Um passo antes da morte: diário de Vergílio Alberto Vieira
Vergílio Alberto Vieira, o autor de "Todo o Trabalho Toda a Pena” e “Novos Trabalhos Novos Danos”, acaba de publicar um volume de um novo diário, que abarca os anos de 2022 e 2023, e a que J. L. Pires Laranjeira chama um livro corajoso.
“Quadros miraculosos são geralmente má pintura. As obras do espírito e da arte não existem para a populaça”. “Nunca conheci homem mais presunçoso do que eu próprio, e o ser eu a dizê-lo mostra que é verdade o que eu digo. Nunca pensei que alguma coisa tivesse que ser alcançada, sempre pensei que já a tinha. Se me tivessem posto uma coroa na cabeça, eu teria pensado que não havia coisa mais natural.” “Há tigres que querem explicar aos veados o prazer de lamber sangue”.
Cito três pequenos textos da obra completa de Goethe, em oito volumes, que me veio parar às mãos numa altura em que também me caiu no colo o novo livro de Vergílio Alberto Vieira, “Um passo antes da morte”, registo diarístico que já conhece outros volumes, que confirma o autor de “Todo o Trabalho Toda a Pena” e “Novos Trabalhos Novos Danos”, como um dos mais influentes escritores do nosso tempo.
Goethe só é para aqui chamado para exaltar a excelência da escrita e da intervenção dos escritores como Vergílio Alberto Vieira, dono de uma Obra poética reconhecida… mas pouco, um poeta que apesar da Obra extensa vive quase na clandestinidade, aparentemente sem se importar muito com isso, a fazer fé na extensa produção que vai saindo da sua pena e chegando ao mercado editorial. Também ele deve continuar a ler Goethe, e certamente que segue alguns dos seus conselhos: “se cai ao chão a pena com que se escreve, deve-se apanhá-la imediatamente. Para que ninguém lhe ponha o pé em cima.”
Vergílio Alberto Vieira viaja em “Um passo antes da morte” por vários caminhos, e em muitos casos pelas veredas dos grandes autores e pensadores que lhe servem de inspiração para contar histórias, refazer mitos do dia a dia, orientar-se na escrita para nos abrir o seu baú de memórias, mas também gravar os instantâneos da sua vida familiar quando se vê as páginas 125 com “paciência de velho”, para logo na página seguinte contar um episódio com o seu neto António, de 12 anos, quando o vê partir para uma viagem em que não sai fisicamente do mesmo lugar.
Pires Laranjeira assina o prefácio deste “livro corajoso“, com 433 páginas, onde se colhe a arte de contar do poeta, dramaturgo e ficcionista, que escreveu mais de uma centena de livros, e que continua a surpreender-nos desde a terra de Amares, contando sobre “Elsa Claro, a viúva sexagenária que se recusa a deixar Aigra Velha, a remota aldeia da Serra da Lousã, tornando-se o único habitante do povoado, a quem basta a criação por companhia”.
Vergílio Alberto Vieira
Um passo antes da morte
Diário 2022-2023
Rosmaninho-Editora de arte
Distribuição VASP