou mais cedo tudo vem a saber-se, como foi o caso dos utentes internados na garagem”, critica.
O porta-voz da comissão de utentes, lembra também que é importante que os utentes do hospital e dos restantes serviços de saúde não se acobardem e protestem. “É importante as pessoas reclamarem. Mas não apenas nos cafés, é preciso reclamar por escrito para ficar tudo registado. Custa-me ver pessoas mal atendidas no hospital e nos centros de saúde. Hoje são eles mas amanhã pode calhar a mim”, lamenta, lembrando o caso do utente que em Janeiro confrontou Carlos Andrade Costa e a ministra da Saúde com o que considerava ser o mau atendimento dado pelo hospital a um seu familiar.

“Nunca tive medo do trabalho”
A história profissional de Pedro Gago começou em Lisboa, onde desde pequeno sentiu necessidade de trabalhar e dessa forma ganhar autonomia e ajudar a família. Confessa que nunca teve um emprego de sonho e sempre abraçou todas as oportunidades que lhe apareceram no caminho. “Nunca tive medo do trabalho e sempre fui de arregaçar as mangas e lançar-me para a frente. Queria era trabalhar fosse onde fosse e ganhar um ordenado honesto”, conta a O MIRANTE.
Foi na construção civil que trabalhou mais anos mas também passou pela jardinagem na Câmara de Lisboa, por um armazém de sumos no Carregado, onde fez distribuição, e pela fábrica de tomate de Castanheira do Ribatejo. Pelo meio ainda foi bombeiro em Lisboa e em Castanheira do Ribatejo. Por motivos de saúde teve de se reformar antes da idade por invalidez e hoje é obrigado a tomar 18 comprimidos por dia.
Foi essa necessidade de recorrer aos serviços de saúde que o levou a fundar a comissão de utentes há cerca de cinco anos. Apesar de já não ser o presidente da comissão, a comunidade ainda olha para Pedro Gago como o seu porta-voz, a pessoa a quem muita gente ainda faz chegar queixas do serviço de saúde na freguesia. “Precisar de recorrer aos serviços médicos da freguesia permitiu-me ver de perto os problemas que existiam no centro de saúde, desde dificuldades na marcação de consultas, faltas de médicos e problemas no atendimento telefónico. Senti que faltava união e força, algo que levantasse a atenção para os problemas e não podíamos continuar no sofá. Foi daí que veio a ideia da comissão”, conta.
Pedro Gago diz que os problemas de saúde lhe tiram o sono. Ele próprio não tem médico de família. “Não são as funcionárias nem os médicos os culpados. Este é um problema que vem de cima, dos responsáveis. É uma vergonha mandar os utentes, sem poderem andar, esperar no centro de saúde à porta, ao frio por uma consulta ou atendimento. É desumano”, condena.