“É preciso explicar bem que os 125 euros são pagos só uma vez, mas o aumento de preços continua”
Presidente do Banco Alimentar não compreende porque é que pessoas com pensões de 4.000 e 4.500 euros também recebem uma ajuda de metade da pensão.
A presidente do Banco Alimentar contra a Fome alertou hoje que o apoio de 125 euros para quem receba até 2.700 euros pode não ser o mais ajustado e propôs pedagogia para ajudar as famílias a gerirem o dinheiro.
Em declarações à agência Lusa, Isabel Jonet começou por referir que perante a situação das famílias que passam mais necessidades, “todas as ajudas são muito bem-vindas” e que o pagamento de 125 euros a todas as pessoas que ganhem mensalmente até 2.700 euros brutos “vem compensar um pouco os acréscimos dos produtos básicos”, como a alimentação, o gás, a luz ou o valor da renda.
Sublinhou, no entanto, que se trata de uma ajuda única, paga apenas no mês de Outubro, quando a perspectiva futura é de que o valor da inflação não diminuía e que, por isso, as famílias continuem a ter necessidades.
Admitiu que é uma medida “muito boa neste momento”, mas demonstrou dúvidas sobre se é ou não a mais adequada em termos estruturais, já que “é um alivio imediato”, e defendeu, por isso que é preciso explicar bem a ajuda serve para compensar o aumento dos preços, mas que não se perspectiva que essa realidade se altere no curto prazo.
Isabel Jonet, que é licenciada em Economia pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, disse que gostaria de ver anunciadas medidas mais estruturais e que espera que o Governo tenha outro tipo de planos e de medidas a adoptar tanto de apoio às famílias como às empresas, lembrando que, em relação a estas últimas, “há trabalho fazer em matéria de empregabilidade e de promoção das pessoas”.
A responsável referiu também não compreender a razão pela qual os pensionistas com pensões “de 4.000 e 4.500 euros também receberem uma ajuda de metade da pensão”.
“Há aqui um desajuste entre a ajuda que é dada aos pensionistas quando às famílias que têm mais encargos e têm filhos não foi dado o equivalente, tendo sido dado 50 euros por cada filho uma vez”, criticou.
Isabel Jonet lembrou, a propósito, que o aumento da inflação não é apenas consequência da guerra na Ucrânia, mas também “de todo o dinheiro que foi injectado na economia durante a pandemia”, sublinhando que “se a guerra acabasse a inflação não descia de um dia para o outro”. Defendeu, por isso, medidas mais estruturais por via fiscal que ajudem a classe média porque esta “vai ser sobrecarregada com impostos”.
Criticou também aquilo que chamou de medidas assistencialistas, que só vêm prolongar a pobreza, apontando que em Portugal “há quase um incentivo às pessoas quererem mais apoios sociais e menos responsabilidade na própria vida”.