Cereais integrais em falta e carne em excesso afectam anos de vida saudável
Baixo consumo de cereais integrais e de fruta e os elevados consumos de carne vermelha, carne processada e de sal são os factores de risco que mais contribuem para o total de mortes por doenças cardiovasculares, diabetes e doenças renais e neoplasias.
O baixo consumo de cereais integrais e o elevado consumo de carne vermelha e processada são os principais factores que contribuem para a mortalidade e perda de anos de vida saudável em Portugal, segundo dados divulgados pela Direcção-Geral da Saúde (DGS).
“Em 2021, os hábitos alimentares inadequados dos portugueses foram o quinto factor de risco (5,8% do total de DALYs) que mais contribuiu para a perda de anos de vida saudável”, segundo o estudo Global Burden of Disease (GBD) divulgado a 16 de Outubro no Relatório Anual 2024 do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direcção-Geral da Saúde.
Relativamente à mortalidade, os hábitos alimentares inadequados foram o terceiro factor de risco que mais contribuiu para o total de mortes em Portugal em 2021 (8,3%).
Segundo o estudo, os factores de risco que mais contribuem para o total de mortes por doenças cardiovasculares, diabetes e doenças renais e neoplasias são semelhantes aos verificados para a perda de anos de vida saudável, estando o baixo consumo de cereais integrais e de fruta e os elevados consumos de carne vermelha, carne processada e de sal entre os cinco primeiros factores de risco alimentar.
Os dados do GBD mostram ainda que o elevado consumo de bebidas açucaradas (+37,13%), de carne vermelha (+22,53%), de carne processada (+21,59%) e o baixo consumo de hortícolas (+21,51%), foram os factores de risco onde se verificou um maior aumento na perda de anos de vida saudável entre 2000 e 2021.
O relatório da DGS, divulgado no Dia Mundial da Alimentação, que se assinala a 16 de Outubro, destaca também os resultados de um estudo da revista The Lancet em 2024, segundo o qual Portugal teria aproximadamente menos 13% de DALYs do que o esperado em 2050 se fossem eliminados, até essa data, factores de risco. Entre esses factores de risco estão o índice de massa corporal elevado dos adultos, a pressão arterial elevada, o colesterol LDL elevado ou o tabagismo.
Outro estudo da mesma revista (2025) estima que em Portugal, até 2050, a prevalência de excesso de peso aumente 29,2% nas mulheres e 32,5% nos homens e a prevalência de obesidade aumente 52,3% nas mulheres e 77,8% nos homens face a 2021. Relativamente à prevalência de obesidade, o relatório refere que se verificou, entre 1990 e 2021, um aumento percentual de 136,6% nas mulheres e de 214,7% nos homens entre 1990 e 2021. Em 2050, prevê-se que se registe um aumento desta prevalência em 52,3% nas mulheres e em 77,8% nos homens, face a 2021.
O relatório também analisou a evolução da prevalência de excesso de peso e obesidade infantil em crianças em idade escolar (6-9 anos), comparando as rondas 5 (2018-2020) e 6 (2022-2024) do estudo Childhood Obesity Surveillance Initiative (COSI) realizado em 28 países. O estudo verificou um aumento para a maioria dos países da região europeia, incluindo Portugal, onde se registou uma subida da prevalência de excesso de peso nos rapazes (1,0 p.p.) e uma diminuição nas raparigas (-0,7 p.p.) entre as duas rondas.
Relativamente à prevalência de obesidade, observou-se um aumento de 1,1 p.p. nos rapazes e 2,1 p.p. nas raparigas. Contudo, diz a DGS, “as diferenças encontradas, para Portugal, entre as duas rondas não são estatisticamente significativas”.