Identidade Profissional | 16-08-2022 07:00

Um homem dos sete ofícios que não é capaz de estar parado

Luís do Rosário foi também músico e professor do ensino secundário

Luís do Rosário é um rosto conhecido no concelho de Benavente e já fez de tudo um pouco na vida. Está no executivo da junta de freguesia e diz que não há milagres: sem dinheiro não há obra. Mas espera que em breve a câmara faça a tão esperada casa mortuária.

Aos 63 anos Luís do Rosário é uma pessoa que não suporta estar parada e está sempre a imaginar novas formas de solucionar problemas e dar mais à comunidade que o viu crescer. Já fez de tudo um pouco – lojista, músico de baile, professor, engenheiro mecânico e até autarca – e diz que ainda há-de morrer deixando muito por fazer.
No último ano aceitou um convite da presidente da Junta de Benavente para integrar o executivo e aceitou sem hesitação. “Vejo isto como um trabalho pro-bono. Dedico-me a ajudar esta gente e a minha terra por paixão. Somos uma equipa excelente, levamos o trabalho a peito e damos o que temos e não temos para levar a terra por diante”, confessa a O MIRANTE.
Para o autarca há sempre situações a melhorar em Benavente mas nota que não havendo dinheiro não há milagres. “Não podemos só fazer o que queremos e sonhamos. Muitas vezes há limitações que são difíceis de ultrapassar. Como a tão prometida casa mortuária”, lamenta. Luís do Rosário explica já ter realizado um ante-projecto para construir uma casa mortuária no espaço onde hoje se situa o jardim em frente ao cemitério. Uma solução rápida e barata para o problema.
“Tem espaço suficiente para fazer três salas de velório interligadas com casas de banho e dois gabinetes técnicos com hall de entrada. A ideia é ser entregue a um arquitecto para avançar. A câmara só não terá a casa mortuária feita neste mandato se não tiver vontade política para isso”, considera.
Luís do Rosário foi educado no seio de uma família pobre. O pai era correeiro e a mãe costureira. Apesar das dificuldades diz ter tido uma infância feliz. Por volta dos 14 anos começou a aprender música, primeiro tocando viola e depois integrando vários grupos musicais que tocavam pela região. Mais tarde contactou com a filarmónica de Benavente onde aprendeu pauta e saxofone tenor. Ainda hoje toca na banda de Benavente e é director da associação. “A filarmónica passou um mau bocado com falta de músicos. Quiseram transformar a banda numa academia e as coisas não correram bem. Felizmente houve quem nunca tivesse desistido e mantido a associação de portas abertas. As bandas são os conservatórios do povo onde toda a gente pode aprender música”, conta.

Um músico rebelde e selvagem
Luís do Rosário entrou na Escola Industrial de Benavente e depois no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa. Licenciou-se em engenharia de máquinas. Antes, aos 12 anos, teve o seu primeiro trabalho, na loja de tecidos de Carlos Pedroso em Benavente. “Quando não havia clientes metia-me a desenrolar rolos de fita para depois os enrolar”, recorda. Daí passou para um escritório de uma casa agrícola e para uma loja de ferragens. Aos 16 anos eram os bailes onde tocava que pagavam os estudos. “Eram tempos felizes. Nunca fui músico de pauta, sempre me considerei um músico selvagem. Toco o que me vem à cabeça. Respeito as harmonias e gosto de dar asas à imaginação. Mas ainda hoje a minha briga com os maestros é ter de levar com a pauta”, diz com um sorriso.
Actualmente trabalha na Cabena em Benavente. Pelo meio ainda foi professor de matemática, mecanotecnia e trabalhos oficinais em Benavente, Cartaxo e Salvaterra de Magos. Em 1992 foi convidado para integrar a câmara municipal, à data presidida por António José Ganhão. Aceitou e fez dois mandatos.
“Estava fora da política mas vi o convite como uma chance para poder fazer coisas na minha terra com as quais sonhava quando era miúdo. Foi um período muito estimulante. O meu gabinete era um jipe com ferramentas para acudir aos aflitos. Tinha uma vida de campo e estaleiro e não tanto de gabinete”, conta a O MIRANTE.
Tira-o do sério a incompetência. “Sou temperamental e fervo em pouca água mas passa rápido. Não me considero perfeccionista”, confessa. Nunca teve um trabalho de sonho e diz que há-de de morrer ainda deixando muito por fazer. “Gosto de viver o dia a dia”, conclui.

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