Vergílio Alberto Vieira festeja 50 anos de vida literária e edita autobiografia
Escritor de Amares foi homenageado no dia em que assinalou meio século de vida literária e lançou uma fotobiografia com o titulo de "Meu Teatro de Papel". O auditório da Biblioteca Sá de Miranda tinha centena e meia de pessoas que quiseram associar-se à festa.
A Biblioteca Municipal Sá de Miranda, a família e os amigos de Vergílio Alberto Vieira, reuniram-se em Amares, terra do escritor, para o lançamento da sua fotobiografia e para uma homenagem que juntou cerca de 150 pessoas que encheram o auditório da casa que tem o nome de um dos poetas portugueses quinhentistas que ainda hoje é lido e estudado.
A directora da Biblioteca, Anabela Costa, abriu a sessão para dar a palavra ao presidente da câmara de Amares, Manuel Moreira, que realçou no seu discurso, o cidadão crítico que é Vergílio Alberto Vieira, dizendo que o admira por isso, mas também “por ser um dos grandes da terra, que honra o nome de Amares, e cujo valor e prestígio como escritor também honra a região e o país”. “Venho aqui testemunhar esse saber que te faz um dos grandes da terra, e dar-te um abraço porque mereces”, disse o autarca que, embora não tenha falado da obra ou do livro que mais gosta, quis realçar “o carácter do cidadão crítico e irreverente”.
Anabela Costa, directora da Biblioteca Sá de Miranda, lembrou a seguir que Vergílio Alberto Vieira dedicou a vida à escrita e ao estudo, e que com os seus mais de 100 títulos, dos mais variados géneros literários, em que predomina a literatura infantil e juvenil, enche uma das estantes maiores da sua biblioteca.
Para Anabela Costa “não há dúvida que neste momento Amares tem dois grandes vultos da literatura portuguesa de todos os tempos que é Sá de Miranda e Vergílio Alberto Vieira”.
Sobre a organização da fotobiografia, Sofia Vieira salientou as várias possibilidades estéticas de leitura da obra, bem como a plasticidade e a importância do diálogo intertextual e interartes circunscrito ao dilema intelectual entre a distancia e o envolvimento na conceção e organização documental. Acrescentou que na qualidade guardião dos valores universais de compromisso pedagógico em território intelectual, o escritor encontra no processo de significação da obra e da escrita a centralidade do indispensável à decifração da arte e do mundo.
A vida do escritor muitas vezes é nas catacumbas
J. L. Pires Laranjeira foi o primeiro dos convidados a falar sobre a Obra do autor de "Papéis de fumar”, “Pedra de transe” e “O caminho da serpente”. “A obra do Vergílio representa um trabalho árduo de concisão e de raspagem da palavra até ao limite do sangue; a beleza e a força dos seus textos fazem lembrar um eremita que procura o diálogo com a morte. Quando lemos VAV percebemos melhor que escrever é um trabalho duro, penoso, solitário, mas que escritor e homem se encontram e se comprazem. Sem a escrita VAV seria certamente uma folha em branco. É um autor com mais de uma centena de títulos. Não há muitos escritores em Portugal de quem se possa dizer o mesmo. E os seus livros não têm palavras a mais. Não é Amares que lhe deve uma outra homenagem, é Braga. O escritor nem sempre aparece, mas ele nunca se retirou da circulação. É preciso que se saiba que a vida do escritor muitas vezes é nas catacumbas. E arde durante a noite”. O discurso de improviso de J. L. Pires Laranjeira, de elogio ao poeta e diarista de Amares, não está transcrito na íntegra, mas estas foram as frases e palavras mais significativas que usou para falar do autor de “Meu Teatro de Papel”., nome que VAV deu à sua autobiografia.
VAV é uma personalidade irradiante e uma pessoa de muita singeleza
José Manuel Mendes também esteve presente para falar do companheiro de muitas dezenas de anos de vida literária, afirmando que se sentia “em comunidade”, que na sala “havia um sentimento de pertença a que tinha aderido naturalmente”. Falou do livro “A Margem do Silêncio”, de 1971, que é o primeiro titulo de VAV, e disse recordar-se que logo ali percebeu que a sua voz era única e ia ficar. José Manuel Mendes elogiou ainda o escritor de Amares “por ser um autor com muitas portas abertas na arte de criar, por ser e ter uma personalidade irradiante e ao mesmo tempo ser uma pessoa de muita singeleza”. No final levantou-se da cadeira para lhe dar um abraço não sem antes realçar que a sua amizade pelo escritor “não se explica por palavras”, nem saberia dizer o quanto lhe deve em termos de “companheirismo e de lealdade" ao longo de muitos anos em que conviveram.
Anabela Dias e Sara Reis Silva, a primeira como ilustradora de alguns livros de VAV, e a segunda como leitora e especialista em literatura para a juventude, falaram também do autor e da experiência que foi trabalhar com ele e com a matéria dos seus livros.
Rui Madeira e um jovem actor do Theatro Circo de Braga leram poemas de VAV, e o Quarteto Viana d'Arcus interpretaram A. Piazzolla usando o violino, a viola d`arco e o violoncelo, instrumentos que em muitos casos parecem ouvir-se na leitura dos inspirados poemas de VAV que nos últimos anos reuniu muita da sua poesia em “Novos Trabalhos Novos Danos” e “Todo o Trabalho Toda a Pena”.
O autor, que não se perdeu em palavras no final da homenagem, agradeceu com emoção a presença dos amigos e disse estar grato à sua gente, a quem roubou muitas horas para realizar o seu trabalho “numa espécie de solidão acompanhada que a escrita exige”. Por fim enfatizou o facto de a gratidão ser a virtude que mais valoriza, mas também aquela que mais o fere.
J. L. Pires Laranjeira assinou um texto que fazia parte do programa do programa de lançamento de "Meu Teatro de Papel", a fotobiografia de VAV, que merece ficar aqui a terminar esta crónica que conta apenas uma pequena parte da festa de homenagem a Vergílio Alberto Viera e da sessão de lançamento do autor de “Chão de Víboras”.
Os apuros de linguagem, beleza estética e herança estilística
“Agora que o Vergílio é apresentado por esta fotobiografia, e conhecendo grande parte do que escreveu, relendo certos textos e uma porção significativa da sua poesia, nas duas recolhas fundamentais, durante os dois últimos anos, vejo-me impelido a uma afirmação rotunda e retumbante: nos últimos 50 anos o trabalho do escritor pede meças/confronto com os seus coetâneos, em variedade de textos e apuros de linguagem, beleza estética e herança estilística dos melhores avatares, tanto nativos deste cantinho europeu quanto universais, com notável coerência e aprimoramento” .