Mais de mil homens portugueses já optaram pela esterilização

A vasectomia não interfere na produção de hormonas masculinas nem no desempenho sexual e só há um hospital onde é feita
O Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E) realizou, em duas décadas, mais de 1.000 vasectomias, um procedimento que contraria a ideia culturalmente instituída de que a contracepção é responsabilidade única da mulher, foi hoje divulgado.
“É um bom indicador da qualidade em saúde. Num país onde a contracepção é quase exclusivamente da responsabilidade da mulher, neste momento, já nos sentimos realizados pois conseguimos pôr o homem a assumir a sua responsabilidade e a constituir-se como parte integrante do planeamento familiar”, descreveu o médico urologista Luís Ferraz.
Em declarações à agência Lusa, o clínico do CHVNG/E, responsável pela implementação deste programa em 2000 e que foi director do serviço de urologia deste hospital até ao ano passado, destacou que está a ser oferecida “uma solução que é muito mais simples, mais segura, potencialmente reversível e muito menos dispendiosa”.
Na véspera do dia em que se assinala o Dia Mundial da Vasectomia, uma iniciativa que nasceu nos Estados Unidos em 2013 com o objectivo de alertar a população para a existência desta opção, o CHVNG/E atingiu a milésima vasectomia, sendo que por ano faz entre 80 a 100 destes procedimentos.
A vasectomia torna o homem estéril, mas não interfere na produção de hormonas masculinas nem no desempenho sexual. O corte do canal impede apenas a chegada dos espermatozóides até a uretra. O líquido produzido na próstata e na vesícula seminal continua a ser eliminado normalmente durante a ejaculação.
Descrevendo este marco como “um feito inédito na história da contraceção em Portugal”, o CHVNG/E, em informação disponibilizada à Lusa, aponta que “é agora único hospital do país onde o número destas intervenções é superior ao de laqueações tubáricas” e diz ser “pioneiro na reversão micro cirúrgica, eliminando o obstáculo da irreversibilidade”.
“[O objetivo é] permitir aos utentes maior escolha, colocando a vasectomia como primeira solução para uma contracepção definitiva”, acrescenta.
Em causa está uma solução realizada com anestesia local, o que segundo o CHVNG/E “representa uma acentuada economia de gastos para o Serviço Nacional de Saúde”.
O programa implementado por Luís Ferraz foi crescendo gradualmente, sendo que no arranque a escolha por este procedimento situava-se abaixo de uma dezena anualmente.
“A milésima vasectomia é o resultado de um programa de divulgação bem elaborado, apoiado numa verdade científica inquestionável, sem qualquer investimento financeiro. Depois disto, foi apenas necessária muita persistência, sempre com foco na satisfação dos utentes”, disse Luís Ferraz.